A nova lógica do emprego
Gilberto Guimarães
A globalização e o crescimento acelerado das economias promoveram um aumento da competição e da procura de uma melhor remuneração do capital. Essas mudanças promoveram uma forte reestruturação na economia. As empresas que emergem destas mudanças são caracterizadas por organizações mais simples e flexíveis. As antigas empresas integradas e verticalizadas explodiram num conjunto de negócios autônomos e especializados, ligados por práticas comerciais e sistemas de informações.
Esta passagem da empresa integrada e verticalizada para as redes de negócios atuais, alteram significativamente a forma de atuação e as relações de trabalho. As empresas não são mais destinadas à perenidade, mas sim a evoluir em função do mercado. Essas empresas não podem mais prometer estabilidade dos empregos. O modelo anterior era caracterizado por fatores que privilegiavam a segurança e a antigüidade.
Este sistema deu origem à figura típica do empregado de organização dos anos 70/80, para quem a vida no trabalho desenrolava-se em uma mesma empresa. O contrato implícito de trabalho entre a empresa e os seus empregados era estabelecido sobre um conceito de lealdade mútua. De um lado a empresa assegurava estabilidade e segurança econômica, e do outro o empregado deveria "vestir a camisa".
As reestruturações romperam os compromissos sociais anteriores. Esta ruptura do pacto social tem conseqüências ainda difíceis de serem avaliadas. Os empregadores atuais reforçam que a única segurança do emprego que resta é a empregabilidade dos indivíduos, medida pelo seu valor para o mercado externo à empresa.
Hoje existe uma dificuldade de estabelecimento de uma relação direta entre o desempenho e a produtividade de um indivíduo e o volume de produção, pois é o próprio trabalhador do conhecimento que define a velocidade e a produtividade dos seus meios de produção. Esta dificuldade acarreta uma inadequação dos sistemas clássicos de avaliação e remuneração, que variam não mais só em função do desempenho dos funcionários, mas pelo desempenho da empresa. Os diretores devem tomar decisões pessoais, onde antes deviam aplicar regras estabelecidas pela matriz. O novo modelo decisório supõe o uso do conhecimento.
Esses novos tempos pedem uma nova organização das pessoas e novos profissionais. Os trabalhadores do conhecimento sabem mais do que seus "chefes". Não existe mais a estrutura clássica de subordinação, onde as pessoas eram organizadas em hierarquia. A nova estrutura precisa ter flexibilidade e especialização. A organização mais adequada é a de uma orquestra, onde o maestro lidera especialistas, define e transmite sua visão, fixa metas, mobiliza e incentiva.
Ele não é nem o melhor músico, nem o melhor violinista ou o virtuose do piano. O líder não impõe o poder. Tem o poder quem aplica o conhecimento. Liderar é influenciar e mobilizar as pessoas, para que desenvolvam motivação para fazer o que "deve" ser feito, com vontade e com o máximo de seu potencial, para atingir os objetivos compartilhados fixados.
O desafio é fazer especialistas solitários trabalharem produtivamente em equipe. A velocidade das inovações obriga as empresas a se reinventarem a cada dois ou três anos. O desafio do novo líder é ajudar a criar o novo e mobilizar as pessoas para implantar mudanças. Para criar o novo é preciso encerrar o velho, desestabilizar, perturbar, desorganizar, fazer a "destruição criativa". É preciso mobilizar as pessoas, conseguir adesões, buscar sinergia, evitar antagonismos.
É estar atento e vigilante, gerenciando o que está acontecendo ou já aconteceu e que vai criar o futuro, as necessidades e o conhecimento de amanhã. Finalmente, como o trabalhador do conhecimento não é incentivado e mobilizado apenas por incentivos financeiros, o verdadeiro desafio é criar espaço e condições para reter os talentos, pela atualização permanente, pelo uso das ferramentas mais modernas, pela liberdade de atuação, pela valorização do seu conhecimento.
Gilberto Guimarães é diretor da multinacional francesa, atua também como professor e consultor da Fundação Getúlio Vargas, da GV Consult e do Ibmec São Paulo. É engenheiro pela Escola Politécnica da USP, com MBA pela FGV e cursos de especialização no IMS - Alemanha - renee@toppressnet.com
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