STRESS
Psicólogos ensinam uma moderna maneira de superar os traumas e desgastes do dia-a-dia - e ainda aprender com eles. De vez em quando, uma idéia contagia o mundo. Na área da psicologia e da psiquiatria, o mais recente conceito a virar moda é o da resiliência. Nos últimos cinco anos, ele passou a fazer parte do vocabulário de universidades, serviços de apoio governamentais, hospitais e empresas. O fenômeno é especialmente intenso nos Estados Unidos e no Canadá, mas está ocorrendo também em países como a França, a Alemanha e a Noruega, onde já existem centros de estudo e instituições dedicadas ao tema. Mas o que o termo pode acrescentar às nossas vidas? Muito. E o que ele significa? É a mais nova arma usada para ajudar os indivíduos a suportar melhor as pressões da vida moderna. Sejam elas de grandes dimensões, como as perdas de emprego, sejam as pequenas, aquelas provocadas por aborrecimentos no trânsito, no cinema, em casa com a empregada doméstica ou com um vizinho. Na verdade, resiliência é um conceito oriundo da física, que define a capacidade de um objeto retomar a sua forma original depois de sofrer um impacto. Como a bola de futebol depois do chute. O que os especialistas estão fazendo é se apropriar da idéia para se referir à capacidade que uma pessoa tem de reestruturar sua vida após um impacto adverso de qualquer natureza, como explicou à ISTOÉ a cientista Anne Borge, do Instituto de Psicologia da Universidade de Oslo, na Noruega, uma das mais respeitadas autoridades nesse campo. "Resiliência significa o bom desenvolvimento em contextos significativamente desfavoráveis. É o reconhecimento de que existe uma grande variação nas respostas das pessoas a esses tipos de situações. Alguns sucumbem ao menor stress, enquanto outros lidam com sucesso com as mais terríveis experiências", disse. No Brasil, o conceito começa a ganhar espaço. Na última semana, o Hospital das Clínicas de São Paulo (HC/SP) anunciou a criação de grupos de resiliência com duração de três meses para pessoas que anseiam por uma maneira de enfrentar com menos sofrimento as agruras do dia-a-dia. Desde então, os telefones do Instituto de Psiquiatria não pararam mais de tocar. A média é de 50 ligações por dia de interessados. À frente do projeto está o psiquiatra Elko Perissinotti, que desde janeiro ministra treinamentos semanais de resiliência a pacientes de síndrome do pânico, transtorno bipolar, fobia social e transtornos obsessivos-compulsivos, entre outros distúrbios. "Essas pessoas se sentem muito fragilizadas. Muitas vezes, nem sequer conseguem dizer não por medo da rejeição. Dou a elas recursos para manejar melhor o cotidiano", situa o psiquiatra. Com a ajuda de técnicas de psicodrama, durante esses encontros os participantes recriam as cenas problemáticas para que a platéia as discuta e proponha outros desfechos. A receptividade à idéia de estender esse treinamento a indivíduos sem nenhum transtorno surpreendeu o psiquiatra. "Não esperava tanta gente", diz. A perspectiva de sair com menos arranhões e até com saldo positivo dos impasses comuns na vida doméstica e profissional é sedutora. As empresas sabem disso e têm investido nos cursos para aumentar o grau de resiliência dos funcionários, que, segundo uma pesquisa feita pela International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR), é baixo. No levantamento realizado pela entidade em três Estados brasileiros com 1.635 pessoas, apenas 227 delas reuniam as características que definem um ser resiliente. "Estamos falando da capacidade de a pessoa suportar o stress e superá-lo. Ela cresce emocionalmente interpretando os problemas como desafios, resolvendo conflitos com criatividade e sendo flexível para se adaptar às situações", diz a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da entidade. Nos cursos que organiza nas empresas, ela mostra como essa competência pode ser desenvolvida. "Os estudos revelam que ter boa auto-estima, objetivos claros em diversas áreas da vida, espiritualidade e fé e boas redes de apoio, como laços afetivos e familiares sólidos e verdadeiros torna as pessoas mais resilientes", explica. Mas não se deve confundir resiliência com conformismo. Na prática, o esforço para fazer florescer a resiliência se confunde um pouco com as técnicas de controle do stress e outras aplicadas para lidar com situações complexas (chamadas de coping). "O controle do stress remete a métodos para lidar com a sobrecarga - entre eles fazer esporte ou meditação. Já o coping refere-se às estratégias de enfrentamento que uma pessoa usa para suportar uma situação adversa. Diante da doença, pode rezar ou ir ao médico. A resiliência está relacionada a esses aspectos, mas considera fatores internos e externos", explica o médico e psicoterapeuta João Figueiró, de São Paulo, pesquisador do HC/SP que estuda o tema. O sentido da resiliência, para alguns especialistas, é ainda mais profundo e está conectado com os primeiros estudos sobre o assunto. No final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, os psicólogos começaram a estudar as características de pessoas que não tinham sucumbido aos terríveis sofrimentos dos campos de concentração nazistas. Por que elas resistiram e outras não? O mesmo se via em crianças que conseguiam Fimanter o desenvolvimento normal, apesar da perda dos pais ou de terem sofrido traumas, como o assédio sexual. A princípio, pensava-se que possuíam algum tipo de invulnerabilidade, mas com o tempo as descobertas mostraram outras razões. "Hoje sabemos que há fatores de proteção que podem ser estimulados desde a infância. Um deles é a sensação de ser amado", diz a psicóloga Sandra Cabral Baron, da Universidade Federal Fluminense e coordenadora da rede Resiliência, projeto que combina várias formas de expressão artística, como dança, pintura e música, para fortalecer a criançada em situação de risco nas favelas cariocas. Na opinião da norueguesa Anne, de fato essas redes de apoio social, como organizações de bairro, entidades de jovens e até rodas de samba, têm um papel central na construção dessa capacidade. A psicóloga Sandra segue a linha de ação do neuropsiquiatra francês Boris Cyrulnik, que tem viajado pelo mundo aplicando suas idéias sobre resiliência em países vitimados por catástrofes, como a Tailândia, atingida pelo tsunami, e a Bósnia, depois da guerra. Autor de cinco livros, dois deles traduzidos para dez idiomas, Cyrulnik é o protagonista de uma grande polêmica no campo da psicologia. Ele contesta a idéia de que pessoas que passaram por grandes traumas ou carências terão seu desenvolvimento limitado para sempre. "A nossa história não é nosso destino", afirma. Cyrulnik defende que é possível sobreviver criativamente aos traumas e redescobrir a alegria de viver, desde que a pessoa tenha experimentado na infância uma boa relação afetiva. Por sua força, as teorias da resiliência são um campo novo e vasto que tem se mostrado extremamente importante em face das turbulências do mundo concontemporâneo. Elas têm sido cada vez mais aplicadas no atendimento a populações vulneráveis e castigadas por guerras e desastres naturais. Nas intervenções feitas nesses locais, os pesquisadores têm compreendido melhor os mecanismos que fazem uma pessoa e até uma cidade inteira responder de maneira positiva e criativa a uma catástrofe. Algumas dessas constatações foram tema de debate em abril deste ano, durante uma conferência que reuniu em Estocolmo, na Suécia, intelectuais de vários campos do conhecimento, como ecologistas, especialistas em ética, psicologia e sociologia. "Temos olhado apenas para as adversidades. Mas a existência de sociedades que se desenvolvem melhor do que outras, mesmo com problemas semelhantes, mostra que o ser humano tem recursos de autocorreção. E que eles nos dão a esperança de achar caminhos para melhorar os métodos de prevenção e proteção da saúde e bem-estar humanos", afirma.
MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA NA VIDA MODERNA -
Em casa - BARULHO E BAGUNÇA FEITOS POR FILHO - Reação comum - Irritação, gritos repreensivos, tapas "educativos". - Atitude resiliente - Espere o auge da irritação passar. Explique que há regras na casa e que elas ajudam a viver em paz sob o mesmo teto. Repita quais são elas.
EMPREGADA DOMÉSTICA QUE QUEBRA LOUÇA, QUEIMA ROUPA... Reação comum - Queixas e escândalos freqüentes. - Atitude resiliente - Se você tiver receio de perder a empregada, e por isso não tem uma conversa franca com ela expondo sua insatisfação, tente superar esse temor em benefîcio de si próprio. Lembre-se que ninguém é insubstituível. Também avalie se deve reservar algum tempo para treiná-la. Vizinhos (barulho/ intromissão, etc.) Reação comum - Querer "tirar satisfações" e até agressões. Atitude resiliente - Ouça os argumentos do outro e apresente os seus. Tente o acordo. Se não der, pense em recorrer ao Tribunal de Pequenas Causas. NO TRABALHO - Pressão por cumprimento de prazo - Reação comum - Stress, mal-estar com a chefia. - Atitude resiliente - Avalie seu grau de organização, faça mudanças na lista de prioridades do que tem a fazer, reveja seus padrões de qualidade.
CHEFE DE TEMPERAMENTO DIFÍCIL, QUE GRITA - Reação Comum - Falar manso acreditando que isso o acalmará. É um equívoco e você corre o risco de passar por fracote. Atitude Resiliente - Seja firme, sem gritar. Defenda seu ponto de vista sem exibicionismo e sem expor as "neuroses" do chefe. A aplicação do conceito de resiliência ajuda a encontrar boas soluções para situações adversas. Para tanto, deve-se ver os obstáculos como desafios. Observe como se expressa o modo resiliente no dia-a-dia.
LIDAR COM COLEGAS QUE SE CONSIDERAM MELHORES DO QUE OS OUTROS - Reação Comum - Inveja e maledicência. Atitude Resiliente - Considere o real valor da pessoa e ignore o estrelismo. Imagine que na testa dela está escrito: "preciso ser assim para sobreviver". E entenda que isso é problema dela, não seu.
NÃO TER A PROMOÇÃO ESPERADA - Reação Comum - Sentir-se injustiçado e desvalorizado. Atitude Resiliente - Observe a conjuntura profissional. Quais são as prioridades dos seus chefes? Se você não está entre elas, crie um contexto mais favorável. Se quiser continuar na empresa, procure deixar seu valor mais evidente. Caso contrário, busque outro lugar.
NA RUA, FECHADA NO TRÂNSITO - Reação Comum - Xingamentos, perseguição ao outro motorista. Atitude Resiliente - Os atos no trânsito refletem seu estado emocional. Se a raiva for intensa, pode indicar grande tensão. Avalie meios de relaxar. TRÂNSITO ENGARRAFADO - Reação Comum - Nervosismo, desconforto. Atitude Resiliente - Procure horários, caminhos e meios de transporte opcionais. Pode-se aderir a movimentos que discutem propostas para as cidades. BATIDA NO CARRO - Reação Comum - Culpar o outro. Atitude Resiliente - É do seu interesse que haja discussão? Seja breve e objetivo: veja se tem alguém que precisa ser socorrido, cheque os danos e como serão reparados. E pronto.
ATRASO DE AVIÃO - Reação Comum - Bate-boca com atendentes do balcão. Atitude Resiliente - Reivindique os seus direitos educadamente, mas com veemência. Por exemplo, exija que paguem um bom hotel, se o atraso o obrigar a dormir na cidade. Tenha paciência com o que não pode ser corrigido no momento. GENTE QUE FURA FILA - Reação Comum - Xingamentos, discussões e, às vezes, agressão física. Atitude Resiliente - Reclamar junto aos responsáveis (se houver). Diga ao espertinho que ele pode não ter visto, mas o final da fila é lá atrás. ASSÉDIO - Reação Comum - Mal-estar, ojeriza, ódio. Atitude Resiliente - Dialogar claramente para colocar limites e mostrar a necessidade de ser tratado com mais respeito. Reclame às autoridades. ATRASO MÉDICO - Reação mais comum - Mau humor, cansaço. Atitude Resiliente - Conversar com o profissional sobre o fato de que você também depende de horários. Se ele não mudar, troque de médico.
NO SHOPPING, LADRÃO DE VAGA NO ESTACIONAMENTO - Reação Comum - Reclamação e busca de outra vaga. Atitude Resiliente - Diga à pessoa que ela pode ter se enganado, pois você aguardava a vaga. Peça que retire o carro. É raro dar certo, mas diminui a irritação.
VENDEDOR MUITO INSISTENTE - Reação Comum - Ficar ouvindo tempo demais antes de recusar. Atitude Resiliente - Diga "não" com firmeza e calma uma única vez, sem dar ouvidos à insistência.
INCIDENTE NO ESTACIONAMENTO (ROUBO, BATIDA OU ARRANHÃO) - Reação Comum - Chama-se o gerente e nada se resolve. Atitude Resiliente - Não perca tempo. Comunique ao gerente, faça boletim de ocorrência e procure o Tribunal de Pequenas Causas. NO RESTAURANTE, GARÇOM QUE ATENDE MAL - Reação Comum - Queixar-se com o garçom e mandar chamar o gerente. Atitude Resiliente - Pedir outro garçom em geral desperta o corporativismo. Peça a conta no ato e informe ao gerente que foi mal atendido.
NO CINEMA, GENTE CONVERSANDO - Reação Comum - Pedir silêncio. Atitude Resiliente - Se puder, troque de lugar. Se não der, peça silêncio. Caso o incômodo continue, chame o gerente.
NO TELEFONE, CHAMADA DE TELEMARKETING - Reação Comum - Recusa ao produto, mas com dificuldade para desligar. Atitude Resiliente - Agradeça a oferta e desligue antes de um novo argumento da outra parte.
DIFICULDADE PARA RECLAMAR DE UM SERVIÇO - Reação mais comum - Nervosismo. Atitude Resiliente - Faça uma queixa junto à ouvidoria do serviço. Vá ao Procon.
NA VIDA PESSOAL, PRESSÃO POR CORPO PERFEITO - Reação Comum - Exageros na dieta, nos exercícios. Atitude Resiliente - Avaliar se tem energia suficiente para cumprir um programa de emagrecimento orientado por especialistas.
DIFICULDADE DE DIZER NÃO - Reação Comum - Aceitar tarefas ou assumir opiniões sem querer. Atitude Resiliente - Tenha seu tempo. Explique sua posição com clareza até conseguir soltar o "não".
SEPARAÇÃO CONJUGAL - Reação Comum - Sensação de inadequação, raiva. Atitude Resiliente - O que você gosta de fazer sozinho? Permita-se reencontrar o que lhe dá prazer.
MORTE DE ENTE QUERIDO - Reação Comum - Sensação de desamparo, depressão. Atitude Resiliente - Compartilhe lembranças com as pessoas próximas, permita-se chorar e receber carinho. PERDA DE EMPREGO - Reação Comum - Sentir-se ultrapassado. Atitude Resiliente - Trace uma estratégia de contatos e avise que está disponível para novos desafios. Se puder, faça cursos de aperfeiçoamento.
NO COMPUTADOR, PANE - Reação Comum - Raiva, desespero. Atitude Resiliente - Respire fundo e não deixe curiosos mexerem no aparelho. Acione o fabricante ou uma empresa credenciada. E lembre-se que é sempre preciso fazer backup.
FALHAS DE INTERNET - Reação Comum - Irritação. Atitude Resiliente - Se for urgente, descubra onde há uma lan house nas imediações. E procure melhores provedores.
Fonte: ISTO É
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