05/12/2008
Sistema imunológico de alguns soropositivos identifica e destrói células afetadas; pesquisa pode ajudar no desenvolvimento de vacina e terapias. O sistema imunológico de pessoas que convivem com o HIV há anos sem utilizar anti-retrovirais conta com mecanismos de defesa capazes de destruir células infectadas pelo vírus. Um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid, na sigla em inglês), em Bethesda, nos Estados Unidos, desvendou um dos mecanismos responsáveis pela proteção. O trabalho foi publicado hoje na revista científica Immunity e pode conduzir a novas terapias e vacinas contra a doença. Mark Connors, co-autor do estudo, descreveu ao Estado o perfil das pessoas analisadas na pesquisa: convivem com o HIV há 17 anos, em média, não utilizam anti-retrovirais, não desenvolveram quaisquer sintomas da doença e possuem menos de 50 cópias do RNA viral em cada mililitro do seu plasma sanguíneo - a freqüência mínima detectável nos exames de HIV mais comuns. "Há menos de 1 paciente com essas características para cada grupo de 500", aponta Connors. Os pesquisadores costumam chamá-los de controladores de elite. No estudo, os cientistas compararam células T CD8 de soropositivos comuns e de controladores de elite. As células T CD8 identificam células infectadas por vírus e as destroem liberando grânulos com toxinas. Segundo a pesquisa, as células T CD8 dos controladores de elite produzem mais toxinas do que as de outros soropositivos. São, portanto, mais eficazes na luta contra a doença. VACINA - O infectologista da USP Esper Kallas recorda que podem existir outros fatores - ainda desconhecidos - que melhoram a resposta do organismo à aids. Mesmo assim, comemora a publicação do artigo. "Havia dúvidas sobre os fatores que dão a algumas pessoas maior controle sobre a doença", afirma Kallas. "Características genéticas das células infectadas ou contágio por cepas mais fracas do HIV eram outras hipóteses para a eficácia no controle da doença." Segundo o infectologista brasileiro, o trabalho publicado na Immunity demonstra que o mérito pertence ao sistema imunológico dos controladores de elite. "Abre também a perspectiva de uma vacina eficaz: bastaria induzir as defesas naturais de outras pessoas a atuarem de uma forma semelhante", considera Kallas. Um dos autores da pesquisa, Jonah Sacha, esteve no laboratório de Kallas na semana passada. "Já temos pesquisas semelhantes no Brasil", afirma o infectologista. Para Connors, a pesquisa levará pelo menos dez anos para afetar a vida de quem convive com o HIV. Mas qualifica o resultado como um "passo prévio importante". - Alexandre Gonçalves -
Fonte: Estado de São Paulo
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