4.13.2018

O ódio não vencerá

Existe coisa boa nas redes sociais, o texto que li ontem e compartilhei da Carol é uma delas, redes sociais é uma ferramenta excelente para quem quer aprender, para quem quer saber os motivos, quem tem curiosidade em querer saber, por exemplo quando fica aquela multidão de pessoas idolatrando, amando, acompanhando um político tem que existir algum motivo para isso, não é no meu conforto do lar morando em uma cidade de infraestrutura boa no sudeste do Brasil que vou entender sem procurar saber, tem situações em viagem que a gente até fica sabendo conversando como teve um dia com uma vendedora de cocadas, mas é muito pouco. Ninguém é adorado só por empatia ou por causa de uma pequena ajuda de Bolsa Família, isto é muito pouco, as pessoas gostam dele por n motivos.
Redes sociais como a mídia em geral não muda a opinião das pessoas, ela só aumenta seu amor e seu ódio, no caso do Lula e do PT as pessoas que querem passar coisas boas escrevem seus textos, dizem os motivos e é muito pouco isso, as pessoas que querem mostrar coisas ruins transmitem ódio com figurinhas de ladrão, cachaceiro, nordestino operário pobre que ficou rico.
O ódio está vencendo, tiraram a Dilma e condenaram o Lula, é muito mais fácil destruir as pessoas que levantar, infelizmente até o amor que as pessoas têm por ele principalmente os pobres incomoda quem é manipulado ao ódio, continuarei vendo e aprendendo com aqueles que mostram os motivos que gostam do que figurinhas e palavras que eu sei que em sua grande maioria é mentirosa, caluniosa, de péssimo gosto e pior de tudo imbecis, deviam antes de postar refletir, antes para não caírem no ridículo que estão cometendo.

(por Sergio Barral)

Texto da Carol

Sou branca, filha de professores universitários. Sou privilegiada, estudei em escolas em que meus amigos tinham seus nomes nos livros de história pernambucana. No fim dos anos 90, fiz pesquisa de opinião e vi muita coisa. Entrei na casa
 de muitas famílias em Pernambuco, antes e depois de Lula.

Não sou boa de nomes, mas sou boa de cheiro. Entrei na casa de um senhor. Ele e a casa cheiravam a fumo de rolo. Era em Afogados da Ingazeira, Sertão. Não tinha água. Não tinha nenhuma água. A pele dele era seca igualzinha ao chão da casa. De alento, ele tocava uma sanfona. Me respondeu a pesquisa inteira em poesia.

Entrei no sítio de uma moça, que não sabia a idade dela. Estava suja de sangue de apanhar do marido que bebia do lado. Ela me trouxe o saco de documento, fiz as contas, 35 anos. Formou-se uma fila. Fiz as contas da idade de vinte pessoas, crianças e adultos. A casa cheirava a álcool e à falta de identidade.

Entrei na casa de uma senhora que não tinha nada. Nem cheiro. Só tinha ela mesma e uma fome. Se o cheiro chegasse ali era de ausência.

Entrei numa casa que não tinha luz elétrica e perguntei o que ela compraria quando chegasse luz. Ela falou que já tinha e me trouxe uma lâmpada dentro de uma caixa de sapato. Essa casa cheirava à minha avó. O cheiro igual aos das bolinhas de naftalina.

Filmei em Recife pessoas que moravam dentro de uma ponte. Sim, dentro do concreto. Tinha uma escada do rio para o buraco que se chamava porta de casa e que cheirava a mofo. De vez em quando se perdia um menino mais afoito que caía no Rio Capibaribe. Chamava Vila dos Morcegos. Afinal, morar ali não era coisa de gente.

Morava no Engenho do Meio. Vi amigos de infância serem assassinados. Vi a favela de Roda de Fogo crescer e com ela a violência dos corpos no sinal. A gente ia lá ver o corpo pra saber se tínhamos estado com ele no dia anterior.

Tive mãe sequestrada. Passei horas negociando seu sequestro. Aí o cheiro do Brasil chegou pra mim. A iminência da morte cortando na minha carne. Cheiro de flores de funeral. Graças, no fim deu tudo certo e Dona Teca esta aí pra cheirar à lavanda.

Passei anos sem fazer pesquisa e depois volto a andar pelo estado pra filmar. O cenário e o cheiro são outros.

Depois do governo Lula, as coisas mudaram. E, no sertão, chegaram as cisternas. Pareciam discos voadores ao lado da casa do povo. Agora todo mundo tinha água pra beber. E pra ajeitar um roçado miúdo. As casas cheiravam à terra molhada.

Chegou o bolsa família e toda e qualquer casa agora tinha cheiro. De pelo menos um feijão cozinhando na lenha.

Começou a brotar Instituto Técnico Federal e as pessoas voltaram a estudar pra contar muito mais do que a própria idade.

Os morcegos que viviam pendurados na ponte, construíram suas próprias casas. E aprenderam a usar banheiro.

Chegou a luz elétrica. Chegou Avon, chegou moto-taxi, chegou biscoito recheado, iogurte. Chegou possibilidade, universidade, chegou ousar sonhar. Chegou tanto cheiro junto, que não dá pra diferenciar.

Seu Ze de Severino juntou três comunidades, conseguiu verba num projeto do governo Lula e fez uma rede de encanamento pra todo mundo ter água na torneira. Seu Zé nunca esperou que fizessem por ele, mas nunca seria capaz de fazer antes de Lula.

Com essas mudanças e tantas outras, aqui se viu menos corpos estirados no chão. Virou mar de rosas? Não, claro que não. Lula não fez as reformas estruturais que deveria ter feito. Isso é fato. Mas de fato mudou a vida das pessoas mais pobres que chegaram a entrar na universidade e viajar de avião. Veja que absurdo. Desde que o golpe começou, muitos desses direitos foram tirados. O retrocesso é claro. Um golpe claro de classe. Pobre não pode.

No último mês executaram Marielle e prenderam Lula. Sinto cheiro de sangue. Sinto cheiro de ternos muito bem engomados dizendo quem agora pode cheirar a qualquer coisa. Sinto também muito cheiro de desodorante vencido da luta. Sinto cheiro de pneu queimando e sinto ardor de spray de pimenta.

Já estamos sem um Estado democrático há alguns anos. Vai ter muito cheiro de luta pra voltarmos a viver numa democracia. Mas aviso aos navegantes que vou colocar meu corpo nesse cheiro de luta aí. Sou Marielle, sou Lula, sou todas essas pessoas que não lembro o nome, mas seu cheiro tá entranhado em mim.

Assinado: Carol Vergolino Lula da Silva Franco.

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