Abdullah Kurdi perdeu a mulher, Rehan, 35, e outro filho de 5 anos, Galip, no naufrágio, que deixou nove sírios mortos
Após a tragédia, Abdullah ligou para a
irmã, que mora em Vancouver há 20 anos, e disse que seu único desejo
agora é voltar para a cidade de Kobane para enterrar seus familiares e
ser enterrado ao lado deles.
O sírio apelou à comunidade internacional que
faça o possível para evitar sofrimentos como o seu. “Quero que o mundo
inteiro nos escute e veja onde chegamos tentando escapar da guerra. Vivo
um grande sofrimento. Faço esta declaração para evitar que outras
pessoas vivam o mesmo”, advertiu Abdullah, sem esconder a emoção, em
frente ao Instituto Médico Legal da cidade de Mugla, onde esteve para
reconhecimento dos corpos.
Teema Kurdi, irmã de Abdullah, disse ao ‘National Post’ que o pedido de refúgio havia sido negado em junho pelo Ministério da Cidadania e da Imigração do Canadá devido a complicações envolvendo os pedidos de refúgio para estrangeiros.
‘Fiquei petrificada com a cena’
Fotógrafa que registrou o resgate do corpo do menino por um paramilitar turco, Nilüfer Demir disse ter ficado “petrificada”. Ela contou que também viu Galip, irmão de Aylan, no chão, a 100 metros. “A única coisa que poderia fazer era tornar seu clamor ouvido. Pensei que poderia fazer isso ao acionar a câmera e fazer a foto”, afirmou ela, que cobre as imigrações há 15 anos.
Visto da família foi rejeitado
Tima Kurdi, tia de Aylan, culpou o governo canadense “e o mundo inteiro” pela morte de seus familiares. Tima, que chegou ao Canadá em 1992, não conteve as lágrimas durante entrevista coletiva que concedeu em sua casa em Coquitlam, na província da Colúmbia Britânica. Ela contou que tentou patrocinar a família para que eles fossem aceitos como refugiados pelo governo canadense. Segundo ela, o Canadá rejeitou o pedido de refúgio por causa de “um documento”.
Tima, que é cidadã sírio-canadense,
cobrou uma solução imediata para a crise migratória. “Honestamente, não
quero só responsabilizar o Canadá. Estou responsabilizando todo o mundo
por não ajudar o suficiente aos refugiados e por não parar esta guerra. E
sei que podem fazer. Se ninguém financiar os rebeldes, a guerra
parará”, afirmou.
Ela disse ter falado po telefone com sua
cunhada, pouco antes de seus familiares abandonarem a Turquia em uma
embarcação com destino à Grécia. “Estou tão assustada com a água. Não
sei nadar”, teria dito a Rehan a Tima.‘Fardo não pode ser de alguns países’
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse ontem que o fardo de receber centenas de milhares de refugiados não pode recair apenas sobre alguns poucos países europeus e defendeu a implementação de cotas para garantir uma distribuição justa daqueles que buscam asilo.
Falando na capital suíça, Berna, ela também reconheceu que as chamadas regras de Dublin, que determinam que os imigrantes solicitem e aguardem por asilo no primeiro país de chegada à União Europeia, não estão funcionando. Merkel disse que, além de Itália e Grécia, “Suécia, Áustria e Alemanha também não podem ser deixados sozinhos com a maior parte da tarefa”. Desde o início de 2015, mais de 300 mil pessoas que fogem das guerras em seus países, na Ásia e na África, tentaram chegar à Europa por meio de travessias perigosas no Mediterrâneo.
O movimento migratório europeu também atinge o Brasila. Segundo o Conselho Nacional para Refugiados (Conare), em cinco anos, dobrou o número de pessoas reconhecidas pelo governo brasileiro que buscaram refúgio no país. Em 2011, eram 4.218 e este ano está em 8.400. Em 76,81% dos casos, as causas são violação dos Direitos Humanos e perseguição política e religiosa.
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