Estudantes e professores do Instituto de Letras da Universidade
de Brasília (IL/UnB) realizaram na tarde desta sexta-feira (30) o
debate 'Tomando partido: escola para todos, com pensamento crítico',
organizado com o objetivo de discutir as propostas para a área da
educação pretendidas pelo governo Temer. Da UnB, estiveram presentes os
professores Luis Felipe Miguel, do Instituto de Ciência Política e
Olgamir Amância, do Departamento de Educação da UnB Planaltina. Também
esteve presente Gilberto Amaral, professor da Secretaria de Educação do
DF. A mediação ficou a cargo da professora Rosilene Silva da Costa.
Partindo da premissa de que o Brasil foi vítima de mais um golpe de Estado, os debates giraram em torno das mudanças curriculares anunciadas recentemente pelo Ministério da Educação. O projeto de lei conhecido como 'Escola sem partido', que visa criminalizar o pensamento crítico nas salas de aula, também foi objeto de discussões. Em comum, a percepção de que tanto as mudanças curriculares bem como a proibição do exercício da crítica constituem graves retrocessos, podendo piorar a já combalida educação pública oferecida no país.
A conclusão não poderia ser outra: o projeto 'Escola sem Partido' e a alteração curricular pretendem, na verdade, a escola de um partido só: o da ideologia neoliberal. Querem a criação de um ambiente social em que a crítica e o debate sejam suprimidos em detrimento de uma educação exclusivamente voltada para o mercado, com predominância do ensino técnico e abandono de disciplinas voltadas à reflexão, como artes, filosofia e sociologia. Além de uma grave ameaça ao futuro de nossos estudantes, é também uma ameaça a nossa condição humana, na medida em que tole a crítica e o pensamento nas salas de aula.
Olgamir Amância, professora do Departamento de Educação da UnB, foi direta: “o grande inimigo daqueles que pretendem uma 'escola sem partido' é Paulo Freire, que pregava uma educação libertadora e crítica”, citando o pedagogo que virou alvo da histeria de uma parte da sociedade brasileira. Em sua obra, Paulo Freire concebeu um modelo educacional inovador, voltado para a formação humana dos estudantes e não a mera apresentação de conteúdos. A ideia era formar seres mais críticos e conscientes de sua posição na sociedade, desenvolvendo não apenas a si mesmo, mas toda a coletividade na qual estivesse inserido.
O pavor de uma 'doutrinação marxista' está na gênese do projeto Escola sem Partido, na opinião do professor Luís Felipe Miguel, do Instituto de Ciência Política da UnB. “Na verdade, é um projeto para fomentar a ideologia neoliberal, produzindo seres humanos acríticos voltados unicamente para servir ao mercado”, afirmou. Para ele, todo indivíduo é capaz de ler criticamente os valores herdados da família, da Igreja, da sociedade. E a escola sem partido vem justamente para acabar com essa capacidade. “O Brasil é recordista em assassinato de mulheres e de gays e ainda assim não querem que gênero seja discutido nas escolas”, exemplifica.
As incongruências no texto legal e no discurso dos apoiadores do projeto 'Escola sem Partido' foi apontada por Gilberto Amaral, professor de Sociologia da rede pública de ensino do Distrito Federal. “A escolha da Língua Inglesa como idioma estrangeiro é uma escolha ideológica. Por que não a Língua Espanhola? E o Mercosul?”, provocou. Gilberto também falou sobre a intimidação a que os professores estão sujeitos. Mesmo sendo apenas um projeto, a intimidação de professores já começou. Gilberto citou, inclusive, episódios em que estudantes contestaram os conteúdos ensinados em sala de aula usando a Bíblia. “Seres acríticos e sem noção das suas potencialidades caem perfeitamente na visão de mundo do mercado e das igrejas caça-níqueis”, lamentou.
Discurso ideológico disfarçado de lei
O projeto 'Escola sem Partido' prega uma educação liberta de ideologias, restrita à transmissão de conhecimentos e conteúdos que serão utilizados na vida adulta dos estudantes. No mesmo sentido vai a reforma curricular do ensino médio, que parte do princípio de que uma pessoa de 14 anos está completamente ciente do que quer para o resto de sua vida, podendo abrir mão de disciplinas que não irão 'contribuir' para a sua formação. Artes, filosofia e educação física estão entre essas disciplinas. Entretanto, o quanto de ciência e o quanto de ideologia existem nessa decisão?
Uma das maiores críticas às iniciativas propostas para a educação é justamente a falta de diálogo com a comunidade docente e discente, as grandes impactadas pela decisão. A reforma curricular do ensino médio veio 'de cima pra baixo', sem escutar as demandas de professores e estudantes. O projeto 'Escola sem Partido' é a tentativa de cercear o pensamento crítico nas salas de aula, transformando alunos e alunas em simples receptores de conteúdo para serem utilizados em suas atividades profissionais, sem levar em conta outras aptidões que as pessoas possam ter.
A 'Escola sem Partido' é uma escola de partido único, uma escola que não consegue conviver com a diversidade, com a pluralidade de ideias. Nas palavras do professor Luís Felipe, o projeto pontifica que “as crianças não são sujeitos de direitos, são propriedades da família, onde impera o estado de exceção”, citando o odioso slogan 'meus filhos, minhas regras', uma infeliz paráfrase do mote feminista 'meu corpo, minhas regras'. O próprio uso de expressões ligadas a movimentos de lutas por direitos mostra a carga ideológica a qual o projeto está submetido, em flagrante conflito com o objetivo a que se propõe.
Partindo da premissa de que o Brasil foi vítima de mais um golpe de Estado, os debates giraram em torno das mudanças curriculares anunciadas recentemente pelo Ministério da Educação. O projeto de lei conhecido como 'Escola sem partido', que visa criminalizar o pensamento crítico nas salas de aula, também foi objeto de discussões. Em comum, a percepção de que tanto as mudanças curriculares bem como a proibição do exercício da crítica constituem graves retrocessos, podendo piorar a já combalida educação pública oferecida no país.
A conclusão não poderia ser outra: o projeto 'Escola sem Partido' e a alteração curricular pretendem, na verdade, a escola de um partido só: o da ideologia neoliberal. Querem a criação de um ambiente social em que a crítica e o debate sejam suprimidos em detrimento de uma educação exclusivamente voltada para o mercado, com predominância do ensino técnico e abandono de disciplinas voltadas à reflexão, como artes, filosofia e sociologia. Além de uma grave ameaça ao futuro de nossos estudantes, é também uma ameaça a nossa condição humana, na medida em que tole a crítica e o pensamento nas salas de aula.
Olgamir Amância, professora do Departamento de Educação da UnB, foi direta: “o grande inimigo daqueles que pretendem uma 'escola sem partido' é Paulo Freire, que pregava uma educação libertadora e crítica”, citando o pedagogo que virou alvo da histeria de uma parte da sociedade brasileira. Em sua obra, Paulo Freire concebeu um modelo educacional inovador, voltado para a formação humana dos estudantes e não a mera apresentação de conteúdos. A ideia era formar seres mais críticos e conscientes de sua posição na sociedade, desenvolvendo não apenas a si mesmo, mas toda a coletividade na qual estivesse inserido.
O pavor de uma 'doutrinação marxista' está na gênese do projeto Escola sem Partido, na opinião do professor Luís Felipe Miguel, do Instituto de Ciência Política da UnB. “Na verdade, é um projeto para fomentar a ideologia neoliberal, produzindo seres humanos acríticos voltados unicamente para servir ao mercado”, afirmou. Para ele, todo indivíduo é capaz de ler criticamente os valores herdados da família, da Igreja, da sociedade. E a escola sem partido vem justamente para acabar com essa capacidade. “O Brasil é recordista em assassinato de mulheres e de gays e ainda assim não querem que gênero seja discutido nas escolas”, exemplifica.
As incongruências no texto legal e no discurso dos apoiadores do projeto 'Escola sem Partido' foi apontada por Gilberto Amaral, professor de Sociologia da rede pública de ensino do Distrito Federal. “A escolha da Língua Inglesa como idioma estrangeiro é uma escolha ideológica. Por que não a Língua Espanhola? E o Mercosul?”, provocou. Gilberto também falou sobre a intimidação a que os professores estão sujeitos. Mesmo sendo apenas um projeto, a intimidação de professores já começou. Gilberto citou, inclusive, episódios em que estudantes contestaram os conteúdos ensinados em sala de aula usando a Bíblia. “Seres acríticos e sem noção das suas potencialidades caem perfeitamente na visão de mundo do mercado e das igrejas caça-níqueis”, lamentou.
Discurso ideológico disfarçado de lei
O projeto 'Escola sem Partido' prega uma educação liberta de ideologias, restrita à transmissão de conhecimentos e conteúdos que serão utilizados na vida adulta dos estudantes. No mesmo sentido vai a reforma curricular do ensino médio, que parte do princípio de que uma pessoa de 14 anos está completamente ciente do que quer para o resto de sua vida, podendo abrir mão de disciplinas que não irão 'contribuir' para a sua formação. Artes, filosofia e educação física estão entre essas disciplinas. Entretanto, o quanto de ciência e o quanto de ideologia existem nessa decisão?
Uma das maiores críticas às iniciativas propostas para a educação é justamente a falta de diálogo com a comunidade docente e discente, as grandes impactadas pela decisão. A reforma curricular do ensino médio veio 'de cima pra baixo', sem escutar as demandas de professores e estudantes. O projeto 'Escola sem Partido' é a tentativa de cercear o pensamento crítico nas salas de aula, transformando alunos e alunas em simples receptores de conteúdo para serem utilizados em suas atividades profissionais, sem levar em conta outras aptidões que as pessoas possam ter.
A 'Escola sem Partido' é uma escola de partido único, uma escola que não consegue conviver com a diversidade, com a pluralidade de ideias. Nas palavras do professor Luís Felipe, o projeto pontifica que “as crianças não são sujeitos de direitos, são propriedades da família, onde impera o estado de exceção”, citando o odioso slogan 'meus filhos, minhas regras', uma infeliz paráfrase do mote feminista 'meu corpo, minhas regras'. O próprio uso de expressões ligadas a movimentos de lutas por direitos mostra a carga ideológica a qual o projeto está submetido, em flagrante conflito com o objetivo a que se propõe.
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