Ciência e esperança
Cientistas do mundo inteiro estão entusiasmados com uma descoberta revolucionária. A novidade deu a dois norte-americanos o Prêmio Nobel de Medicina esta semana. Mas milhares de pacientes se perguntam: que mecanismo é esse que desativa genes que causam doenças como Aids, cegueira e câncer?
Especialistas brasileiros comentaram a importância dessa descoberta – da substância que a célula usa para enviar comandos para as suas diversas estruturas. Se os médicos souberem como controlar essa substância, eles vão poder evitar uma série de doenças. A descoberta é considerada tão revolucionária quanto à das células-tronco.
Saber a função de cada gene é o maior desafio de quem trabalha com genética. Na maioria dos laboratórios do mundo, a ferramenta usada para descobrir que gene faz o quê foi descoberta pelos norte-americanos Andrew Fire e Craig Mello, ganhadores do prêmio Nobel de medicina deste ano.
Eles constataram que um tipo de molécula do acido ribonucléico (RNA) presente nas células funciona como uma espécie de interruptor, desligando determinados genes. Essa molécula também pode ser criada em laboratório e injetada nas células para impedir a ação de genes responsáveis por doenças, um processo conhecido como interferência de RNA.
“Existem várias doenças que, teoricamente, poderiam ser tratadas, quem sabe até curadas, por essa estratégia de desligar, silenciar os genes, como infecção por HIV, uma hepatite C, herpes, alguns tipos de câncer. O que a gente precisa é fazer pesquisa, para ver, na prática, o que vai ser possível”, explica a pesquisadora do Departamento de Biologia da USP, Lygia da Veiga Pereira.
Desde que foi descoberta, a técnica virou alvo de grandes indústrias farmacêuticas, que investem milhões de dólares por ano em pesquisas. A expectativa dos especialistas é que os primeiros tratamentos estejam disponíveis dentro de cinco anos. O grande desafio agora é identificar com precisão os genes que estão ligados a cada tipo de doença e que devem ser desativados.
No Hospital Albert Einstein, em São Paulo, os pesquisadores estudam há três anos o comportamento dos genes de vários tumores. Os médicos acreditam que os pacientes com câncer serão os primeiros beneficiados com a aplicação da técnica.
“Ela traz perspectivas interessantes no tratamento do câncer e de doenças neurodegenerativas, porque nessas áreas nós estamos identificando crescentemente genes cuja expressão anômala, anormal, para mais ou para menos, está ligada à causa de doenças. As perspectivas são muito boas. Elas surgem em um momento em que nós temos condições de aplicar isso terapeuticamente”, afirma o geneticista Carlos Roberto Moreira Filho.
Os geneticistas consideram a descoberta tão revolucionária quanto à das células-tronco. As duas terapias são as maiores esperanças da medicina.
“Nas células-tronco, você visa a repor tecidos que estão danificados por alguma doença. Na utilização desses RNAs, o que você quer é desligar genes que estão causando a doença. A célula-tronco visa a regenerar, consertar um dano que já foi feito, e esses RNAs visam a atacar a causa e parar o dano”, acrescenta a pesquisadora do Departamento de Biologia da USP, Lygia da Veiga Pereira.
Como disseram os pesquisadores, até que essas descobertas sejam transformadas em remédios ou formas de tratamento serão mais alguns anos de pesquisa. Os especialistas acreditam que as primeiras aplicações só vão ocorrer em cinco anos – o que, para a medicina, não é tanto tempo assim.
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