Chegar em casa depois de um dia
estressante e ter vontade de devorar um pacote de biscoitos ou uma caixa
de bombons: quem nunca teve esse desejo? Afogar as mágoas na comida
pode ser um alívio momentâneo, mas transformar a gula em hábito pode
gerar diversos danos à saúde física e psicológica do indivíduo.
De acordo com o psicólogo Rogério Alonso, comer compulsivamente pode ter
diversas causas, mas a principal é o descontentamento entre a pessoa
com o mundo que a cerca e com ela mesma. “A estrutura da personalidade
de cada um influencia no modo em que ela irá lidar com a pressão
cotidiana. Pessoas que não têm muita tolerância acabam precisando da
ajuda da comida”, explica.
A ansiedade que leva muitas pessoas a comer frequentemente está ligada a
sentimentos de culpa, baixa autoestima, vergonha, insatisfação,
frustração e remorso. “A comida funciona como uma espécie de ‘muleta’ ou
‘válvula de escape’ para superar essas sensações desprazerosa”, conta o
psicólogo.
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Além disso, pessoas compulsivas não conseguirão afogar suas mágoas em
alimentos saudáveis, mas sim nas comidas com açúcar, gordura e
carboidratos. “A gordura vem do chocolate, o açúcar dos doces e
refrigerantes e o carboidrato dos biscoitos e bolachas. Não são
alimentos fundamentais para sobreviver”, complementa Rogério.
Isso ocorre porque quando esses produtos são digeridos, liberam um
hormônio neurotransmissor chamado serotonina, responsável pela sensação
de bem-estar. “É como enganar o cérebro. A pessoa tem a sensação de
felicidade sem se sentir feliz”, explica o profissional.
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Compulsivos buscam conforto em alimentos ricos em açúcar, gordura e carboidratos. |
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Sintomas - Segundo o psicólogo, um dos principais sinais de que o
hábito está se tornando uma doença é o aumento expressivo do peso e a
incapacidade de reversão do quadro. “Quando a pessoa nota que as roupas
não cabem mais e todos os indivíduos que convivem com ela notam que a
barriga está começando a protuberar, há algo errado”, enumera.
A próxima etapa é a tentativa de realizar diversas dietas e entrar em
uma luta constante com a balança, porém essa tarefa se torna árdua uma
vez que o corpo carrega os quilinhos a mais. “Não há confiança o
suficiente e, mesmo sentindo que está tentando emagrecer, não existe
resultado. Por conta disso, a frustração aparece e aumenta ainda mais a
ansiedade do doente, levando-o a comer novamente”, exemplifica Rogério.
Por último, uma visita ao médico pode mostrar mudanças drásticas no
resultado dos exames. Aumento da pressão arterial, diabetes e colesterol
são sinais de que a saúde começa a ruir.
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Doenças que se misturam - Em alguns poucos casos, os compulsivos
também podem desenvolver a bulimia, ato de provocar o vômito depois de
ingerir alimentos em excesso. “Uma parte da doença é parecida, mas se o
alimento não sofre digestão, ele não libera seratonina. Então, os
compulsivos precisam dessa sensação de bem estar, enquanto o bulímico
não consegue suportar a sensação do alimento no seu organismo”, explica o
psicólogo.
Tratamento - Rogério Alonso afirma que é possível que um
indivíduo perceba que possui o transtorno e conseguir se curar sozinho,
mas as chances são pequenas e normalmente ocorrem no início da doença.
“Perceber que a quantidade e a qualidade dos alimentos não está correta é
o primeiro passo para a cura”.
Caso contrário, existe a necessidade do acompanhamento de quatro
profissionais: psicólogo, psiquiatra, nutricionista e endocrinologista.
“O psiquiatra entrará com a medicação para controlar a ansiedade e
depressão, o psicólogo designa estratégias para mudanças alimentares e
fortalecimento da auto-estima, o nutricionista irá prescrever o tipo de
alimentação que esta pessoa deve seguir e o endocrinologista irá
fornecer medicamentos que irão ajudar na diminuição do apetite e até
regular distúrbios hormonais que podem ter sido alterados com a
compulsão”, conclui.