O Ministério da Saúde anunciou nesta sexta-feira (31) que o Brasil
passou a medir a temperatura de passageiros que embarcam de Guiné, Serra
Leoa e Libéria, países da África Ocidental onde há surto de ebola, como
medida para conter a epidemia da doença. Passageiros também receberão
um folheto com informações sobre o sistema de saúde brasileiro e um
questionário, que deverá ser preenchido pelo viajante junto com a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Febre é um dos sintomas da doença, que já fez quase
5 mil mortes
nos oito países afetados pelo surto até 27 de outubro, segundo a
Organização Mundial da Saúde. No total, há registro de 13 mil pessoas
infectadas pela doença.
De acordo com a pasta, até o fim de novembro, todos os aeroportos que
recebem passageiros de países afetados passarão a cumprir a medida.
Segundo o Ministro da Saúde, Arthur Chioro, do começo do ano até a
semana passada, chegaram ao Brasil 529 passageiros de origem nos países
afetados pela doença.
O secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, informou que o
procedimento começou a ser aplicado às 5h desta sexta em dois terminais
do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, que recebe 1 passageiro vindo
dos três países da África Ocidental para cada 40 mil que desembrcam no
terminal. No entanto, nenhum passageiro teve a temperatura aferida nesta
sexta, disse.
Até o final de novembro, os aeroportos internacionais do Galeão (RJ), Fortaleza (CE), Viracopos (SP), Salvador (BA) e
Brasília (DF) passarão a adotar o procedimento, segundo o ministério.
O ministério informou que não a intenção não é restringir viagens, mas
acrescentar "proteção sem causar transtornos aos passageiros”.
Procedimento
Os passageiros que declaram ter chegado de Guiné, Serra Leoa e Libéria
ou que tenham passaporte desses três países serão abordados pela
Vigilância Sanitária. O folheto que receberão apresenta o histórico do
imigrante poderá ser apresentado a unidades do SUS caso haja necessidade
de atendimento.
Segundo Barbosa, a Anvisa foi orientada a informar ao passageiro que o
SUS é gratuito, para assegurar que pessoas com suspeita de ebola busquem
tratamento. “Nos países onde vivem, não existe sistema universal de
saúde como no Brasil. Isso é muito importante para evitar que a pessoa
fique em casa dois ou três dias sem ter segurança de procurar o SUS”,
afirmou.
O secretário também disse que o procedimento da Anvisa irá acabar com
dificuldades de comunicação entre os estrangeiros e as unidades de
saúde. De acordo com Barbosa, por causa da barreira de idioma,
poderia-se confundir “Líbano com Libéria”. “[O folheto] vai permitir que
a unidade imediatamente saiba se é realmente um caso suspeito ou se a
pessoa chegou há três meses, período muito maior do que o de encubação.”
Para o ministro Arthur Chioro, a preocupação do governo com a medida é
“nem tanto com o monitoramento, e sim com a qualificação da informação”
porque o Brasil é um país com “baixíssimo risco de transmissão de
ebola”. Ele disse que houve reunião entre secretários estaduais e
municipais, juntamente com a Polícia Federal e as companhias aéreas,
nesta quinta-feira para definir as medidas tomadas nesta sexta.
“É importantíssimo que todo o trabalho com a participação da Anvisa se
tenha essa informação clara. Nós entendemos que nosso papel é facilitar a
capacidade de diálogo entre as equipes de saúde e os pacientes”, disse o
ministro. Ele informou que a mesma medida será adotada também em
estados que fazem fronteira com outros países e em portos brasileiros
que recebam navios de bandeira da Libéria, Guiné e Serra Leoa.
Ministro da Saúde e secretário de vigilância em entrevista nesta sexta (31) (Foto: Gabriel Luiz/G1)
Reações no mundo
Nesta segunda-feira (27), o governo americano recomendou quarentena
voluntária em casa para pessoas com maior risco de infeccção. Também
determinou que a maioria dos trabalhadores que retornam da África
Ocidental será submetida a acompanhamento diário sem isolamento.
Nesta terça (28), a Austrália passou a negar vistos para pessoas vindas
da Serra Leoa, Guiné e Libéria, na África Ocidental — países onde há
surto de ebola. A medida australiana em fechar as portas para a região
gerou críticas por especialistas em saúde. A Austrália não registrou
nenhum caso de contaminação, apesar de apontar uma série de casos
suspeitos.
O ministro Arthur Chioro criticou a atitude da Austrália e disse que
barrar viajantes da África Ocidental é uma medida que o governo
brasileiro não adotará por não haver nenhuma recomendação por parte da
Organização Mundial de Saúde (OMS). “Quem hoje compreende o mecanismo de
transmissão da doença não pode concordar com uma medida dessa
natureza”, afirmou.
Libéria
A OMS confirmou nesta quarta-feira (29) a diminuição de casos de ebola
na Libéria, um dos países mais afetados pela epidemia, embora tenha
advertido que ainda é cedo para comemorar. No dia anterior, a Cruz
Vermelha do país havia constatado queda no número de mortos pelo ebola
na região desde o começo de outubro.
Transmissão
O ebola é uma doença infecciosa grave provocada por um vírus. Os
sintomas iniciais são febre de início repentino, fraqueza intensa, dores
musculares, dor de cabeça e dor de garganta.
Depois vêm vômitos, diarreia e sangramentos internos e externos. Ela é
transmitida pelo contato direto com os fluidos corporais da pessoa
infectada: sangue, suor, saliva, lágrimas, urina, fezes, vômito, muco e
sêmen. Não há risco de contaminação pelo ar.
Suspeitas nacionais
O Brasil registrou três suspeitas da doença. Um
guineano deu entrada em uma UPA de
Cascavel, no interior do Paraná, no dia 9 deste mês relatando febre.
Seguindo o protocolo da Organização Mundial de Saúde, o homem fez dois
testes –
os dois deram negativo.
Depois, um jovem de 22 anos deu entrada em uma UPA de Foz do Iguaçu,
também no Paraná, no dia 16, relatando sintomas da doença. O prédio foi
temporariamente fechado, e o
paciente, isolado.
Quando a secretaria constatou que ele havia viajado para China, Dubai,
Líbano e Itália – nenhuma dessas localidades foi afetada pela epidemia
do vírus –, a suspeita foi descartada. Ele tinha hepatite A.
O terceiro caso suspeito
ocorreu em Brasília,
no dia 23 de outubro. Um comissário de bordo panamenho foi internado em
um hospital particular da Asa Sul com febre e náuseas. A unidade de
saúde também chegou a ser isolada, mas a Secretaria de Saúde descartou o
caso porque exames comprovaram que ele tinha uma infecção intestinal e
não esteve nos países com surto da doença.
Até o momento,
oito casos de ebola foram tratados nos Estados Unidos. Duas enfermeiras, que contraíram a infecção em território americano,
são monitoradas.
Na Europa, ao menos nove pacientes receberam tratamento. Um deles, a
enfermeira espanhola Teresa Romero, foi infectada em Madri, enquanto os
demais casos foram importados.
Kit contra ebola
A Secretaria de Saúde do
Distrito Federal
anunciou que vai comprar, com dispensa de licitação, 2,3 mil kits para
atender pacientes com ebola na capital federal. Eles ficarão disponíveis
no Hospital Regional da Asa Norte, referência para doenças do tipo na
capital do país.
Cada kit tem protetor facial com viseira flexível, óculos de proteção,
botas de PVC, macacão impermeável, avental de napa e saco vermelho para
coleta de resíduo hospitalar. Os valores, de acordo com a pasta, ainda
estão sendo pesquisados.
Embora o Brasil não tenha registrado casos confirmados e o país não
tenha voos diretos para as regiões de maior incidência da doença, a
Secretaria de Saúde disse em nota acreditar que a "ausência dos itens
deste objeto [o edital] acarretará enorme prejuízo no atendimento ao
usuário do sistema de saúde, na segurança dos profissionais e inclusive
com risco de morte de usuários e profissionais".
Linhas
mostram projeção do deslocamento populacional na Libéria, país mais
afetado pelo ebola nesta epidemia (Foto: Flowminder.org/Divulgação)
Celular
Telefones celulares podem ser usados como uma
ferramenta para abastecer autoridades e organizações humanitárias sobre o deslocamento de pessoas em áreas afetadas pela doença.
Quando alguém faz uma ligação ou manda uma mensagem com o celular, o
aparelho envia sinais à torre de celular mais próxima. Dessa forma, é
possível determinar a localização aproximada do usuário.
Caso as operadoras de celular concordem em fornecer os dados aos
pesquisadores, é possível criar um “raio X” da movimentação populacional
na região e traçar estratégias mais eficazes de combate à doença.
Números da epidemia
Desde março, foram registrados casos de ebola em oito países. Dois
desses países, Nigéria e Senegal, já estão livres da doença. Veja,
abaixo, detalhes dos locais com casos de ebola:
Guiné: Foram 1.906 casos - entre confirmados, prováveis e suspeitos - e 997 mortes provocadas pelo ebola.
Libéria: Foram 6.535 casos - entre confirmados, prováveis e suspeitos - dos quais 2.413 levaram a mortes.
Serra Leoa: Foram 5.235 casos - entre confirmados, provaveis e suspeitos - e 1.500 mortes pela doença.
Espanha: Houve um caso da doença e a paciente se recuperou.
Estados Unidos: Foram quatro casos diagnosticados no país: um paciente morreu.
Nigéria: Foram 20 casos de ebola - entre confirmados e prováveis - que levaram a 8 mortes. O país já está livre da doença.
Senegal: Houve apenas um caso da doença e o paciente se recuperou. O país já está livre da doença.
Mali: Foi constatado um caso de contaminação, uma criança, que morreu vítima da doença.