7.13.2007

BNDES E SAÚDE ELABORAM PLANO PARA A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

BNDES E SAÚDE ELABORAM PLANO PARA A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
10/07 - Uma aliança estratégica para alavancar a política industrial na área de fármacos está sendo costurada entre o BNDES e o Ministério da Saúde. Um grupo de trabalho foi criado e vem se reunindo semanalmente no banco para operacionalizar a parceria. A idéia é usar o poder de compra do ministério para ampliar a demanda por medicamentos, enquanto o BNDES cria instrumentos financeiros para induzir a execução de novos projetos pela indústria farmacêutica. Pedro Palmeira, chefe do Departamento de Produtos Intermediários, Químicos e Farmacêuticos, disse que o novo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, quer dar tratamento prioritário ao setor e está disposto a buscar pontos de intersecção entre a política industrial e a política nacional de saúde, considerada uma área de difusão de tecnologia. "Os discursos de Coutinho e Temporão (José Gomes Temporão, ministro da Saúde) estão afinados neste sentido", afirmou. A política em construção pretende envolver laboratórios públicos, nacionais e até parcerias com subsidiárias de multinacionais, desde que haja transferência de tecnologia da parte delas, destacou Palmeira. A meta é preparar a indústria nacional para competir globalmente. A carteira de financiamentos do BNDES para a indústria farmacêutica já soma quase R$ 1 bilhão, incluindo operações já contratadas, aprovadas, em análise e enquadradas, de 2004 até junho de 2007, correspondentes a investimento total de R$ 1,9 bilhão. Ao todo, foram computadas 48 operações. Coutinho tem planos de dobrar o volume de empréstimos até meados de 2008, assegura Palmeira. Do total financiado , R$ 523,7 milhões foram destinados a projetos de produção de fármacos, R$ 334 milhões a operações de fusões e aquisições de empresas nacionais e R$ 114,7 milhões para 12 empresas com projetos de inovação, como os laboratórios Biolab, Libbs, Baumere Bioinovation ,entre outros. O grande foco do banco é o subprograma de inovação, que teve recentemente redução na taxa de juros fixos de 6% para 4,5% ao ano. "Com esta taxa fixa, o banco rompeu dogmas", diz Palmeira. Nos últimos quatro anos, a política do BNDES obedeceu a três subprogramas de crédito, que incluíam financiamento à produção e modernização para adaptação às regras da Anvisa, financiamento a fusões e aquisições de empresas nacionais, linha restrita a empresas de capital nacional, e o financiamento à inovação de produtos. Nesse período, o banco passou a operar também com uma política de capitalização do setor via equity, ou seja, entrou de sócio em algumas empresas que considerava importante fortalecer, como a Nortec Química, empresa farmoquímica que resistiu à desnacionalização do setor nos anos 90, a Genoa , microempresa que desenvolve pesquisas na área de genética, e a Bioinovation, microempresa de tecnologia. Nas três, o banco tem participação de 20%; No momento, o BNDES se prepara para ter participação também em outra empresa do setor, a Nanocore. No cenário do BNDES, a indústria farmacêutica nacional caminha para um movimento de concentração de empresas, visando escala e competitividade com as estrangeiras. O banco estimula essa tendência, mas não interfere nos "namoros", disse Palmeira. A nova administração pretende incentivar este processo, que é dificultado pela "cultura familiar intensa" das empresas nacionais. O banco espera que muitas operações de fusão e aquisição ocorram no setor nos próximos três anos. Em 2005, a Biosintética foi comprada pelo Aché, a maior empresa nacional do setor. No mesmo ano, a Biolab comprou 80% da Sintefina, empresa farmoquímica de capital nacional e o Libbs adquiriu as operações da multinacional australiana Mayne Pharma do Brasil, de medicamentos oncológicos. Mais uma operação de fusão está em curso, em análise no BNDES. Trata-se da aquisição de uma empresa pequena por um laboratório nacional de grande porte. Essas reestruturações vão ser reforçadas na gestão de Coutinho, pois atendem aos planos de preparar a indústria farmacêutica nacional para a competição global, como aconteceu com a Índia. A partir de 2004, o "filé mignon" do setor vem sendo a produção de genéricos. As companhias de capital nacional respondem atualmente por 80% da venda desses produtos no mercado brasileiro, desbancando as estrangeiras e ajudando a reduzir o preço dos remédios. O fato mudou o perfil do setor de fármacos no país. Hoje, a indústria nacional responde por 40% do faturamento total das farmacêuticas, ante 28% em 2000. "Com a venda de genéricos, indústrias como Aché, EMS, Eurofarma e Meddley estão fazendo caixa para dar saltos na inovação de produtos mais sofisticados. Foi este o caminho trilhado pelos indianos", informa Palmeira. Ele reconhece que, para o BNDES, a inovação "é e continuará a ser o grande motor do setor farmacêutico". "Os genéricos podem ajudar a empresa a criar condições para investir em pesquisa e desenvolvimento, mas não podem ser o objetivo final, senão seremos condenados a permanecer na periferia do mercado mundial no setor." Estudo feito por Palmeira e Luciana Capanema sobre investimentos na indústria farmacêutica prevê que, entre 2007 e 2011, o volume de investimentos da indústria farmacêutica no país totalize R$ 6,1 bilhões. Para este ano, eles prevêem R$ 1 bilhão. Em 2008, R$ 1,1 bilhão, R$ 1,2 bilhão em 2009 e R$ 1,3 bilhão a R$ 1,4 bilhão em 2011, um crescimento em torno de 10% ao ano. PARA EMPRESÁRIOS, GARANTIA DE COMPRA ESTATAL É FUNDAMENTAL - Empresários do setor de fármacos esperam que, em breve, o governo comece a usar o poder de compra do Estado para ampliar a demanda por medicamentos no país. Eles consideram fundamental ter garantia de compra para fortalecer a empresa nacional e fazê-la avançar no mercado doméstico e global, o que já ocorre em outros países. Ogari Pacheco, da Cristália, critica a forma como são feitas atualmente as concorrências públicas, sem levar em conta o custo-Brasil, que representa 33% sobre o preço do produto, enquanto as multinacionais só têm uma alta de 2% no custo, por conta de seguro e frete. A empresa de Pacheco, que tem 100% de capital nacional, é a única no país a produzir o medicamento ritonavir para aids. Recentemente, a empresa perdeu para uma multinacional uma concorrência feita pelo Ministério da Saúde para fornecimento do princípio ativo. Para ele, a iniciativa do BNDES só dará certo "se o exercício deste poder de compra for efetivo, com o Estado dando um tratamento diferenciado para a indústria localmente, sem subsídio às avessas. Só assim o jogo é limpo", diz. Pacheco informou que perdeu a concorrência porque "trouxeram a matriz para competir conosco e baixaram o preço para um nível que se pratica em país africano, para fins humanitários". A Cristália fornecia o ritonavir para o governo há quatro anos. Agora, busca mercado para exportar o produto. "Através da inovação, temos patentes registradas nos EUA, Europa e China", diz Pacheco. A Cristália, que é líder do mercado latino-americano de anestésicos e tem quatro fábricas, três em Itapira e uma em São Paulo, investe 7% do lucro em pesquisa e desenvolvimento e reinveste 90% na própria empresa. No momento, Pacheco estuda a compra de empresas no mercado doméstico e examina a abertura de uma filial na Argentina. Alberto Mansur, da Nortec, que produz matéria-prima para o Dorflex e a Neosaldina, se diz estimulado a investir pelo apoio ao setor sinalizado pelo BNDES. A empresa aplica 8% da receita na pesquisa e desenvolvimento de produtos. Este ano, a Nortec está voltada para desenvolver produtos cujas patentes no mundo estão vencendo entre 2007 e 2008, como a fosfenitoina, princípio ativo usado para fabricação de remédios para epilepsia pediátrica. Um outro produto, a quetiapina, com patente vencendo em 2008, será fabricada numa joint-venture com a americana Cambrex. Também pesquisa com Farmanguinhos e a Unicamp um redutor para colesterol. Dante Alario Jr., da Biolab, acha "ótimo" o uso do poder de compra do governo para estimular o setor. "Isso já existe em outros países e aqui o assunto ainda está em discussão.". Ele disse que participa de licitações há muito tempo, mas nunca entrou numa licitação pública. Criticou o que chamou de "licitações predatórias" , nas quais concorre com empresas indianas, onde predomina o preço político. Alario Jr. contou que a Biolab estuda montar uma fábrica nos EUA e avalia uma aquisição ou parceria na Argentina. A Biolab tem liderança no Brasil de produtos cardiológicos e ocupa 14% do mercado de produtos ginecológicos. No mercado doméstico, estuda operações de aquisições de duas médias empresas. "Nossa meta é juntarmos forças para nos tornarmos um grupo maior". A Biolab tem 12 projetos de inovação para serem financiados pelo BNDES. A Genoa considera "importantíssima" a política de apoio do banco. "Para uma empresa como a nossa, que está começando e investindo muito em inovação, os recursos próprios são limitados", disse Luiz Fernando Camara Lopes, diretor de marketing da empresa (VSD). - Vera Saavedra Durão - Fonte: Valor Econômico

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