4.08.2020

Construindo coletivamente o futuro.

To emotiva hoje. Sensível. Me apego a coisas bonitas que me chegam, coisas engraçadas, perguntas triviais de amigas sobre a quantidade de açúcar na receita do bolo. Coisas leves assim. Ainda persisto tomada pela fé de que somos melhores do que quem nos desgoverna. Sigo acreditando que coletivamente podemos transformar o presente e o futuro.
Hoje falei sobre Covid-19 para pessoas sem comida em casa, sem saneamento básico, sem casa segura e sem direito a nada. Estava aflita e cheia de medos. O que falar? Como falar? Como contribuir numa situação tão adversa? Antes que perguntem, falei a essas pessoas através da
Bruna Silva Rodrigues
, já que eles não têm acesso a essas discussões.
Bruna, uma mulher negra, periférica e militante, estava preocupada por que a TV só falava “pros brancos da classe média”. Era a minha preocupação, também.
A resposta para as minhas angustias, obviamente, veio de quem está lá. De quem viveu e ajuda pessoas que ainda vivem esta realidade. Bruna e eu construímos estratégias, pensamos soluções, trouxemos os protocolos técnicos para a realidade dura das comunidades. Ela sempre puxando minha orelha, adequando a minha linguagem metida a besta a uma linguagem que fosse mais acessível. Eu tentando ajustar orientações e entender que ali tudo será feito na medida do possível.
Sabe, meus caros, eu luto por um mundo justo onde nenhum homem, nenhuma mulher precise escolher entre morrer infectado por um vírus ou morrer de fome. Eu acredito na construção de uma nova mentalidade hegemônica. Faço trabalho de formiguinha estimulando pessoas a pensarem fora da caixinha. E, enquanto a gente não supera este modo de produção que oprime pessoas em condições miseráveis enquanto outras ostentam luxo, a gente tenta lavar a mão com a água reservada dentro de uma garrafa de plástico, a gente ensina a ferver água pra jogar na roupa que se usou na rua, a gente inventa máscara pra proteger os trabalhadores que não tem opção de ficar em casa, a gente orienta sobre não levar a mão ao rosto e sobre proteger nossos mais velhos.
Meus irmãos e minhas irmãs, entendam! Não há luta antirracista, não há luta por direitos da população LGBT ou da população indígena, ou das mulheres, não há luta por direitos dos animais que não precise questionar este sistema e o modo de produção que nos esmaga.
Há uma luta que precisa tomar fôlego e força. Há uma luta que precisa ser a luta de todos nós. Pensem nisso. Não há saída, não há reforma, não há remendo que torne este sistema minimamente decente. É preciso superá-lo e torná-lo obsoleto. Precisamos de novas alternativas. E a gente só constrói isso coletivamente.

Ministério da Economia barra recursos da ONU para o Nordeste


 
O Maranhão e o Ceará perderam 45 milhões de dólares em financiamento do Fundo para o Desenvolvimento Agrícola da ONU (Ifad) por falta de aprovação da Comissão de Financiamento Externo do Ministério da Economia (Cofiex). Os estados são governados por partidos de oposição Bolsonaro, o PCdoB e o PT.
Os recursos perdidos seriam utilizados para a instalação de cisternas, apoio a pequenos agricultores, comunidades indígenas e quilombolas. Segundo estimativas, 100 mil famílias deixarão de ser atendidas pelo programa das Nações Unidas.
O Ifad, que tem o objetivo de combater a pobreza e a fome no campo estava disposto a destinar 20 milhões de dólares para o Maranhão governado por Flavio Dino (PCdoB) e 25 milhões de dólares para o Ceará, de Camilo Santana (PT).
De acordo com o diretor do Ifad para o Brasil, Claus Reiner, o ocorrido foi uma grande perda para o país que conta com a atuação desse fundo da ONU em seis projetos iniciados entre os anos de 2013 e 2015 com a previsão de término em 2020.
Segundo Reiner, a possibilidade de extensão dos projetos é prevista e o Ifad conta com um montante de 500 milhões de dólares para iniciativas que acabaram não recebendo a aprovação da Cofiex. Para o Ministério da Economia, a avaliação do Cofiex somente considera aspectos financeiros e técnicos.
O Ceará está fazendo alterações na documentação que embasa seu pleito de financiamento. No estado, a verba da ONU seria utilizada no projeto Paulo Freire, iniciativa já em andamento com o próprio Ifad, que tem o objetivo de reduzir a pobreza e elevar o padrão de vida de agricultores familiares em condições de extrema pobreza em 31 municípios e em 600 comunidades rurais com baixo Índice de Desenvolvimento Humano.
Considerado pela ONU um país de renda média alta, o Brasil, para poder receber verbas do Ifad deve apresentar contrapartidas com o objetivo de mostrar o seu comprometimento com os valores investidos. É aí que entra o aval do Ministério da Economia comandado por Paulo Guedes.
O Ifad existe desde 1978 e já forneceu mais de 18 bilhões de dólares em doações e empréstimos a juros baixos para projetos que beneficiaram cerca de 462 milhões de pessoas no mundo. O fundo é uma instituição financeira internacional e uma agência especializada das Nações Unidas com sede em Roma.