Bióloga ficou presa na Rússia por cerca de dois meses após um protesto.
Gaúcha desembarcou na capital, onde passará o Ano Novo com familiares.
Ana Paula Maciel chega a Porto Alegre e reencontra mãe (esq.), avó e pai (Foto: Rafaella Fraga/G1)
A ativista brasileira Ana Paula Maciel, 31 anos, uma das 30 pessoas do
Greenpeace presas na Rússia após um protesto contra a exploração de
petróleo no Ártico em setembro, voltou para casa. A bióloga desembarcou
por volta das 11h10 deste sábado (28) no Aeroporto Internacional Salgado
Filho, em Porto Alegre, depois de viajar por mais de 12 horas.
Veja fotos da chegada de Ana Paula a Porto Alegre.
"Se eu aceitei os riscos, é porque acho que vale a pena. Esses dois
meses na prisão valeram a pena. Eles [a Rússia] tiveram que admitir que
nós não somos piratas. Vou continuar trabalhando e navegando. Agora vou
descansar um mês, dois meses com a família. Mas depois vou continuar
seguindo o que sempre fiz", disse em entrevista coletiva após a chegada
(confira o vídeo ao lado).
A gaúcha lembrou do período que passou presa. "Foram os dois meses mais
dificeis da minha vida. A tensão era muito grande. Tudo o que eu tive
de chorar, eu chorei em Frankfurt. Lá eu entendi que era real, porque eu
estava em outro país", recordou.
Ana Paula Maciel ganhou orca de pelúcia ao chegar
a Porto Alegre (Foto: Rafaella Fraga/G1)
A ativista, no entanto, entende que sua prisão chamou a atenção do
mundo para a causa do meio ambiente. "Na verdade, a gente não sabe qual
foi o objetivo da Rússia com essa reação exagerada. Isso nunca foi
contra a Rússia, mas contra a indústria petrolífera. No final das
contas, eles cavaram um buraco e a única maneira de saírem desse buraco
foi nos concedendo a anistia. A anistia é para me perdoar por um crime
que eu não cometi", defendeu-se. "Se eu estivesse sentadinha na sala da
minha casa vendo TV, nada disso (prisão) teria acontecido. Só que também
nada disso teria acontecido", apontou para os repórteres ao comentar a
repercussão do caso.
No saguão do terminal aéreo, a família de Ana Paula a aguardava com
expectativa. A mãe, Rosângela Maciel, foi ao aeroporto com o pai, a irmã
e a avó da bióloga, entre outros parentes. A ativista ficou fora do
país por mais de cinco meses – dois meses embarcada no navio Arctic
Sunrise e três meses detida em Murmansk e São Petersburgo. "A nossa
Porto está mais Alegre com o teu retorno. Te amamos", dizia o cartaz
levado pelos familiares.
Família da ativista gaúcha Ana Paula Maciel (Foto: Rafaella Fraga/G1)
"Eu acho que de agora em diante vai ser só alegria. Que ela continue a
ser esta guerreira que ela semper foi. Esta viagem foi meio turbulenta,
mas o desfecho foi feliz. Agora, só quero dar um abraço e carinho",
afirmou a mãe, Rosângela.
Pai da ativista gaúcha Ana Paula, Jaires Maciel
(Foto: Rafaella Fraga/G1)
O pai da bióloga, Jairo Maciel, chegou mais cedo do resto da família e
também esperava emocionado pela filha, vestindo uma camiseta com a foto
de Ana Paula. "O coração está batendo forte. Esta virada de ano vai ser
especial por conta da libertação dela", disse ao
G1 no saguão do aeroporto.
Segundo Maciel, a próxima viagem da filha deve ser em breve para a Nova
Zelândia para participar de uma campanha pela proteção de animais
marinhos. Por isso, ele levou de presente uma orca de pelúcia.
Entretanto, a bióloga não confirmou a informação e disse que deverá
viajar novamente apenas na metade do ano, sem revelar o destino. Quando
perguntada se voltaria para a Rússia, Ana Paula foi rápida: "Por
enquanto, não".
A ativista gaúcha recebeu o visto de saída da Rússia na sexta-feira
(27). Na última quarta, ela havia recebido do governo russo o documento
que garantia a interrupção das investigações do crime de vandalismo,
pelo qual ela e seus companheiros haviam sido acusados.
'12 horas no avião da minha liberdade', disse Ana Paula ao chegar ao Brasil por SP
Na conexão em São Paulo, Ana Paula conversou com jornalistas. "Minha
vida mudou. Foi uma tremenda injustiça, uma tentativa frustrada de calar
um protesto pacífico e a liberdade de expressão", afirmou, logo após o
desembarque.
"Eu espero que o mundo tenha aprendido com isso, porque nem os russos
esperavam a reação do mundo para nos libertar, para nos proteger." Ela
ainda acrescentou que as muitas horas de voo desde São Petersburgo, com
conexão em Frankfurt, não foram nada perto das horas que passou na
solitária, durante a prisão. "Foram 12 horas de viagem no avião da minha
liberdade".
Sobre a Rússia, ela disse que é "um país lindo, com pessoas
maravilhosas" e que a ação do Greenpeace nunca foi contra o país, mas
contra as petroleiras. "Eles entenderam mal o que aconteceu",
acrescentou. A bióloga ainda agradeceu o apoio. "Eles pensaram que
podiam fazer com a gente o que eles fazem com todos os que fazem
protesto pacífico, que eles calam, espezinham, mantêm na cadeia por
anos, mas o mundo estava junto com a gente e eu não tenho palavras para
agradecer isso."
Anistia
Um decreto aprovado pelo parlamento russo no dia 18 - que concedeu
anistia a presos por atos de vandalismo - beneficiou o grupo do
Greenpeace, que vem sendo chamado pela organização ambiental como os "30
do Ártico".
Os 28 ativistas e 2 jornalistas freelancers tentavam escalar uma
plataforma petroleira da Gazprom no dia 19 de setembro, para protestar
contra a exploração do Ártico, quando foram surpreendidos pela polícia
russa, que prendeu toda a tripulação do navio Arctic Sunrise.
O grupo permaneceu detido durante dois meses, primeiro sob a acusação
de pirataria e, em seguida, sob a acusação de vandalismo. Em novembro,
eles receberam o direito de responder ao processo em liberdade mediante
pagamento de fiança. Desde então, estavam livres na cidade de São
Petersburgo, mas sem poder deixar o país.
Ana Paula recebeu o carinho da irmã Telma na chegada a Porto Alegre (Foto: Rafaella Fraga/G1)
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