A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou, no início deste mês, uma nota
pública contra censura e intimidação de pesquisadores e pelo direito de se
produzir ciência para a defesa da vida.
Após apresentação de pesquisador da Fiocruz Ceará, durante audiência
pública para debater os agrotóxicos e saúde, o estudioso foi alvo de críticas,
constrangimentos e notificação judicial movida pela Federação da Agricultura
e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), questionando e solicitando
esclarecimentos sobre os dados apresentados, que foram produzidos
pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Das várias solicitações, destaca-se a que evitasse chamar os agrotóxicos
de “veneno” e passasse a chamá-los de “defensivos agrícolas. Exigência
que fere a legislação nacional. Comunicação em saúde é um direito da
população e um dever do Estado.
Confira na ítegra:
"O Conselho Deliberativo da Fiocruz, reunido entre os dias 1° e 2 de fevereiro de
2018, vem a público se manifestar contra a censura e intimidação de pesquisadores
e pelo direito de se produzir ciência para a defesa da vida.
Em apresentação técnica realizada por Fernando Carneiro, pesquisador da Fiocruz
Ceará, durante audiência pública para debater os agrotóxicos e seus efeitos sobre
a saúde e o ambiente, convocada pelo Ministério Público em Fortaleza, foram
apresentados dados do Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações
Expostas a Agrotóxicos.
Essa publicação é de responsabilidade do Departamento de Saúde Ambiental e
Saúde do Trabalhador (DSAST) da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do
Ministério da Saúde. Os dados mostravam que o Ceará era o terceiro maior
comercializador de agrotóxicos do Brasil (em quilogramas por área plantada),
tendo como referência o ano de 2013.
Após a apresentação, o pesquisador foi alvo de críticas e constrangimentos,
especificamente, entre os anos de 2015 e 2016. Dois anos depois do ocorrido,
em 18 de novembro de 2017, foi notificado por meio de uma interpelação judicial
movida pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec),
questionando e solicitando esclarecimentos sobre os dados apresentados,
que foram produzidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e divulgados
pela Fiocruz Ceará.
Dentre as várias solicitações da Faec, destaca-se que o pesquisador evitasse
também de chamar os agrotóxicos de “veneno” e passasse a chamá-los de
“defensivos agrícolas”, exigência que fere a própria legislação nacional,
que conceitua essas substâncias, tanto como agrotóxicos quanto como
veneno (explicitando-se, inclusive, nos rótulos desses produtos a figura
de uma caveira).
A Fiocruz, instituição do Ministério da Saúde, tem se pautado por meio de
atividades de pesquisa, ensino, cooperação e serviços sobre a temática dos
agrotóxicos, incluindo o atendimento ambulatorial, o monitoramento de
resíduos em água e alimentos ao longo de sua história e a comunicação em
saúde. A investigação dos impactos socioambientais e sanitários decorrentes
do uso dos agrotóxicos é uma das principais linhas de pesquisa desenvolvidas
por diversas unidades técnico-científicas da Fiocruz.
Vemos com muita preocupação a tentativa de censura e de intimidação ao
trabalhador da Fiocruz. A comunicação em saúde é um direito da população
e um dever do Estado, por meio de suas instituições públicas de saúde.
Esse CD apoia integralmente a posição da Presidência da Fiocruz, que assumiu
a defesa incondicional do pesquisador, por entender que é função de uma
instituição de Estado defender seus servidores para garantir o exercício de
suas funções básicas, nesse caso, envolvendo a divulgação de conhecimento
em defesa da vida.
Devemos responder de forma contundente para que os trabalhadores e
estudantes em saúde possam continuar desenvolvendo e publicando,
sem nenhum constrangimento, suas pesquisas sobre os impactos
socioambientais gerados pelos agrotóxicos e tenham condições
de exercer o seu trabalho, tendo a defesa do direito à saúde e da
cidadania ampla como valores centrais da Fiocruz."
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