1.29.2010

Alagamentos: risco de leptospirose, diarreias e hepatite A


Alagamentos aumentam risco de leptospirose, diarreias e hepatite A

População deve ficar alerta para sintomas dessas doenças.

Automedicação pode agravar casos, afirma médico.

As chuvas fortes que atingem a cidade de São Paulo neste verão trazem diversos perigos à saúde da população.

Especialistas em infectologia para saber quais as doenças mais comuns em áreas de alagamento e como as pessoas devem fazer para se proteger.

“O maior perigo é a leptospirose”,

“São Paulo, como toda metrópole, tem muitos ratos e essa doença é transmitida por uma bactéria encontrada na urina do rato, quando entra em contato com mucosas, peles feridas ou mesmo naquelas que ficaram muito tempo na água. Nos casos graves, a mortalidade é de 10%”.


Além da leptospirose, no entanto, outras enfermidades também preocupam.
“Dejetos são distribuídos sem tratamento nos cursos de água. Quando chove, esses cursos de água transbordam. Então temos que nos preocupar com as doenças de transmissão ‘entérica’”.

A “transmissão entérica” é aquela feita a partir da ingestão ou do contato com vírus ou bactérias eliminados pelas fezes humanas de pessoas infectadas.

“Dentro dessas doenças estão as diarreias comuns, algumas infecções bacterianas, como a febre tifóide, algumas doenças virais e eventualmente surtos de hepatite A”.


A cólera, que no passado assustou muito as cidades brasileiras, hoje não é mais um risco na capital paulista. “Tivemos dez, doze anos atrás, mas não temos mais”.

Cuidados

Segundo os médicos, quem entrar em contato com água de enchentes deve, primeiramente, tomar um bom e longo banho. “É importante lavar bem as mãos e o rosto”.

Depois, o mais indicado é esperar. “A pessoa só deve procurar um médico se adoecer. Antes, não há nada que se possa fazer”, afirma Marcelo Buratt. Os sintomas podem aparecer dentro de um intervalo que vai de 48 horas a até 12 dias, dependendo do tempo de exposição à água contaminada e ao grau de concentração dos contaminantes.

Os sintomas da leptospirose em sua fase inicial são febre intensa e súbita, calafrios, dores musculares (principalmente na batata da perna), conjuntivite, incômodo com a presença de luz e dor de garganta. Em seguida, os sintomas melhoram, para depois voltarem na fase aguda piorados e acompanhados de pele amarelada e hemorragia.

As doenças de transmissão entérica têm como sintomas febre, diarreia, náusea, vômitos e dores ou desconfortos abdominais. A hepatite traz sintomas parecidos e também pele amarelada e urina escura.

O aparecimento desses sintomas em uma pessoas exposta a enchentes vale uma visita a um posto de saúde. E a automedicação deve ser evitada.

“Mesmo remédios para náuseas ou diarreias podem agravar muito o caso. Ninguém deve tomar remédio por conta própria”.

Saiba Mais sobre:
Leptospirose
Fernando S. V. Martins & Terezinha Marta P.P. Castiñeiras

A leptospirose é uma doença infecciosa febril, aguda, potencialmente grave, causada por uma bactéria, a Leptospira interrogans. É uma zoonose (doença de animais) que ocorre no mundo inteiro, exceto nas regiões polares. Em seres humanos, ocorre em pessoas de todas as idades e em ambos os sexos. Na maioria (90%) dos casos de leptospirose a evolução é benigna.

Transmissão

A leptospirose é primariamente uma zoonose. Acomete roedores e outros mamíferos silvestres e é um problema veterinário relevante, atingindo animais domésticos (cães, gatos) e outros de importância econômica (bois, cavalos, porcos, cabras, ovelhas). Esses animais, mesmo quando vacinados, podem tornar-se portadores assintomáticos e eliminar a L. interrogans junto com a urina.

O rato de esgoto (Rattus novergicus) é o principal responsável pela infecção humana, em razão de existir em grande número e da proximidade com seres humanos.

A L. interrogans multiplica-se nos rins desses animais sem causar danos, e é eliminada pela urina, às vezes por toda a vida do animal. A L. interrogans eliminada junto com a urina de animais sobrevive no solo úmido ou na água, que tenham pH neutro ou alcalino. Não sobrevive em águas com alto teor salino.


A L. interrogans penetra através da pele e de mucosas (olhos, nariz, boca) ou através da ingestão de água e alimentos contaminados. A presença de pequenos ferimentos na pele facilita a penetração, que pode ocorrer também através da pele íntegra, quando a exposição é prolongada. Os seres humanos são infectados casual e transitoriamente, e não tem importância como transmissor da doença. A transmissão de uma pessoa para outra é muito pouco provável.

Riscos

No Brasil, como em outros países em desenvolvimento, a maioria das infecções ocorre através do contato com águas de enchentes contaminadas por urina de ratos. Nesses países, a ineficácia ou inexistência de rede de esgoto e drenagem de águas pluviais, a coleta de lixo inadequada e as conseqüentes inundações são condições favoráveis à alta endemicidade e às epidemias. Atinge, portanto, principalmente a população de baixo nível sócio-econômico da periferia das grandes cidades, que é obrigada a viver em condições que tornam inevitável o contato com roedores e águas contaminadas.

A infecção também pode ser adquirida através da ingestão de água e alimentos contaminados com urina de ratos ou por meio de contato com urina de animais de estimação (cães, gatos), mesmo quando esses são vacinados.

A limpeza de fossas domiciliares, sem proteção adequada, é uma das causas mais freqüentes de aquisição da doença. Existe risco ocupacional para as pessoas que têm contato com água e terrenos alagados (limpadores de fossas e bueiros, lavradores de plantações de arroz, trabalhadores de rede de esgoto, militares) ou com animais (veterinários, pessoas que manipulam carne).

Em países mais desenvolvidos, com infra-estrutura de saneamento mais adequada, a população está menos exposta à infecção. É mais comum que a infecção ocorra a partir de animais de estimação e em pessoas que se expõem à água contaminada, em razão de atividades recreativas ou profissionais.

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