Quem é que nunca esteve tenso? Quem é que nunca soltou uma infinidade de asneiras e de pragas perante determinadas situações?
Todos somos seres humanos carregados de emoções. Durante toda a nossa vida as nossas emoções vão nos acompanhar e caminhar ao nosso lado, independentemente do percurso que escolhamos fazer.
Perante qualquer situação reagimos emocionalmente. Umas vezes sem grande alarido ou efervescência, de uma forma que quase até nos esquecemos das nossas emoções, embora elas estejam lá sempre em pano de fundo. Outras vezes, certas situações trazem estados emocionais mais intensos, que nos recordam a voz das nossas emoções.
Existem emoções que causam tensão e rigidez no nosso corpo. Geralmente essas emoções são a zanga e seus derivados: Cólera, Ira e Raiva, para mencionar as mais comuns.
Podemos passar o dia inteiro zangados, tensos, carregados, com o maxilar tenso e o corpo semelhante a um bloco de pedra.
Naturalmente, se trazemos a zanga então será importante perceber o motivo pelo qual a carregamos e será importante dar-lhe importância e não a ignorar.
Quando estamos sozinhos podemos escolher livremente entre expressar esta zanga verbalmente para connosco mesmos ou não. Nestas situações, a nossa intimidade (o facto de estarmos sozinhos) confere conforto, perante o desconforto que poderíamos ter se expressássemos esta zanga em público.
Mas, quando estamos em contexto social, a nossa escolha entre expressar ou não a nossa tensão torna-se mais delicada. Não é fácil expressar certo tipo de emoções em público.
Surge então a questão: O que fazer perante esta tensão? Eu estou tenso, zangado, carregado, irritado, “com a neura”. O que vou fazer?
Caso escolhamos não expressar livremente a nossa zanga, temos então essencialmente duas opções: Ou abandonamos esta zanga e procuramos aceder a outras emoções, de forma a sermos uma companhia agradável. O que é uma opção, mas que nem sempre está disponível, dependentemente da intensidade desta zanga. Ou… “Abrimos o jogo” e falamos sobre a emoção que carregamos. E é aqui que eu quero chegar!
O que acontece quando falamos sobre as nossas emoções? Sobre como nos estamos a sentir?
O que acontece quando damos palavras às nossas emoções? Quando verbalizamos os nossos estados emocionais?
Em consultório recebo muitas pessoas tensas, que me olham com zanga, que, enquanto falam cerram o maxilar, fecham os punhos, têm movimentos bruscos. Estes pacientes, muitas vezes, não se dão conta do seu nível de zanga. Então eu, gentilmente peço para sentirem o seu corpo e para darem palavras à forma como sentem o seu corpo. O que acontece é que começam a falar sobre as suas emoções e quando falam sobre a sua tensão curiosamente esta dissolve-se.
Parece que verbalizar o estado emocional latente nas palavras e no corpo traz uma sensação de alívio.
Ora bem, nem sempre conseguimos simplesmente mudar de registo e ficar leves e descontraídos perante uma dada situação.
Nesses momentos, talvez faça sentido falar sobre a nossa emoção.
Vou dar um exemplo: Vamos imaginar que a Maria chega a casa e teve um dia péssimo. Teve uma discussão forte e feia com o seu chefe e as coisas azedaram bastante. Chega a casa muito tensa. O seu marido João chega 20 minutos atrasado, porque teve de ir de urgência a casa de um colega de trabalho e não pôde avisar a Maria porque ficou sem bateria no telemóvel. Quando o João entra em casa recebe uma Maria vulcânica pronta a rebentar, carregada de tensão. Maria “não abre o jogo” e fica fula com o atraso de João. Começam a discutir e a noite torna-se infernal.
Agora vamos imaginar outra possibilidade: Maria está novamente tensa, vem do trabalho depois de uma discussão com o seu chefe. João chega a casa. Maria está distante e tensa, mas diz-lhe. “João, chegaste 20 minutos atrasado e não disseste nada de nada! Estou chateada, mas, eu hoje também estou bastante irritada e tensa. Tive uma discussão com o meu chefe. Dá-me aí uma meia hora para relaxar e já falamos.”
Esta atitude de Maria verbalizar as suas emoções poderá fazer toda a diferença. João não se vai sentir atacado pela agressividade verbal de Maria e vai existir espaço para o diálogo.
A verbalização de estados emocionais contribui significativamente para a sua dissolução.
Se estiver permanentemente zangado, tenso, triste, ansioso. Se estas emoções persistirem, então talvez seja importante procurar um apoio psicoterapêutico. Se estas emoções forem de algum modo passageiras e próprias de níveis de sensibilidade, então verbalizar as suas emoções e “abrir o jogo” talvez possa fazer toda a diferença.
Naturalmente, deveremos escolher com quem falamos sobre “o que nos vai na alma”. Nem todas as pessoas estão disponíveis para nos ouvir ou compreender. Mas se estamos na iminência de passar algum tempo com uma pessoa e não nos conseguimos livrar da nossa tensão talvez faça sentido “abrir o jogo” e verbalizar as nossas emoções.
Penso que vale a pena pensar nisto