Quando o suor ocorre de forma excessiva, causando incômodo, pode ser que a pessoa tenha uma disfunção chamada hiperidrose.
O suor é uma substância composta por água e pequenas quantidades de sais minerais e tem a função de ajudar à regular a temperatura corporal. O problema é quando essa atividade ocorre de forma excessiva, causando incômodo ao indivíduo. Neste caso, a transpiração pode ser considerada uma disfunção chamada hiperidrose. “Na maior parte, a doença atinge as mãos, axilas, pés, mas também pode se manifestar na face, couro cabeludo e outras áreas do corpo. Independente da temperatura - calor ou frio – o suor da pessoa que tem hiperidrose é excessivo”, afirma a dermatologista Juliana Gumieiro.
A doença pode ser caracterizada de duas formas: primária quando não tem uma causa definida ou secundária quando ocorre em consequência de outras patologias. “Estima-se que a doença acomete aproximadamente 5% das crianças. Por exemplo, quando a criança fica muito ansiosa as glândulas sudoríparas fazem uma produção excessiva, ocorrendo o suor. Já na fase adulta, a transpiração excessiva pode ter diferentes causas, como stress, alergias e outras doenças”, afirma a dermatologista.
Tratamento
A dermatologista diz que a orientação é buscar um médico para diagnóstico e tratamento da doença. “Existem hoje formas de tratamento menos agressivas do que a cirurgia, como a aplicação de toxina botulinica (botox). O botox inibe a ação das glândulas sudoríparas e dura aproximadamente 1 ano. A vantagem com relação a cirurgia é que não produz a hipridrose compensatória, onde o corpo para de suar no lugar e começa a suar em outro, como as costas por exemplo. Outras práticas para tratar o problema têm efeito temporário como o uso de clínicos, tópicos e medicações orais”, explicou.
Transpirar em excesso é doença.
Seu nome: hiper-hidrose.
Seu tratamento: cirurgia
Anna Paula Buchalla
Fotos Ricardo Benichio | "Aos 3 anos, eu já suava nas mãos. Estraguei mais de um telefone celular por causa das mãos, que viviam molhadas. Para enxugá-las a todo momento, andava com a bolsa cheia de lenços. Até fiquei conhecida como 'Sarita dos lencinhos'. Ao final do dia, eles estavam invariavelmente ensopados. Durante o estágio de nutrição na faculdade, sentia que algumas pessoas ficavam incomodadas quando eu as tocava. Também era complicado manipular alimentos. Cheguei a procurar ajuda psicológica. Não resolveu. O que funcionou foi a operação. Sinto-me outra pessoa." Sarita Marques Valentim, 21 anos |
As implicações da hiper-hidrose muitas vezes extrapolam o aspecto moral. Técnicos em eletrônica que padecem desse distúrbio volta e meia tomam choques ao manipular equipamentos. Motivo: o suor que cai sobre os aparelhos. Usuários de computador que sofrem da doença são obrigados a trocar os teclados de suas máquinas a cada dois ou três meses – o pingar constante do "humor aquoso incolor", segundo a definição do dicionário, os estraga. Pior ainda era o sufoco dos clientes de um dentista de São Paulo. A boca aberta e a gota escorrendo pela testa do doutor... A estudante de nutrição Sarita Marques Valentim, de 21 anos, conhece bem a repugnância que um doente de hiper-hidrose causa nos outros. Quando ela tinha de mexer em alimentos ou tocar em pacientes, deparava com o olhar de nojo provocado pela umidade de suas mãos. Há um mês, Sarita submeteu-se a uma cirurgia para acabar com o suadouro excessivo.
Costas e barriga – A operação é, sem dúvida, o mais eficiente tratamento contra o mal. A técnica foi introduzida no Brasil pelos médicos José Ribas Milanez de Campos, integrante do grupo de cirurgia torácica do Hospital das Clínicas de São Paulo, e Paulo Kauffman, professor de cirurgia vascular da Universidade de São Paulo. O procedimento é simples, ainda que o paciente tenha de receber anestesia geral. Dois pequenos cortes abrem caminho para que cânulas – uma delas dotada de uma microcâmara – localizem e retirem ou cauterizem os gânglios que estimulam o suor nas mãos e nas axilas (veja quadro). "Graças à tecnologia, esse tipo de operação é, hoje, menos invasivo e arriscado", afirma o doutor Ribas. Quando não contavam com esse aparato, os médicos tinham de tomar cuidado para não lesar certos nervos, como o responsável pelos movimentos das pálpebras. Se algo desse errado, o paciente deixava de transpirar, mas ficava com um olho mais fechado que o outro.
A hiper-hidrose é daquelas doenças que se auto-alimentam. Diante da perspectiva de suar baldes, o doente se aflige e acaba transpirando em dobro. "Suava só de pensar em enfrentar uma reunião e, consequentemente, o nervoso piorava ainda mais o meu tormento", conta o empresário paulista Élcio Burguese, de 41 anos, que fez a cirurgia. O maior inconveniente da operação: em 30% dos casos, o paciente passa a suar com mais frequência nas costas e na barriga. É a maneira que alguns organismos encontram para compensar a falta de transpiração nas axilas e nas mãos. "Esse tipo de suor, no entanto, é menos intenso e socialmente mais tolerável", diz Kauffman. Depende do tamanho da barriga, é claro.
"Por
volta dos 20 anos, comecei a suar excessivamente nas mãos
e nas axilas. Tentei de tudo para controlar o problema: de
consultas com dermatologistas a tratamentos alternativos.
Nada adiantou. Minha vida social era terrível. Passei
a usar apenas camisas brancas para disfarçar o suor.
Só dirigia com uma toalha ao lado, para enxugar as
mãos. Podia estar um calor danado -- se tivesse de
sair, sempre usava uma malha para esconder as marcas do suor.
Transpirava só de pensar em
enfrentar uma reunião em uma sala fechada. E o
nervoso fazia aumentar o meu problema. O que mais me marcou
depois da cirurgia foi que pude voltar a usar
camisas coloridas."
Élcio Burguese, 41 anos |
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