Bolsonaro e Paulo Guedes colecionaram uma sequência de declarações e anúncios em escala nos últimos dias: 1) afrontas à China; 2) ataques ao Mercosul; 3) anúncio da transferência da embaixada brasileira para Jerusalém, o que levou a uma reação imediata dos países árabes (aqui) e 4) ameaça de rompimento das relações diplomáticas com Cuba.
Um exame sereno da relevância das relações comerciais do Brasil com estes países e blocos mostra o tamanho do desastre em perspectiva. Os número são do próprio Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), e podem ser consultados (clique aqui e depois em Países e Blocos e você verá os números do comércio exterior de janeiro a setembro deste ano). Até setembro, o comércio exterior brasileiro (exportações mais importações) somava US$ 179,6 bilhões.
Veja a relevância do comércio do país com os países e blocos sob ataque de Bolsonaro & Cia (mais uma vez, números de janeiro a setembro deste ano):
China - US$ 49,3 bilhões (27% das exportações e importações brasileiras -é o maior parceiro comercial do Brasil)
Mercosul - US$ 16,7 bilhões (9,2%)
Países árabes - US$ 9,9 bilhões (5,5%)
Cuba - US$ 6,5 bilhões (3,6%)
Total: US$ 82,4 bilhões (44,6% do total de exportações e importações brasileiras)
Em reportagem publicada nesta quinta (1), o 247 já havia advertido para os riscos em relação a dois dos maiores parceiros comerciais do Brasil, a China e o Mercosul:
O Mercosul, em especial a Argentina, é o destino de 10% das exportações brasileiras, num intercâmbio comercial no qual o Brasil é amplamente superavitário. Em 2017 as exportações brasileiras para os demais países do bloco totalizaram US$ 22,6 bilhões, enquanto as importações de produtos procedentes dos países parceiros do bloco significaram US$ 11,9 bilhões – um superávit de US$ 10,7 bilhões. Ainda mais: 85% das exportações brasileiras para os países do bloco é de produtos industrializados, manufaturados e semi-manufaturados, ou seja, produtos com maior valor agregado, que geram emprego, trabalho e renda. É o oposto do comércio que o Brasil mantém com o resto do mundo, cuja pauta exportadora é de matérias-primas e commodities.
Da mesma maneira, os seguidos ataques de Bolsonaro à China são incompreensíveis, exceto pelo viés ideológico. O país é o maior parceiro comercial brasileiro e quase a metade de todo o do superávit comercial global do país vem das relações com os chineses: 32 bilhões de dólares em 2017. A China, que vinha se mantendo calada, reagiu nesta quarta-feira (31) aos ataques de Bolsonaro num editorial do China Daily, jornal que funciona como porta-voz informal do governo (aqui). O texto trouxe uma advertência clara: um eventual giro da política externa brasileira para uma submissão aos Estados Unidos pode representar um "o custo econômico duro para a economia brasileira".
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