Todos os historiadores israelenses reconhecem a importância no Brasil no processo que levou à criação do Estado de Israel, em 1947. Foi um brasileiro, Oswaldo Aranha, quem presidiu as sessões que levaram à repartição do território da Palestina e abriu caminho para a criação do Estado de Israel.
Aranha dá nome a uma importante rua em Tel-Aviv, que os estudantes mais maduros conhecem como a capital de Israel. Também é nome de uma praça em Jerusalém, cidade sagrada para judeus, muçulmanos e cristãos e é uma cidade reivindicada como capital tanto por Israel quanto pela Palestina.
Portanto, para contar com a gratidão e reconhecimento de Israel, o Brasil não precisa levar adiante a ideia de Jair Bolsonaro de transferir a embaixada brasileira em Tel Aviv para Jerusalém.
Essa transferência contraria resolução da ONU, mas foi realizada por Donald Trump no caso americano e por dois países menores, Guatemala e Paraguai, que acabou voltando atrás.
Bolsonaro está comprando um conflito que não nos pertence e vai perturbar a relação dos brasileiros com os países árabes. A troco de quê?
Igrejas evangélicas, como a Universal do Reino de Deus, são ativas defensoras da cultura judaica. Nos templos de Edir Macedo, os pastores já usam vestimentas típicas de rabinos.
O maior desses templos, o de Salomão, em São Paulo, tem símbolos judaicos por toda parte, como a menorah, candelabro de sete pontas e réplicas das tábuas da lei.
Esses símbolos ocuparam antigas inscrições como “Jesus Cristo É o Senhor”, presentes nos templos originais.
Edir Macedo, hoje um dos mais importantes aliados de Bolsonaro, não é o único líder evangélico que se aproximou do judaísmo.
É próspero o turismo promovido nas igrejas evangélicas, com viagens guiadas por pastores a Israel.
Bolsonaro, ainda deputado, participou de algumas dessas excursões, e numa delas se permitiu ser batizado nas águas do rio Jordão pelo pastor Everaldo, presidente do PSC.
Agora, ao colocar a diplomacia brasileira no centro de um conflito antigo entre israelenses e árabes, Bolsonaro agrada lideranças evangélicas, ao mesmo tempo em que coloca em risco negócios de empresas brasileiras, má decisão para um país que precisa gerar empregos.
O Brasil tem negócios bilionários com países árabes, e o anúncio da decisão é acompanhado com preocupação por empresas brasileiras, especialmente no setor de carne.
O país é a maior fornecedor de frango hallal, abatido conforme as orientações muçulmanos.
O frango brasileiro faz parte de um comércio bilateral que, só no primeiro semestre deste ano, somou 5,1 bilhões de dólares, conforme reportagem de O Estado de S. Paulo.
Vale a pena colocar em risco parte e esse comércio e décadas de construção diplomática para agradar radicais evangélicos e israelenses?
Oswaldo Aranha disse que o Brasil só teve papel decisivo na criação do Estado de Israel em razão da neutralidade pessoal dele.
Pode não ser verdade — Aranha tinha uma relação antiga com judeus e, como ministro das Relações Exterior de Getúlio Vargas, facilitou a concessão de visto para judeus que fugiam do nazismo.
Mas, em diplomacia, conta muito a imagem do diplomata. Apresentar-se como neutro é estratégico para aparar arestas, evitar conflitos desnecessários e se aproximar de um objetivo.
Bolsonaro está fazendo exatamente o contrário, e pode causar prejuízos econômicos ao Brasil
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