ABERTA A TEMPORADA DE RESFRIADOS E ALERGIAS
25/05/2008
O outono na capital é marcado pela queda de temperatura e de umidade, o que contribui para a proliferação de ácaros e vírus. Idosos, crianças e alérgicos estão entre os mais atingidos. Pare um minuto e tente lembrar quantas reclamações sobre coriza, nariz entupido e mal-estar você ouviu nos últimos dias. Se perder as contas, não fique preocupado: a onda de crises alérgicas, gripes e resfriados veio com as quedas de temperatura e umidade típicas do outono brasiliense. O fim da estação castiga principalmente dois grupos: os 25% da população que sofrem de alergias respiratórias e os asmáticos, que correspondem a aproximadamente 13% dos moradores do DF. A temperatura em Brasília caiu a 10,3ºC na madrugada do dia 8 e a previsão é de que o inverno seja rigoroso, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). As chuvas já se despediram e só devem voltar em setembro ou outubro. Enquanto a água não chega, o professor de yoga Paulo Eduardo de Almeida Lima, 21 anos, sabe que terá que lidar com crises constantes de rinite. Ele tem ataques de espirros quando se aproxima de poeira e sente dificuldade para respirar. "O ar seco machuca o nariz, que sangra quando o tempo fica muito ruim. Sinto falta de ar à noite, tenho que dormir com umidificador ou bacia de água no quarto", afirmou. O professor convive com os sintomas da doença desde criança, quando também sofria com a asma. "Até os 16 anos, tinha chiado no peito e fazia nebulização para melhorar a falta de ar. Cheguei a ser internado no hospital depois de uma crise", lembrou. Na infância, o problema era resolvido de uma maneira inusitada: a mãe de Paulo deixava um jabuti dentro de casa, por acreditar que ele sugava os males de saúde. Depois de adulto, o professor recorreu à ioga para trabalhar a respiração e hoje não usa remédios para controlar as doenças. "Mas todo ano é a mesma coisa quando chega esta época, só melhora com as chuvas", comentou. HIPERSENSIBILIDADE - A relação entre clima e reações alérgicas é indireta, de acordo com o presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia no DF, o médico Dennis Rabelo Burns. "No inverno, as pessoas ficam mais tempo em casa, entram em contato com ácaros e estão mais expostas a alergias respiratórias", explicou. Além disso, no outono ocorre maior proliferação de vírus causadores de doenças do sistema respiratório - esse fato é verificado no mundo todo. Por isso, aumenta a incidência de resfriados, gripes e pneumonias, que podem desencadear crises alérgicas em pacientes atópicos. Funciona assim: o organismo de uma pessoa alérgica é hiperresponsivo, ou seja, tem reações mais sérias do que um corpo saudável quando exposto a um material agressivo, como poeira, ácaros, mofo ou cigarro, por exemplo. Sob as mesmas condições, é provável que a pessoa com rinite espirre mais que as outras, que o nariz fique mais entupido, etc. "Nas pessoas alérgicas, os sintomas são exacerbados. A resposta imunológica do corpo será longa, o que deixa o organismo mais suscetível a crises. Isso é a hipersensibilidade", concluiu Burns. Ao lado das mudanças climáticas e dos vírus, os ácaros despertam crises de rinite e asma. Entre 96% e 98% das alergias respiratórias são causadas por esses aracnídeos microscópicos - as outras são desencadeadas por mofo e pólen. Os ácaros vivem em ambientes escuros, fechados e aquecidos, e se alimentam de células que descamam da pele. Eles encontram nos colchões e nos casacos guardados por muito tempo em armários a moradia ideal. "O calor do sol já destrói boa parte deles. É fundamental evitar o contato com os insetos usando capa no colchão e aspirando a poeira da casa", disse o alergista. Seca é sinônimo de nebulização e bacia de água no quarto para a promotora de vendas Simone Mariana de Oliveira, 30 anos. Ela sofre de asma e rinite, doenças crônicas diagnosticadas quando ela ainda era um bebê. "Sempre usei bombinha para asma quando tive falta de ar. Nos últimos dias, estou fazendo três nebulizações por noite para conseguir dormir. Às vezes sonho com a crise e acordo sem ar", revelou. Este ano, Simone começou a sentir a mudança de temperatura no fim de abril, quando foi internada por conta da asma. "A seca influencia, mas o frio é pior. Se faço qualquer movimento, já canso e tenho que parar", disse. COCEIRA E INFLAMAÇÃO - O ar seco e frio que agride o sistema respiratório também afeta outras partes do corpo que ficam em contato direto com o exterior. Mucosas, olhos, ouvidos e pele sofrem com o ressecamento provocado pela baixa umidade. O resultado disso pode ser coceira excessiva e inflamações, como conjuntivite, otite e dermatite. A pele é uma das primeiras a sentir a chegada da estiagem. Quando mal hidratada, fica esbranquiçada e coça. "Ela sente bastante, primeiro porque a pessoa bebe menos água e o organismo dá prioridade a órgãos vitais, com coração e pulmão. E o ambiente seco também remove água da pele", explicou o médico Gilvan Alves, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia no Distrito Federal. Segundo ele, outro fator negativo do inverno são os banhos quentes e demorados, que removem a camada de gordura da pele. "Ela coça mais e a barreira natural de prevenção contra infecções é rompida. Isso pode resultar em pele vermelha, inflamada e quebradiça", relatou o dermatologista. Quem toma remédio contra acne, tem psoríase ou dermatite atópica - doença crônica que geralmente se manifesta em quem tem outras alergias, como rinite e asma -, costuma sofrer ainda mais nesta época. "A primeira providência é beber pelo menos dois litros de água por dia e reduzir o número de banhos, que devem ser tomados com água fria, sabonete hidratante e sem bucha. Não é bom usar óleos nem loção, dê preferência aos cremes", recomendou Gilvan Alves. CUIDADOS COM A CASA - É só a temperatura começar a cair para dispararem as crises alérgicas em bebês e crianças. Nariz escorrendo, chiado no peito e espirros são alguns dos sintomas apresentados, nesta época do ano, por meninos e meninas que sofrem de asma e rinite. Quanto mais nova a criança, mais imaturo é o sistema imunológico - responsável pela defesa do organismo. A vendedora Elaine Pereira da Silva, 23 anos, já sabe que a queda nos termômetros indica o início de uma peregrinação por hospitais. No frio, ela leva o filho Erik Víctor Pereira, 5, para fazer nebulização no hospital pelo menos duas vezes por mês. O garoto sofre de bronquite desde quando tinha um ano de idade. "Ele tinha falta de ar e o peito chiava. Até hoje, é só o clima mudar que ele fica assim", disse Elaine, que já equipou o quarto de Erik com umidificador. De acordo com o chefe da pediatria do Hospital Regional da Asa Sul (Hras), Filipe Lacerda, o atendimento de emergência serve para contornar crises, mas não se pode abandonar o acompanhamento médico preventivo. "A rinite e a asma são doenças crônicas, precisam de tratamento ininterrupto. Se não for controlada, a asma pode até levar a óbito por insuficiência respiratória", alertou. Lacerda indica os cuidados com o lar como um dos principais tratamentos contra asma e rinite em crianças: passar pano úmido em casa (evitando a vassoura, que levanta poeira), usar capas protetoras nos colchões, evitar lãs e deixar que o sol entre nos cômodos diariamente. "A criança deve se manter hidratada. Para bebês até seis meses, basta o aleitamento materno", comentou. (ET). POEIRA E FULIGEM NO AR - Mesmo quem não carrega nas células o peso da herança genética que determina a ocorrência de rinite ou asma sofre com o ar seco e frio. "Nesta época do ano, o ar está mais agressivo para as vias aéreas. Elas ressecam desde o nariz até o pulmão", explicou a otorrinolaringologista Maria Cristina Cury. Com a estiagem, o ar concentra maior quantidade de partículas em suspensão, como poeira, fuligem, detritos e vírus. A chuva tem o papel de filtrar o ar, empurrando para o chão as partículas pesadas. Quando não chove, esse material circula livremente pela atmosfera. Os vírus entram em contato com sistemas respiratórios já vulneráveis e provocam tosse, secreção, dores musculares, febre e outros sintomas comuns da gripe. A doença costuma ser confundida com resfriados e crises alérgicas. Rinite e asma são problemas crônicos e não têm cura: as pessoas nascem com elas. "O paciente com rinite apresenta uma piora do quadro normal dele, mas geralmente isso não vem acompanhado de febre e ele melhora com antialérgicos específicos", disse o alergista e imunologista Fabrício Prado Monteiro. DORES MUSCULARES - O resfriado não costuma causar febre acima de 38,5ºC e dores musculares muito intensas. Ele dura cerca de três ou quatro dias. A gripe dura de sete a 10 dias, provoca febre prolongada acima dos 39ºC e que volta pouco tempo depois de ser controlada com antitérmicos. "Ela te derruba, deixa de cama, febril, enjoado e sem fome. Mas é difícil diferenciar", comentou Monteiro. Não há como escapar dos vírus, mas há formas de proteger o organismo contra os sintomas da gripe e do resfriado. "É fundamental tomar água. Também aconselho que os pacientes pinguem soro fisiológico no nariz para evitar o ressecamento da mucosa", lembrou Maria Cristina. O soro ajuda a expelir as secreções, cujo acúmulo pode atrair bactérias que causam infecções. A vacina contra a gripe é recomendável para quem tem mais de 65 anos e pessoas com fatores de risco (quem trabalha em ambientes refrigerados, por exemplo). Neste ano, 97,1% dos idosos do DF foram imunizados. "Os idosos e as crianças são mais vulneráveis, mas todas as faixas etárias sofrem mais nesta época do ano porque, na nossa região, começa a seca. A umidade é mais determinante que a temperatura, já que o frio você consegue contornar", detalhou a otorrinolaringologista. Mas o frio estimula a reunião de pessoas em lugares fechados, facilitando a movimentação dos vírus entre organismos. "Quando a temperatura baixa, há mais aglomeração de pessoas. Se apenas uma delas estiver infectada, as outras podem ser contaminadas", afirmou Fabrício Monteiro. Se o vírus se manifestar, vale a pena procurar um médico: remédios caseiros e automedicação são perigosos. (ET). ARTIGO - Principais problemas - Manter uma alimentação saudável e equilibrada é uma medida que fortalece o organismo contra as infecções. -Por Carlos Gropen* - A temporada mais fria do ano traz consigo um aumento considerável do número de doenças respiratórias, principalmente em indivíduos predispostos. São mais freqüentes as alergias do sistema respiratório, como a rinite e a asma, além de infecções respiratórias diversas. Crianças menores e idosos são os grupos etários que necessitam de mais cuidados, uma vez que há maior possibilidade de complicações graves advindas de problemas relativamente simples. Os problemas mais prevalentes são os seguintes: Rinite alérgica: inflamação da parte interna do nariz, onde desembocam canalículos que se comunicam com os seios da face. A obstrução desses trajetos pode levar à chamada sinusite (sinus-seios, ite-inflamação). Nos quadros de sinusite, há proliferação bacteriana dentro dos seios nasais com acúmulo de líquido. Tipicamente ocorre tosse durante a noite ou quando o indivíduo se deita, uma vez que esse líquido escorre pela porção posterior do nariz e irrita os brônquios. Asma: doença caracterizada pela inflamação crônica das vias aéreas, levando a uma obstrução prolongada - estreitamento - das vias que levam o ar aos pulmões causando dificuldade respiratória. Os sintomas mais freqüentes são a falta de ar e os sibilos - sons resultantes da passagem do ar pelos brônquios que, por se encontrarem estreitados pela doença, funcionam como um apito. Infecções respiratórias: nesta época do ano, a transmissão dos agentes causadores de certas infecções respiratórias é maior, o que justifica a ocorrência de mais pessoas acometidas por resfriados, gripes, infecções de garganta, entre outros. Manter uma alimentação saudável e equilibrada com ingestão de quantidades suficientes de líquidos é uma medida que fortalece o nosso organismo contra as infecções de um modo geral. Evitar aglomerações pode diminuir as chances de transmissão dos agentes virais. A manutenção do controle clínico das doenças preexistentes por meio de visitas regulares ao médico pode evitar que as doenças do inverno gerem complicações graves, principalmente em idosos. Procurar um serviço de saúde é essencial para avaliar a gravidade e definir qual é o melhor tratamento, mesmo que seja somente ingestão de líquidos e repouso. *Carlos Gropen é médico e consultor de saúde do Correio. - Elisa Tecles, da equipe do Correio -
Fonte: Correio Braziliense
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