O governo sul-africano falha ao não oferecer a circuncisão, cirurgia "que reduz em mais de 50% o risco de um homem contrair o vírus HIV".
Continente reforça combate à Aids, mas África do Sul falha. ORANGE FARM, África do Sul - Foi comprovado que a circuncisão reduz em mais de 50% o risco de um homem contrair o vírus HIV.
Mas, dois anos depois de a Organização Mundial da Saúde ter recomendado a cirurgia, o governo sul-africano ainda não a oferece para ajudar a combater a AIDS ou educa o público sobre seus benefícios.
Outros países africanos são líderes no procedimento, oferecendo-o a milhares de homens. No entanto, na África do Sul, o coração da epidemia, o governo se mantém silencioso, apesar das fortes críticas internacionais que o país sofreu por sua lentidão anterior no combate e tratamento da AIDS.
"Os países à nossa volta, com menos recursos humanos e financeiros, conseguem alcançar muito mais", disse Quarraisha Abdool Karim, primeiro diretor do programa nacional da AIDS da África do Sul, em meados dos anos 1990, sob o presidente Nelson Mandela. "Gostaria de entender por que a África do Sul, que tem um volume de recursos invejável, não consegue reagir à epidemia do modo como Botsuana e Quênia reagem." Mesmo sem o envolvimento do governo, a demanda pela cirurgia, realizada gratuitamente e com anestesia local, aumentou no ano passado na clínica de Orange Farm, a única desse tipo na África do Sul. "Eu fiz 53 [procedimentos] em sete horas de trabalho", disse o médico Dino Rech, que ajudou a montar a clínica financiada pela França, com uma linha de montagem cirúrgica altamente eficiente para remoção de prepúcios. Há alguns dias, vários homens esperavam nervosamente sua vez. A maioria desejava que o procedimento os ajudasse a se manter saudáveis no país, que tem mais casos de HIV que qualquer outro.
Mas alguns também foram levados por outro motivo poderoso: tinham ouvido de amigos que a circuncisão resulta em melhor sexo. Você demora mais, eles disseram, e suas namoradas pensam que você é mais limpo e mais excitante na cama. "Minha namorada me perturbava sobre isso", disse Shane Koapeng, 24.
"Então eu disse: está bem, vou fazer." Enquanto as novas infecções pelo HIV continuam superando os esforços para tratar os doentes na África, existe uma crescente preocupação sobre os altos custos do tratamento para um número cada vez maior de pacientes que precisarão de medicamentos para o resto da vida. Quase 2 milhões de pessoas foram infectadas só em 2007 na África subsaariana, elevando o total dos portadores de HIV na região para 22 milhões, segundo estimativas das Nações Unidas.
Os principais doadores internacionais dos programas de AIDS, incluindo os Estados Unidos e o Fundo Global de Combate à AIDS, Tuberculose e Malária, estão prontos para aplicar dinheiro na circuncisão, mas os países precisam se dispor a aceitar a ajuda. Médicos de saúde pública concordam que circuncidar milhões de homens não será simples.
A África tem grande escassez de médicos e enfermeiras, e a circuncisão pode ser um problema político e cultural em países onde alguns grupos étnicos a praticam, e outros não. Mas alguns países estão mostrando que isso pode ser feito. Em Botsuana, a circuncisão foi amplamente interrompida no final do século 19 e início do 20 pelos administradores coloniais britânicos e missionários cristãos. Mas Festus Mogae, que foi presidente de 1998 a 2008, deu um apoio importante à circuncisão pouco antes de deixar o cargo, e a conscientização pública está sendo reforçada por anúncios no rádio e na televisão.
O governo pretende ter circuncidado 470 mil homens, desde bebês até os 49 anos, até 2016, perfazendo 80% do total desse grupo. No Quênia, onde os homens da etnia luo geralmente não praticam a circuncisão, o primeiro-ministro Raila Odinga, que é um luo, incentivou o procedimento e pediu que os idosos o apoiem.
O índice de infecção por HIV entre os homens luo é mais que o triplo do dos quenianos em geral: 17,5%, contra 5,6%. Até agora mais de 20 mil homens no Quênia foram circuncidados.
"Qualquer coisa que possa ajudar a salvar vidas precisa ser tentada", disse Odinga, acrescentando que ele foi circuncidado. Na África do Sul, em contraste, a circuncisão não tem um defensor político. O maior grupo étnico do país, os zulus, geralmente não a pratica desde o século 19.
Thabo Masebe, porta-voz do presidente Jacob Zuma, disse que o Ministério da Saúde deve primeiro definir uma política sobre a circuncisão antes que Zuma, que assumiu o cargo em abril, possa tomar uma posição. Zuma é zulu.
A Província de KwaZulu-Natal, o território zulu, tem o maior índice de HIV entre adultos no país, 39%, segundo a Unaids, agência da ONU de combate à AIDS. "A África do Sul não tem escassez de cientistas", disse Olive Shisana, executivo-chefe do Conselho de Pesquisas de Ciências Humanas, financiado pelo governo. "Temos escassez de pessoas dispostas a aceitar a evidência e usá-la para a saúde pública." - Por Celia W. Dugger -
Fonte: Folha de S.Paulo - Agência AIDS Online - Alerta Google
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