DROGAS
DROGA LEGAL ABRE CAMINHO (Álcool)
19/07 - Estudo aponta o álcool como uma ponte que pode levar jovens ao vício e a consumir drogas ilícitas. O consumo do álcool entre crianças e adolescentes pode ser a porta de entrada para que eles recorram a outras drogas ilícitas. As estatísticas vêm crescendo e comprovam os riscos que o álcool oferece à população jovem, quando ingerido em larga escala. No Distrito Federal, um em cada três meninos e meninas, com idade entre dez e 18 anos, consomem bebidas alcoólicas pelo menos uma vez por mês, o que corresponde a 31,5% de jovens brasilienses que bebem com regularidade. O levantamento realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) e pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), órgãos do Governo Federal, traz outros números preocupantes. Cerca de 46% dos estudantes dos ensinos Fundamental e Médio das escolas públicas e particulares do Distrito Federal já consumiram bebidas alcoólicas. Muitos pais nem imaginam, mas 9,5% dos estudantes brasilienses entrevistados revelaram que fazem uso freqüente do álcool. Na faixa etária de 10 a 12 anos, 44,7% dos entrevistados confirmaram o consumo; entre 13 e 15 anos, o índice sobe para 73,4%; e entre 16 e 18 anos, o número assusta: 82,2%. Entre as meninas, nessa faixa etária, o consumo é ainda maior. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), há dez anos, no Brasil, a média de idade do primeiro contato com a bebida ocorria por volta dos 13 anos. Atualmente, a faixa etária inicial varia entre 10 e 11 anos. Entre os adolescentes de 12 a 17 anos, 54% já experimentaram alguma bebida e 7% deles são dependentes do álcool. PROBLEMAS - O uso regular de bebidas alcoólicas pode causar complicações orgânicas e psíquicas aos seus usuários. Segundo avaliação da psicóloga e especialista em alcoolismo na infância e adolescência, Maria Luci Porto, em função da sensibilidade do organismo jovem, mesmo que ingerido em pequenas quantidades, o álcool pode trazer sérios problemas à saúde. "O consumo agudo na adolescência provoca, em muitos casos, um estado depressivo e a sensação de angústia. O efeito pode ser maior que no adulto", compara a psicóloga. De acordo com Maria Luci, por ser o álcool uma droga lícita e de fácil acesso, os adolescentes podem deixar de consumir o álcool e se sentir atraídos por outras drogas como a maconha, o ecstasy ou a cocaína. "Em função da licitude do álcool, eles podem ser motivados para usar e conhecer drogas ilícitas", afirma. MEDIDAS PREVENTIVAS - Para enfrentar problemas como dependência e doenças físicas relacionadas ao consumo do álcool, o Ministério da Saúde lançou, recentemente, a Política Nacional sobre Álcool que, entre outras medidas, restringe a propaganda de bebidas com teor alcoólico acima de 0,5 grau Gay-Lussac? - antes era acima de 13º - o que inclui cervejas, ices e coolers. O governo também vai atuar na prevenção dos acidentes de trânsito e limitar a venda de álcool nas estradas e nos postos de gasolina. A psicóloga Fátima Sudbrack, coordenadora do Programa de Estudo e Atenção às Dependências Químicas (Prodequi), da Universidade de Brasília (UnB), apóia a nova política e afirma que nos últimos anos a oferta ficou mais massiva e agressiva e o controle menos eficaz. "A publicidade, da forma como é feita no Brasil, é uma violência a tudo o que se pode imaginar de informação adequada, quando se associa a bebida ao sucesso, ao desempenho sexual e à socialização. Quando, na verdade, não é isso o que acontece com quem consome o álcool", avalia. EXEMPLO VEM DE CASA - Fátima define que o consumo de bebidas alcoólicas se tornou um padrão de comportamento brasileiro e, em muitos casos, o exemplo vem de casa, o que dificulta cada vez mais convencer o jovem de que a cerveja também pode ser prejudicial. "Existe um certo glamour em beber durante a passagem para a vida adulta. O jovem bebe porque procura fazer o que os adultos fazem", explica. Segundo a psicóloga, todas as pessoas que procuram qualquer droga estão em busca de algo bom. "De alguma maneira, essas pessoas procuram algo que lhes dê prazer. Essa demanda está ligada a todo um estresse da sociedade contemporânea e a uma cultura. Além disso, parece inimaginável qualquer lazer sem o consumo de bebida alcoólica", exemplifica. SEM BUROCRACIA - Em alguns pontos da cidade, não há nenhuma burocracia para o consumo do álcool. Muitos estabelecimentos não cobram documentação como condição de compra. Segundo a Lei Federal 9.294/96, a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos é ilegal. O artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) preceitua que vender e fornecer, ainda que gratuitamente, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica é crime, com pena de seis meses a dois anos de detenção, além de multa. TRAJETÓRIA DA DEPENDÊNCIA - Primeiro um gole, depois um copo e, logo, a bebida alcóolica se torna um componente obrigatório das noitadas de jovens. O próximo passo, em muitos casos, é a ingestão de drogas mais pesadas. Foi o que aconteceu com o estudante de Administração Mateus (nome fictício), de 20 anos. Aos 14, ele provou o álcool pela primeira vez e, pouco tempo depois, já ingeria o líquido cada vez que saía com os amigos. Com a mesma idade, o menino passou a consumir maconha, dentro da própria casa. "É muito fácil passar do álcool para a maconha. Hoje, eu fumo todos os dias. Meus pais já se acostumaram, não reclamavam mais", conta. Dois anos mais tarde, o jovem chegou ao ecstasy. Atualmente, Mateus costuma ingerir vários tipos de droga e, inclusive, mistura algumas delas. "Quem usa ecstasy não usa só isso. É comum misturar com álcool, porque aumenta o efeito da droga", diz. O garoto afirma que já viu muita gente passar mal por fazer uso de drogas pesadas, mas acredita que já conhece o próprio organismo e que, por isso, não enfrenta tantos perigos. "Cada organismo tem a sua força. Hoje eu me sinto confiante porque já sei usar a quantidade certa. Não sou viviado e sei reconhecer quando já estou mal ou não", explica o usuário. Depois que passou a consumir outros tipos de droga, o jovem afirma que mudou a sua perspectiva em relação à bebidas alcoólicas. "Muita gente subestima o álcool, mas ele causa mais danos sociais do que muitas outras substâncias". Quanto ao medo de desenvolver problemas de saúde, Mateus conta que freqüentemente costuma pensar sobre o assunto, mas que, por enquanto, o prazer que a droga proporciona ainda fala mais alto. "A sensação é boa demais", comenta. PAIS PODEM SER ESPELHOS - É muitas vezes em casa que surge a curiosidade pelo álcool. Ao ver parentes ingerindo o líquido, a atitude acaba despertando o interesse nos jovens. A estudante Joana (nome fictício), de 16 anos, provou a bebida alcoólica pela primeira vez aos 13, do mesmo copo em que bebia o tio. "Eu tomei um gole de cerveja, mas achei o gosto muito ruim e não quis beber mais. Só que vi que os meus primos tomaram mais e ficaram agindo de forma bem diferente. Achei muito divertido. Então procurei outro tipo de bebida pra mim", recorda. A menina passou a consumir destilados, como vodca e vinho, cada vez que ia a uma festa. Em pouco tempo, já estava ingerindo álcool, em média, três vezes por semana. Joana conta que sempre gostou de sair com pessoas mais velhas que ela, mas que, mesmo entre os jovens de sua idade, beber é comum. "Comecei a ingerir álcool aos 13 e fui uma das últimas da minha turma da escola a fazer isso", afirma. Apesar da pouca idade, Joana não sentia vergonha de dizer à família que consumia bebidas alcoólicas. Segundo ela, a mãe não a repreendia, apenas aconselhava a menina a tomar cuidado e não ingerir a substância em excesso. "Acho que não adianta proibir. Tudo que é limitado dá mais vontade", opina. Ela garante que sempre teve responsabilidade na hora de beber, mas confessa que, desde os 14 anos, costuma voltar dirigindo o carro de amigos durante a madrugada. EFEITO CONTRÁRIO - No caso da estudante de Pedagogia Mariana (nome fictício), de 19 anos, o exemplo da família surtiu um efeito contrário. Por influência de amigos, começou a beber aos 16. Mas, ao ver que a mãe não ingeria bebidas alcoólicas, nem sentia a necessidade de fazê-lo, deixou o álcool. "Acho que os filhos são o reflexo dos pais. O exemplo da minha mãe foi um dos maiores motivos de eu ter deixado de beber", relata. A mãe da garota conta que nunca proibiu a filha de ingerir bebidas, apenas mostrou à filha que o álcool não era algo necessário. "O dever dos pais não é repreender, e sim, ensinar", diz. A auxiliar de serviços gerais Maria Aparecida Santana concorda que os pais têm de estar atentos às ações dos filhos e orientá-los. Ela tem dois filhos adolescentes, de 15 e 18 anos. "Não proibo meus filhos de beber. Deixo que eles provem bebidas alcoólicas em casa,para saber o gosto. É melhor que eles bebam quando a gente está por perto", esclarece Maria Aparecida. - Márcia Leite - Fonte: Jornal de Brasília
MACONHA LIDERA PREFERÊNCIA
20/07 - Estatísticas apontam aumento da entrada da droga no DF, onde foram apreendidos 1.348 kg este ano. Considerada por especialistas como a droga ilícita mais consumida no mundo, a maconha, muitas vezes é por meio dela que crianças e adolescentes avançam no obscuro universo das drogas. Fácil acesso e preços mais baixos, se comparados aos de drogas sintéticas, são os principais atrativos. Estatísticas da Polícia Federal apontam que já este ano foram apreendidos 1.348 quilos da droga e 36 pessoas envolvidas no tráfico foram detidas no Distro Federal. Os números desse ano são altos quando comparados com os de 2006, ano em que foram apreendidos 1.954 quilos. Já em 2005, a PF recolheu 498 quilos de maconha, o que mostra o aumento significativo da entrada da droga no DF. Segundo pesquisa realizada pela Secretaria Nacional Anti-Drogas? (Senad), em 2005, dos 633 entrevistados, entre jovens e adultos, somente na região Centro-Oeste?, incluindo o DF, 7,8% consomem maconha e 0,6% são dependentes da droga. Em primeiro lugar no ranking está o álcool e o cigarro, com 10,6% do total. A Secretaria de Saúde do DF aponta que, em 2006, dos alunos da rede pública que usam drogas (exceto álcool e tabaco) com freqüência, 2,1% são dependentes de solventes, 0,6% de ansiolíticos, 0,6% de anfetaminas, 0,5% de maconha e 0,3% de cocaína. A maioria dos jovens que decide experimentar a maconha, é convencida pelo argumento de que trata-se de um produto natural e por isso não tem o mesmo efeito destrutivo das drogas sintéticas ou da cocaína. O princípio ativo da maconha é composto por mais de 60 substâncias, conhecidas pelo nome genérico de canabióides. O tetrahidrocanabiol é a substância preponderante e o principal elemento da droga. Outro componenete é o delta 9 tetrahidrocanabiol. Sua concentração pode ser de 1% a 5%. DERIVAÇÃO - A maconha é usada como fumo, feito de folhas e, algumas vezes, de flores da planta. O haxixe é um narcótico derivado da maconha. A diferença é que utiliza-se a resina que cobre as flores e as folhas da parte superior da planta. É um extrato, e por isso é muitas vezes mais potente que a maconha comum. Há algum tempo surgiu uma nova variedade de maconha, o "skunk" ou "supermaconha". O skunk é produzido em laboratório com variedades de cânhamo, um dos tipos da planta da maconha, cultivados no Egito, Afeganistão e Marrocos. Ele tem alto teor de tetrahidrocanabiol, composto químico responsável pelo princípio tóxico ativo da maconha, de até 33%. Seus efeitos são dez vezes mais potentes que os da maconha comum. No Brasil, segundo a pesquisa, o consumo do skunk cresce. Para a psicóloga Maria Fátima Olivier Sudbrack, do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), a estrutura familiar é determinante para deixar crianças e adolescentes longe das drogas. "O papel da família é fundamental, mas não como culpada. Ela é a grande aliada no trabalho com os adolescentes. É, em geral, quem mais sofre e quem procura a ajuda de um psicólogo", afirma ela. APOIO DA FAMÍLIA - Maria de Fátima alerta que os pais não devem abandonar os filhos, já que a reaproximação da família é a melhor forma de ajudá-los a largar o vício. "Não estou falando que um pai desista, conscientemente, do filho. Mas as pessoas se afastam. Se sentem tão incompetentes que acabam por deixar os filhos só, aos cuidados do especialista, quando, na verdade, os jovens precisam se reaproximar dos pais", esclarece. Para o psiquiatra Leonardo Moreira, existem dois critérios para classificar um jovem como dependente. O primeiro deles é a tolerância, ou seja, a intensificação do consumo na tentativa de conseguir o mesmo efeito provocado pelo primeiro trago. O segundo é a abstinência, quando a falta da droga começa a deixar o dependente nervoso. "Na maconha a abstinência é mais rara e provoca apenas alterações de humor e ansiedade, enquanto na cocaína, por exemplo, o dependente fica violento". Moreira adianta que o uso da maconha não favorece a entrada em outras drogas. "O problema não é o consumo da maconha. É o ambiente que se anda para consegui-la. Onde tem maconha tem drogas de todos os tipos e isso é o que induz o usuário a consumir outras coisas", avalia. Moreira orienta os pais a observarem seus filhos. Qualquer alteração de humor, aumento do apetite ou sonolências, devem procurar ajuda médica. "Um psiquiatra ajudará a família a lidar com o dependente. E o jovem precisa ser convencido da necessidade de se tratar, o que deve ser feito com calma e diálogo", ensina. FUMANTES SEM CULPA OU TEMOR - Fumante desde os 18 anos, o estudante de antropologia, João* afirma que optou pela maconha devido a sensação de relaxamento que ela lhe trás. Segundo ele, dependendo da necessidade que sente, pode fumar diariamente ou semanalmente. "A maconha me passa uma sensação boa, relaxante. Me estimula intelectualmente. Costumo fumar antes de ver filmes ou ir a uma exposição", conta. João diz ainda que a droga potencializa seus sentidos. "Assim como a comida tem efeito sobre nossos sentidos, a maconha também. Você fica com o olhar mais apurado e se livra de moralismos que sem o efeito de psicotrópicos você não se livraria", garante. Para ele, é um risco comprar de traficantes, mas é a única alternativa. "Enquanto não for legalizada, estamos correndo muito risco comprando de traficantes e estimulando o mercado obscuro. Por isso, acredito na legalização como a melhor forma de reduzir os riscos", afirma ele, que compra a erva a cada dois meses. O jovem afirma que não é consumidor de outros tipos de droga, e nega que a maconha seja a porta de entrada para a ingestão de ecstasy ou cocaína. "Experimenta quem quer. Nem sempre o traficante que vende maconha tem cocaína, mas se você pedir, eles arrumam, claro", explica. O estudante garante que seus pais sabem que ele é consumidor de maconha e que embora tenham uma percepção negativa do produto não podem interferir na sua opção. "Eu mesmo contei. Mas eles não tem argumento. Porque o consumo não altera minha vida. Trabalho, ganho meu dinheiro e estudo em uma universidade pública, ou seja, derrubo todos os clichês da sociedade", desafia. Lorena*, 20 anos, também fuma maconha. Ela começou aos 16 anos, quando conheceu o namorado e o grupo de amigos dele. "Nunca tinha tocado num cigarro, nem desses comuns. Mas depois que experimentei a maconha tive uma sensação prazerosa e por isso não larguei. Fumo diariamente e me sinto leve", afirma a jovem. - Bruna Serra- Fonte: Jornal de Brasília
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