02/08/2009
Pesquisador da UnB cria um novo tipo de cateter para ajudar a evitar problemas em cirurgias de correção de arritmias cardíacas. Poucas pessoas percebem, mas as inovações tecnológicas que contribuem para preservar a vida de milhares de pessoas muitas vezes são desenvolvidas por profissionais que, aparentemente, nada têm a ver com a medicina.
Um novo cateter criado por um pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, promete tornar mais seguro o procedimento cirúrgico que corrige ou minimiza alguns tipos de arritmia cardíaca. A doença é responsável por um terço dos acidentes vasculares isquêmicos no mundo. Desenvolvido pelo engenheiro elétrico Rui Alves de Sousa durante o mestrado, o "cateter esofágico acessório" pretende evitar a morte de pacientes vítimas de uma complicação que ocorre na ocasião da chamada cirurgia de ablação por radiofrequência.
"A ablação é uma cauterização da parte do tecido cardíaco que provoca a arritmia. Uma vez cauterizado, o descompasso cessa. No entanto, quando a área a ser tratada fica no átrio esquerdo, região próxima ao esôfago, existe risco de ocorrer uma fissura entre os dois órgãos. Essa lesão é decorrente da elevação excessiva da temperatura no local.
Não é muito comum, mas quando acontece é fatal", explica o criador do novo cateter. Segundo o pesquisador, apesar de a ablação ser um aquecimento controlado, atualmente a temperatura entre as duas estruturas não pode ser medida com segurança. "O cirurgião trabalha em cima de estimativas e caso os 50° C sejam ultrapassados, a fístula é praticamente inevitável. O problema é que o procedimento é encerrado sem que a lesão seja notada. Os dois órgãos, o esôfago e o coração, acabam colando um no outro.
Com os batimentos, cerca de 10 dias depois da cirurgia ocorre um rompimento e o sangue invade o esôfago ou o ar invade o coração, o que leva à morte", relata Rui. Consciente do risco enfrentado por médicos e pacientes, o engenheiro se empenhou para desenvolver um cateter esofágico capaz de medir e monitorar a temperatura em toda região que pode ser afetada pela cauterização.
"Esse cateter é introduzido pela boca e, diferentemente do equipamento usado para cauterizar, ele apenas faz a medição constante da temperatura durante a cirurgia para evitar danos inesperados. Ele trará segurança aos médicos, pois hoje os cirurgiões podem apenas estimar o momento ideal para interromper o precedimento com segurança", detalha o professor da UnB Ícaro dos Santos, orientador da dissertação de Rui. AVISO - Com o equipamento desenvolvido na Universidade de Brasília, durante a ablação por radiofrequência a temperatura do esôfago é medida simultâneamente por cinco termistores (termômetros) que ficam no interior do cateter esofágico. "Nosso cateter é conectado ao computador, que informa ao cirurgião as variações da temperatura em pontos diferentes. Assim, não há perigo de ocorrer a fístula", observa. Por enquanto, o cateter foi testado apenas em laboratório, mas, de acordo com o professor Ícaro, o próximo passo do projeto é tentar financiamento para testar o equipamento em animais e humanos e produzi-lo em escala comercial. "É uma etapa que demanda recursos consideráveis. Nosso objetivo é buscar incentivos junto a instituições governamentais de pesquisa ou empresas que queiram explorar comercialmente esse dispositivo", adianta o docente. O eletrofisiologista Eduardo Saad, especilista no procedimento de ablação por radiofrequência, observa que o cateter usado há alguns anos para medir a temperatura durante a ablação tem somente um termistor e não cobre toda a região tratada. "Venho usando um cateter esofágico de uma empresa americana que está realizando um protocolo de testes. Ele tem seis termistores e funciona muito bem. Imagino que o equipamento da UnB deve ser parecido e virá para contribuir com a medicina", considera o médico. A equipe do eletrofisiologista José Barreto lança mão do ecocardiograma intracardíaco para evitar a fístula átrio-esofágica.
"Por meio dele, visualizamos o átrio esquerdo e a relação com o esôfago, o que proporciona mais segurança no procedimento. O equipamento da UnB facilitaria bastante. Acho importante a instituição desenvolver tecnologias que colaborem com os médicos e protejam o paciente", completa. - Márcia Neri -
Fonte: Correio Braziliense - Portal Médico
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