Autor: Luciana Castro | lcpereira@redegazeta.com.br
Jornalista lança livro amanhã em Vitória onde alerta para o perigo da falta de informação sobre o assunto. Os direitos autorais da obra foram todos revertidos para o Centro de Valorização da Vida
Tema de extrema delicadeza, o suicídio tira cerca de
800 mil vidas por ano no mundo, mais ainda é tratado como um tabu por
muita gente. Porém, 90% dos casos são preveníveis por estarem
relacionados a psicopatologias que podem ser diagnosticadas e tratadas,
como é o caso da depressão.
E para que o tema possa ser encarado com mais naturalidade e
informação, o jornalista André Trigueiro escreveu o livro “Viver é a
melhor opção - A prevenção do suicídio no Brasil e no mundo”.
Trigueiro é pós-graduado em Gestão ambiental e durante 16 anos foi
âncora e repórter do Jornal das Dez da Globo News. Desde de 2012 é
repórter da TV Globo. É editor-chefe do programa Cidades e Soluções, da
Globo News, comentarista da Rádio CBN e colaborador voluntário da Rádio
Rio de Janeiro.
Ele estará no Estado amanhã para o lançamento de seu livro e uma
palestra aberta ao público no Centro de Convenções de Vitória, às 19h30.
O jornalista doou 100% dos direitos autorais para o Centro de
Valorização da Vida
Foto: Jornalista lança livro amanhã em Vitória onde alerta para o
perigo da falta de informação sobre o assunto. Os direitos autorais da
obra foram todos revertidos para o Centro de Valorização da Vida
André Trigueiro
Por quê você decidiu escrever sobre o suicídio?
Porque é problema de saúde pública no Brasil e no mundo e quase
ninguém sabe. Outra informação importante amplamente desconhecida é a de
que o suicídio é prevenível em 90% dos casos, quando há intercorrência
com patologias de ordem mental diagnosticáveis e tratáveis,
principalmente a depressão. Apesar de tudo, permanece o tabu na
sociedade e nas mídias.
Suicídio continua sendo um assunto invisível, mesmo quando a
Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça o papel estratégico da
comunicação para que se reduza o número de casos. É preciso saber o que
dizem os especialistas, mapear os riscos, identificar os sinais de
alerta e procurar ajuda quando necessário. A informação correta pode
salvar vidas. Essa é a principal contribuição do livro.
Você destinou os direitos do livro ao Centro de Valorização da Vida. Qual a importância do CVV?
Sou fã do CVV. Este é o terceiro livro que abro mão dos direitos
autorais em favor do Centro de Valorização da Vida. O CVV é uma entidade
filantrópica sem vinculações políticas ou religiosas que realiza desde
1962 um serviço gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio por
telefone (141) e, mais recentemente, pela internet, no site do CVV.
Em mais de 50 anos de atividade voluntária no Brasil, o CVV
construiu um legado valiosíssimo de como acolher pessoas que
invariavelmente precisam desabafar ou compartilhar situações de vida.
É gente que busca um produto cada vez mais em falta no “mercado”: a
escuta amorosa. Os voluntários do CVV (basta ter mais de 18 anos e boa
vontade) são treinados para lidar com diferentes tipos de situação
sempre respeitando o sigilo. A instituição recebe aproximadamente 800
mil ligações por ano sem grande exposição na mídia. Isso nos dá uma
noção da demanda reprimida por esse tipo de assistência.
Se em 90% dos casos o suicídio é prevenível, como evitá-lo?
Informação e atitude. Um diagnóstico preciso é apenas o primeiro
passo. Importante dizer que a maioria das pessoas com depressão,
transtornos de personalidade, esquizofrenia ou outras patologias de
ordem mental não comete suicídio. Mas é importante acompanhar de perto a
evolução do tratamento.
A assistência especializada (psicólogos ou psiquiatras) ajuda
bastante, mas os resultados são ainda melhores quando há o apoio de
familiares e amigos. Atribui-se como causa principal do suicídio uma dor
intensa, difícil de descrever. Os suicidólogos reportam esse sofrimento
com muito respeito e sugerem que se dê a ele o devido acolhimento.
A mídia, em geral, não aborda este tema alegando que a divulgação aumentaria os casos. Como o tema poderia ser veiculado?
No livro compartilho as orientações da OMS aos profissionais de
imprensa sobre como falar de suicídio nas mídias. Entre outras
recomendações, sugere-se não destacar esse tipo assunto com manchetes e
fotos, não informar o meio empregado para consumar o suicídio, não
enaltecer as qualidades morais do suicida, e sempre abrir espaço para as
informações que aludem a prevenção. É importante dizer que o jornalismo
tem uma função social, ele precisa ser útil à sociedade, e neste
capítulo da prevenção do suicídio, é preciso fazer mais e melhor.
Acredita que escolas e igrejas também podem participar desse processo de informação?
Sem dúvida. No que se refere às escolas, cito no livro o exemplo do
Japão, que sempre teve índices elevados de suicídio até o país resolver
enfrentar o tabu e desenvolver políticas públicas que alcançam
atividades como palestras e seminários em instituições de ensino. Em
relação às igrejas, vale dizer que todas as grandes religiões e
tradições espiritualistas do Ocidente e do Oriente se manifestam
claramente contra o suicídio.
Com toda sua pesquisa você conseguiu identificar qual é o perfil do suicida?
O perfil sociodemográfico mais exposto ao risco suicida é de homens
entre 15 e 35 anos (ou acima de 73 anos) residentes em áreas urbanas,
desempregados ou aposentados, isolados socialmente, solteiros ou
separados, migrantes. Mas dentre todos os fatores de risco há dois que
se destacam: já ter tentado se matar ao menos uma vez e ser portador de
algum transtorno mental (principalmente depressão).
O Brasil ocupa atualmente uma posição preocupante no ranking mundial de mortes...
Em números absolutos, o Brasil aparece em 8º no ranking mundial de
suicídios com 11.821 óbitos por suicídio por ano, o que dá uma média de
32 casos por dia. Importante dizer que estes números não expressam a
realidade das ocorrências, há na verdade muito mais suicídios
acontecendo por aí, já que as próprias autoridades de saúde reconhecem o
problema da subnotificação, ou seja, muitos atestados de óbito são
preenchidos de maneira imprecisa, atribuindo a “causa indeterminada” ou
“acidente” o que na verdade foi suicídio.
Você deve ter falado com familiares de pessoas que se
suicidaram. Como se recuperar desta tragédia? Estas pessoas conseguem
apoio?
Cada caso é um caso. Há quem leve mais tempo para se recuperar,
outros conseguem enfrentar a situação com serenidade em menos tempo. O
importante é seguir em frente. Cada um de nós é responsável pelo próprio
destino. De uma forma ou de outra, aprende-se a lidar com a dor e
superá-la. Desconhecemos o poder que temos para enfrentar situações
inimagináveis.
A ajuda especializada pode ser importante (psicólogos
principalmente), mas quem depende do serviço público deverá procurar os
serviços gratuitos oferecidos por universidades ou entidades classistas.
Você vê relação da internet com o suicídio. A divulgação de
conteúdos íntimos, pornografia, por exemplo, podem gerar novos
suicidas? E no que se refere a sites que estimulam o suicídio, é
possível combatê-los?
O chamado bullying virtual já determinou vários casos de suicídio
no Brasil e no mundo. A humilhação de ver imagens ou informações íntimas
“viralizadas” nas redes gera enorme constrangimento sem que as pessoas
expostas se sintam preparadas para enfrentar a situação com a devida
serenidade.
Entendo que no Brasil se deveria mobilizar o mesmo aparato
utilizado no combate a pedofilia na internet para desabilitar os sites
que promovem o suicídio. Grandes empresas de conteúdo na internet (Yahoo
e Google, por exemplo) já reprogramaram seus softwares para
“encaminhar” pessoas que realizam pesquisas sobre suicídio a acessarem
primeiro os sites que falam de prevenção. É preciso atuar com mais rigor
nas redes.
Agora mudando um pouco de assunto, você que leciona e
trabalha com o tema ambiental. O Brasil vem passando por uma crise
hídrica que se agravou meses atrás. Como evitar que a escassez da água
seja um problema recorrente no país?
O Brasil perdeu o direito de errar quando o assunto é gestão dos
recursos hídricos. Depredamos as bacias hidrográficas, desmatamos as
matas ciliares e nascentes, ostentamos indicadores subsaarianos de
saneamento básico. Em resumo: registramos nas últimas décadas a
destruição sistemática das condições que permitem o fornecimento regular
de água em volume e qualidade confiáveis. Ou corrigimos o rumo, ou a
situação será ainda mais difícil.
Ajude!
Seja um voluntário do CVV
Telefone: 141
Endereço: Av. Adalberto Torres, 153, Jucutuquara, Vitória
O CVV precisa: uma pessoa a cada quatro horas para atender ligações (cada voluntário trabalha uma vez por semana)
Média por semana: 50 voluntários
Cursos: todo voluntário do CVV passa
por preparação antes de poder ajudar a quem precisa
NÚMEROS DO SUICÍDIO
No Brasil
Ranking mundial: 8ª posição
Mortes por ano: 11.821
Mortes por dia: 32 (média)
No Mundo: mais de 800 mil por ano
Viver é a melhor opção - A prevenção do suicídio no Brasil e no mundo
Autor: André Trigueiro
Editora: Correio Fraterno
Foto: Jornalista lança livro amanhã em Vitória onde alerta para o
perigo da falta de informação sobre o assunto. Os direitos autorais da
obra foram todos revertidos para o Centro de Valorização da Vida
André Trigueiro
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