5.14.2008

Câncer de próstata. Qual a melhor saída?

Câncer de próstata
Qual a MELHOR SAÍDA?
Todos os tratamentos têm prós e contras. Daí que, feito o diagnóstico, o desafio dos especialistas é indicar o caminho mais adequado a cada paciente.

Um artigo publicado na revista científica americana Annals of Internal Medicine está lançando luz sobre um debate que mobiliza urologistas de todo o planeta: qual o melhor tratamento para o câncer de próstata? Tratou-se de uma revisão de mais de 500 pesquisas patrocinadas pela Agency for Healthcare Research and Quality, instituição de saúde do governo dos Estados Unidos. O trabalho compara a eficácia e os riscos de oito terapias e conclui que não há superioridade de uma sobre as demais, já que todas são eficientes, mas passíveis de complicações. Em vez de eleger o tratamento mais efetivo, o trabalho mostra que o que há é uma atitude pior ou melhor a ser tomada em cada caso, afirma Eric Wroclawski, professor de urologia da Faculdade de Medicina do ABC, na Grande São Paulo.

A cada quatro minutos, um homem é diagnosticado com câncer de próstata no Brasil e, a cada 25 minutos, um paciente morre. A estimativa, feita por Miguel Srougi, professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP, mostra o peso da doença para a população masculina. As terapias entram para evitar a morte e minimizar as complicações, entre elas a disfunção erétil e a incontinência urinária. Um dos grandes desafios hoje é determinar quais homens precisam de fato ser tratados, explica o médico Srougi. Se a expectativa de vida, independentemente da doença, for inferior a dez anos e o câncer tiver uma evolução lenta, não se justifica submetê-los a tratamentos agressivos, analisa Sami Arap, professor emérito de urologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Para os especialistas, no entanto, ao contrário do que o levantamento recémpublicado pelos americanos dá a entender, alguns tratamentos levam, sim, vantagem sobre os outros. Em um tumor localizado, a cirurgia é ligeiramente superior à radioterapia, exemplifica Arap. Feita como primeira opção, ela permite que o doente se submeta a outra conduta se, um dia, o tumor voltar. O mesmo não acontece se a radioterapia for a primeira escolha. O procedimento leva à necrose dos tecidos. Eles endurecem e isso dificulta ou até mesmo impossibilita uma cirurgia mais tarde, opina.

A medição do PSA no sangue, sigla em inglês para antígeno prostático específico, que flagra uma proteína produzida pelas células da próstata, revolucionou o diagnóstico do câncer. É que ela permitiu a detecção precoce do mal, quando o tumor ainda é tratável. Até a descoberta desse marcador biológico, a maior parte dos homens era diagnosticada em estágios avançados da doença, o que resultava numa mortalidade muito mais elevada do que a que se observa hoje em dia.

A disseminação do teste, entretanto, vem sendo questionada por algumas instituições de saúde. O que se alega é que o exame estaria provocando um excesso de diagnósticos, levando muitos homens a condutas agressivas desnecessárias. Discute-se se, hoje, estaríamos tratando pessoas que talvez não precisassem ser operadas, mas, infelizmente, ainda não chegamos ao ponto de saber, numa fase inicial, se o tumor terá uma evolução lenta ou rápida, explica Luiz Alberto Torres, ex-presidente do braço mineiro da Sociedade Brasileira de Urologia.

Para Eric Wroclawski, a medicina está numa fase de transição de conhecimento. De fato, há gente demais sendo tratada. Mas, por outro lado, em um grande número de casos ainda chegamos tarde demais. Sami Arap pondera: Embora não haja comprovação de que o uso rotineiro do exame de PSA esteja ligado à menor incidência de mortes por esse câncer, a suspeita é que sim. O fato é que o número de óbitos caiu dramaticamente em relação a 20 anos atrás.

E um detalhe em que os especialistas são unânimes: o PSA é importante, mas não se deve esquecer o toque retal. Esse exame, feito no consultório, ainda é motivo de preconceito, mas ajuda o médico a definir se o paciente deve se submeter a exames mais detalhados para fechar o diagnóstico. E, claro, acertar na melhor saída.

TESTE ESSENCIAL
PSA é um exame extremamente sensível, mas não específico. Isso significa que alterações nos níveis do marcador no sangue podem ser causadas por outros fatores que não um tumor uma inflamação na próstata, por exemplo. O teste também é incapaz de determinar se o câncer terá crescimento lento ou rápido. Por isso, os médicos passaram a fazer uso de outras informações fornecidas pelo próprio PSA, como a velocidade com que ele cresce ao longo dos meses. Se a elevação dos níveis se dá num curto espaço de tempo, essa é uma pista da presença de câncer mais agressivo, diz o urologista Eric Wroclawski.

A ciência busca um marcador que não leve a tantos falsos positivos, como ainda acontece com o PSA. Cientistas da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, por exemplo, desenvolveram um teste feito na urina, e não no sangue, capaz de fl agrar a presença de quatro tipos de moléculas de RNA típicas do câncer de próstata. Esses marcadores identificaram 80% dos pacientes que, depois, foram diagnosticados de fato com o tumor. Os resultados saíram na edição de fevereiro da publicação científica americana Cancer Research. A idéia é chegar a um exame que seja tão acurado que dispense a biópsia, conta a SAÚDE! Arul Chinnaiyan, autor da pesquisa.

TERAPIAS ANTITUMOR
Conheça as opções de tratamento mais comuns no Brasil e suas indicações:

›› PROSTATECTOMIA RADICAL
Trata-se da remoção total da próstata e das glândulas seminais, recomendada quando o câncer está localizado. O pós-operatório é dolorido e a incidência de disfunção erétil e incontinência urinária é maior do que na radioterapia.

›› ROBÓTICA
O Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, acaba de adquirir equipamentos para essa operação, feita por meio de pequenos furos no abdome, como na laparoscopia. É mais demorada do que a prostatectomia, mas o pós-operatório é menos doloroso.

›› HORMONIOTERAPIA
Aplicada quando o câncer já se espalhou, não cura, mas reduz o seu tamanho. Consiste na remoção dos testículos, produtores da testosterona, que alimenta o câncer, ou no uso de remédios que previnem a produção ou bloqueiam a ação do hormônio. Muitos relutam em aceitar a conduta porque ela pode levar à redução da libido ou ao crescimento das mamas.

›› RADIOTERAPIA
É a alternativa para tratar o tumor localizado. Destrói paulatinamente células doentes com material radioativo. São necessárias várias sessões, rápidas e indolores. Mas pode provocar distúrbios intestinais.

›› BRAQUITERAPIA
Também é uma opção para o tumor localizado. O material radioativo, no caso, é liberado apenas perto da glândula, onde precisa atuar. Isso preserva um maior número de células sadias.

›› OBSERVAÇÃO VIGILANTE
O mais polêmico dos procedimentos, limita-se a acompanhar o paciente ao longo dos anos. Costuma ser sugerido a doentes idosos ou aos portadores do câncer indolente, isto é, que cresce superdevagar.

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