GENÉRICOS E O MERCADO FARMACÊUTICO NACIONAL
21/10/2007
Os laboratórios nacionais vivem o melhor momento de sua história - mas os dias de exuberância podem estar no fim. Por décadas, a indústria farmacêutica nacional se manteve imersa numa notória insignificância. As empresas do setor dedicavam seus dias a elaborar e vender cópias baratas e, às vezes, não muito confiáveis de remédios desenvolvidos pelas multinacionais. Como poucos médicos recomendavam esses medicamentos, as companhias tinham presença irrisória no mercado. A única exceção era o laboratório paulista Aché, que brilhava solitário entre os grandes. Esse jogo mudou há pouco mais de sete anos, quando entrou em vigor a Lei dos Genéricos. Como o governo adotou padrões rígidos para aprovar os genéricos, as cópias produzidas pelos laboratórios nacionais se tornaram mais confiáveis, o que deu fôlego às vendas e iniciou o período de ouro da indústria local. Empresas como EMS, Medley e Eurofarma cresceram a taxas superiores a 20% ao ano, e sua participação de mercado dobrou, deixando várias multinacionais para trás. Segundo a IMS Health, empresa que audita as vendas de medicamentos em farmácias, hoje três dos cinco maiores laboratórios do país são brasileiros. No mesmo período de 2003, apenas o Aché figurava entre os líderes. Os números comprovam que a indústria brasileira vive o melhor momento de sua história -- a má notícia é que a farra acabou. HOJE, TRÊS DOS CINCO MAIORES LABORATÓRIOS DO PAÍS SÃO NACIONAIS. ANTES, O ACHÉ ERA O ÚNICO - O principal motivo para isso é o esgotamento do modelo de crescimento acelerado proporcionado pela venda de medicamentos genéricos. Em 1999, quando foi criado esse mercado, havia um número incrível de remédios sem patente e liberados para cópia, o que criou imediatamente um filão gigantesco para os laboratórios nacionais: desde então, mais de 1 600 genéricos entraram em circulação. Tamanha expansão cobrou seu preço. Quase todos os produtos livres de proteção intelectual já foram copiados e, a partir de agora, os laboratórios nacionais precisarão esperar o vencimento da patente de cada nova droga (que tem validade média de dez anos) para poder reproduzi-las. Segundo levantamentos realizados pelos laboratórios, restaram apenas 96 medicamentos passíveis de se tornar genéricos no Brasil. E esses são justamente os produtos menos rentáveis. De acordo com os fabricantes, cada uma dessas drogas rende cerca de 18 milhões de dólares por ano -- alguns dos medicamentos que já foram copiados faturam até 200 milhões de dólares. NESSE NOVO CENARIO, o pêndulo volta a oscilar para o lado dos grupos internacionais que optaram por não surfar a onda dos genéricos. "Sabíamos que esse era um mercado com limites para o crescimento, já que não cria nenhum produto novo", diz Oscar Ferenczi, presidente da subsidiária brasileira do Merck Sharp & Dohme. Passada a euforia, volta a se fortalecer o ciclo que rege o mercado farmacêutico, que começa na pesquisa e termina em drogas exploradas com exclusividade por dez anos. Como se sabe, nesse quesito os estrangeiros são imbatíveis. Somente no ano passado, a americana Pfizer investiu 7, 6 bilhões de dólares no desenvolvimento de novos remédios. Assim, o futuro das empresas nacionais volta a depender, paradoxalmente, do sucesso das novas drogas lançadas pelos próprios concorrentes. É inegável, porém, que os laboratórios nacionais entram fortalecidos nesse novo ciclo. A pujança dos genéricos revitalizou a indústria, que passou por um amplo processo de modernização e profissionalização. Todos os grandes investiram em fábricas novas. Só a EMS colocou 200 milhões de reais em uma de suas linhas de produção, localizada em Hortolândia, no interior de São Paulo. E o amplo domínio do mercado de genéricos garantiu às brasileiras um mercado cativo de aproximadamente 2, 7 bilhões de reais por ano. O cenário de desaceleração do crescimento já está transformando a estratégia dos laboratórios brasileiros. Para manter o atual ritmo de expansão, as empresas precisarão investir em novas frentes. Uma delas é a internacionalização. A nova fábrica da Eurofarma, em Itapevi, no interior de São Paulo, servirá como plataforma de exportação. A meta da empresa é cobrir 90% do mercado farmacêutico da América Latina até 2015. A outra estratégia é entrar no difícil e caro terreno do investimento em novos medicamentos. Os laboratórios Aché e Eurofarma já atuam de duas formas nesse mercado: com o licenciamento de produtos de laboratórios estrangeiros sem representação no Brasil e com a pesquisa de novas drogas. Seguindo o modelo tradicional do mercado americano, o Aché firmou recentemente uma parceria com a Universidade de Campinas e pretende lançar medicamentos próprios em cinco anos. "O ambiente está ficando cada vez mais competitivo", diz Maurizio Billi, presidente da Eurofarma. "E, nesse cenário, não queremos viver só de genérico. "- Melina Costa -
Fonte: Revista Exame
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