12.01.2008

"Síndrome do Pânico"

O que é síndrome do pânico?
As crises, que envolvem taquicardia e a sensação de morte iminente, são conseqüências da ansiedade patológica
O ar parece faltar, o coração fica acelerado, o suor empapa a roupa. Esses são apenas alguns sintomas de uma crise de síndrome do pânico, também caracterizada por boca seca, tremores, tonturas e um mal-estar geral, acompanhados pela sensação de que algo terrível irá acontecer. A pessoa sente que pode morrer ou enlouquecer nos minutos seguintes.
Esse transtorno é causado pela chamada ansiedade patológica. De acordo com os psicólogos, a ansiedade é um estado emocional natural, e é completamente normal o sentimento de querer antecipar o futuro para evitar perigos ou tentar controlar danos. O problema fica caracterizado quando essa ansiedade começa a causar sofrimento demais para a pessoa. A preocupação culmina nas crises, e a pessoa fica ainda mais ansiosa porque não sabe quando a próxima irá acontecer.
Geralmente, a síndrome do pânico acontece no começo da vida adulta, e aparece em situações de estresse, como pressões no trabalho, no casamento ou na família, em que a pessoa se sente desamparada. O transtorno é de duas a quatro vezes mais freqüente nas mulheres, mas também pode ocorrer com sinais semelhantes nos homens. É claro que um único episódio de crise de ansiedade não caracteriza a síndrome do pânico, mas crises repetidas levam ao desenvolvimento do transtorno.
A maioria dos pacientes passa por vários médicos de especialidades diferentes em busca de uma resposta e do tratamento para tamanha ansiedade, sem saber ou, às vezes, aceitar, que tantos sintomas físicos sejam proveniente de problemas emocionais. Felizmente, o transtorno tem tratamento e, quanto mais precoce o diagnóstico, maiores são as chances de recuperação. Cada caso é especial, mas geralmente a pessoa é tratada com sessões de psicoterapia e medicamentos. Ela já começa a melhorar entre duas e quatro semanas, mas geralmente leva um ano para se recuperar. Raramente há cura espontânea e, apesar de muitas pessoas ainda colocarem em xeque a relevância de complicações psicológicas, a síndrome do pânico deve ser tratada como doença. Caso contrário, pode levar a complicações ainda maiores: depressão, desenvolvimento de outros transtornos de ansiedade, e abuso de álcool e/ou de sedativos, com prejuízos para a vida profissional, social e familiar
A doença conhecida como "Síndrome do Pânico"
e suas formas correlatas mais brandas, englobadas no conceito de "síndromes
ansiosas", estão cada vez mais comuns na população
em geral e, em especial, entre os moradores das grandes cidades. Quais
os motivos que levaram uma doença que a rigor nem mesmo existia
há vinte anos a se tornar uma das causas mais freqüentes que
levam um paciente ao consultório de um psiquiatra?
O Pânico (Ansiedade Paroxística) é uma "super crise
de ansiedade", normalmente acompanhada de sintomas físicos
(taquicardia, sensação de sufocamento, sudorese, dores musculares,
formigamento de mão e pés, desmaios, etc) que acontece sem
aviso e sem causa aparente, podendo pegar uma pessoa de surpresa em qualquer
situação: dirigindo, trabalhando, em casa ou mesmo dormindo.
A sensação é de morte iminente, mesmo que a pessoa
não esteja exposta a nenhum risco real. O mal estar é tão
grande que provoca no indivíduo um medo intenso de que ele possa
se repetir, o que leva a mais ansiedade. Inicialmente, a pessoa tenta
correlacionar a crise com algum evento e a tendência geral é
a de evitá-lo. Por exemplo: se a crise ocorreu no carro, o paciente
procura evitar andar de carro. Porém,
com o tempo, as crises passam a ocorrer em inúmeras situações
diferentes e a pessoa tende a termedo de exercer qualquer atividade, até
então corriqueira em sua vida. As limitações impostas
pela doença aos pacientes são crescentes e progressivamente
mais severas. Aparece aquilo que os médicos chamam de "agorafobia":
medo intenso de se ver em ambientes abertos ou mesmo de afastar-se de
casa e a "fobofobia": medo de ter medo. Neste ponto, em desespero,
os pacientes imaginam que possam estar sofrendo de doenças orgânicas,
tais como problemas cardíacos ou alterações hormonais
e iniciam uma verdadeira peregrinação de especialista em
especialista, passando por uma batelada de exames complexos, até
se darem conta de que o problema tem uma causa absolutamente psíquica.
É neste ponto que muito comumente a depressão se sobrepõe
à ansiedade. Um círculo vicioso se instala e temos então
uma pessoa limitada, angustiada, depressiva e que não consegue
se ver livre de crises de ansiedade recorrentes. Tudo se passa como se
a pessoa estivesse enfrentando uma situação de emergência,
de pânico, apesar de misteriosamente estar levando uma vida tranqüila
e sem nenhum fator estressante aparente.
O tratamento do Pânico nem sempre é simples e deve ser conduzido
por um médico psiquiatra experiente e o uso de qualquer medicação
psiquiátrica é controlado. Normalmente faz-se uso, como
tratamento de base, de antidepressivos de última geração:
os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS).
Apesar do nome de "antidepressivos",
estes remédios modernos têm uma ação específica
e muito boa contra as síndromes ansiosas de maneira geral, mas
demoram de quinze a vinte dias para começarem a fazer efeito e
devem ser usados por longos períodos, que variam de seis meses
a dois anos. Os efeitos colaterais destes medicamentos costumam ser baixos
e seu uso é considerado seguro, por não induzirem dependência.
No entanto, sempre há aqueles casos, ainda que raros, em que os
pacientes se vêem impedidos de continuarem o tratamento por efeitos
colaterais graves como náuseas, vômitos ou sonolência
exagerada com diminuição da capacidade de concentração.
Para estes casos em particular, os psiquiatras acabam apelando para medicações
mais antigas e menos potentes contra o Pânico, tais como neurolépticos,
benzodiazepínicos ou antidepressivos tricíclicos, que acabam
tendo outra gama de feitos indesejáveis ao longo de seu uso. Medicações
específicas para os sintomas mais comuns, principalmente no início
do tratamento, têm seu uso imposto pela prática em associação
aos ISRS, tais como remédios contra a ansiedade (ansiolíticos)
ou medicações para induzir o sono (hipnóticos). Todos
os hipnóticos e ansiolíticos disponíveis provocam,
em maior ou menor grau, tanto dependência, quanto tolerância
(necessidade de aumento de progressivo de dosagem) e não podem
ser considerados medicações muito seguras, tendo sua venda
controlada pelo Ministério da Saúde (receituário
tipo "B", azul). O uso de medicações contra os
sintomas físicos da ansiedade (beta-bloqueadores) podem ser muito
úteis para controlar os sintomas, apesar de não serem propriamente
medicações psiquiátricas e não controlarem
a sensação subjetiva de ansiedade e angústia.
Em nossa prática clínica temos tido excelentes resultados no
tratamento das síndromes ansiosas com medicação homeopática,
associada ou não ao tratamento ortodoxo alopático. Pode-se
reduzir o uso de medicamentos tanto em doses, quanto no tempo, havendo
um controle mais apurado e eficaz das crises de ansiedade paroxística,
bem como da depressão associada. Para os pacientes que apresentam
efeitos colaterais intoleráveis a Homeopatia apresenta-se como
boa alternativa. Medicamentos anteriormente considerados como fitoterápicos,
como o Hypericum perforatum ("Erva de São João"),
apresentaram resultados tão satisfatórios em estudos conduzidos
na Alemanha que atualmente já são produzidos por laboratórios
alopáticos de forma rotineira e seu uso está indicado em
muitos casos de ansiedade paroxística. Em casos complicados, como
no Pânico na vigência de gestação, quando não
se pode usar nenhum tipo de medicação (nem alopática,
nem homeopática, nem fitoterápica) a acupuntura parece ser
a única alternativa restante, associada ou não a procedimentos
corporais de relaxamento e massagem. Seja como for, todos concordam que
o controle eficaz do Pânico somente pode ser possível a longo
prazo com a instituição de um tratamento psicoterápico,
onde o paciente terá a chance de localizar os verdadeiros fatores
emocionais inconscientes que o levaram à esta infeliz situação,
podendo assim, com a ajuda do psicoterapeuta (psicólogo ou psiquiatra)
atacar e resolver de vez as causas de sua doença. O problema é
que qualquer psicoterapia é tratamento caro e prolongado que, na
grande maioria das vezes, não é coberto por nenhum plano
de saúde. A rede pública oferece este tipo de tratamento
em certos centros especializados, mas ainda está restrito a um
número pequeno de pacientes.
Mas o que ocorre com uma pessoa que a leva ao Pânico, afinal?
Imaginemos inicialmente a vida de uma pessoa comum há uns, digamos, dois ou
três séculos passados: um indivíduo vivia em regiões
tranqüilas e isoladas, longe dos grandes centros urbanos e tinha
a necessidade diária de conviver com seus familiares em constante
troca afetiva de ajuda mútua. Havia também a necessidade
de exercício físico constante, como por exemplo para
cortar lenha, cuidar de seus animais domésticos e de sua moradia,
sem quase nenhuma facilidade tecnológica para auxiliá-lo
nestas tarefas. O próprio trabalho rural dos indivíduos,
era o fator responsável pela integração do Ser Humano
à Natureza.
A Espiritualidade, seja de qual origem fosse, era a
linha mestra das vidas. O acesso à informação era
absolutamente restrito e ineficaz, o que obrigava o indivíduo a
ignorar os acontecimentos que não estavam rigorosamente ligados
à sua vida pessoal e da pequena comunidade a que pertencia. Nosso
sistema emocional foi feito, por assim dizer, para este tipo de vida pacata
e rural e não para a vida que temos hoje. Nosso sistema cognitivo
consegue dar conta desta informação: entendemos facilmente
que houve um terremoto no Japão, um atentado terrorista nos Estados
Unidos e um bombardeio no Oriente Médio. Mas o que podemos fazer
com a carga emocional que cada uma destas notícias contém?
Somemos a isto o stress que a pressão da propaganda nos impõe:
temos que ter o tal carro do ano, temos que usar a tal roupa de grife
e temos que dar a nossos filhos o tal brinquedo eletrônico e computadorizado
que ele viu na TV e raramente nossa renda acompanha os gastos destas "necessidades"
criadas pelo Marketing. Para piorar, não conseguimos ter o controle
de nossas atividades diárias: normalmente exigem-se de cada um
mais tarefas do que seriam possíveis nas vinte e quatro horas de
um dia.
Nos únicos momentos de relaxamento e descontração,
dedicamo-nos a receber mais informações cognitivo-emocionais
conflitantes, quando nos expomos a um filme de ação cheio
de violência e terror ou simplesmente nos anestesiamos com substâncias
entorpecedoras (álcool e drogas). O contato interpessoal, vital
para qualquer Ser Humano, tornou-se cada vez mais excepcional e de baixíssima
qualidade, permeado por stress e ansiedade.
O contato frutífero com o Inconsciente através das atividades criativas,
artísticas ou através dos sonhos e das estórias mitológicas
e folclóricas, perdeu-se em meio à confusão da modernidade.
O exercício físico somente é possível mediante
compromissos agendados em academias, que acabam trazendo mais informações
desnecessárias e mais exigências impostas pela sociedade de consumo.
O Pânico, visto sob este prisma, parece-me uma doença
social fadada a acometer um número cada vez maior de pessoas, não?
Cada indivíduo consegue lidar com uma quantidade "X" de stress:
cada um de nós tem seu limiar. Ultrapassado este limiar, o cérebro
humano está programado, desde a mais remota antiguidade, para detonar
sinais de alerta e declarar, à revelia da consciência, que
estamos submetidos a uma situação emergencial, em que devemos
lançar mão de mecanismos que possam garantir nossa sobrevivência.
Este alerta é o pânico. O pânico, palavra grega que
significa "aquilo que atinge a todos indistintamente", é
o instinto que faz com que a presa fuja do predador, é aquele sentimento
que faz com que cada um aja para defender sua própria vida, rebaixando
as funções intelectivas superiores. Os centros neuronais
responsáveis por este "decreto de pânico", são
os chamados núcleos da base e o sistema límbico. Os núcleos
da base são estruturas que foram por nós herdadas dos répteis,
por isso são também conhecidas como "cérebro
reptiliano". A agressividade, os rompantes emocionais e o preparo
do organismo como um todo para o choque, são suas "marcas
registradas". Este cérebro reptiliano não tem condições
de separar o que é fantasia, do que é realidade. Não
há como abstrair quais informações realmente dizem
respeito à nossa vida e quais não, não há
como classificar quais necessidades são imperiosas e quais são
apenas apelos sociais. Quando este cérebro reptiliano toma o poder,
mesmo quando não ocorre uma situação em que nossa
vida esta sob a ameaça de um perigo real, ocorre uma crise paroxística
de ansiedade, que é mediada pelo sistema límbico. A "Síndrome
do Pânico" é a situação em que nosso cérebro
e nosso corpo reagem como se estivéssemos frente a frente com um
tigre de dentes de sabre, mesmo quando este tigre seja tão-somente
nossa vida cotidiana contemporânea.

Córtex cerebral (pensamento racional consciente), núcleos da base
(cérebro reptiliano) e o sistema límbico como mediador
de ambos e coordenador das emoções.
A única maneira de revertermos o processo da crescente "epidemia"
de Pânico, é a mudança urgente do modo de vida, principalmente
o levado pelos habitantes dos grandes centros urbanos. O retorno às
atividades artísticas e criativas; a instituição
do exercício físico habitual e desvinculado das exigências
sociais estéticas e consumistas; o contato pleno com o Inconsciente
proporcionado pelos sonhos, pelos mitos e pelo folclore; o contato verdadeiro
e afetivo entre os indivíduos e, finalmente, a diminuição
do bombardeio diário do excesso de informação, são
as saídas conjuntas obrigatórias.
A Espiritualidade também impõe-se como fator estabilizador e redutor de pseudo-responsabilidades individuais, re-introduzindo a noção do coletivo e da deidade
responsável por esta coletividade, tal qual a Natureza como fator
re-equilibrador em seus ciclos eternos. Estes são os verdadeiros
desafios a serem superados pela sociedade do Século XXI.

Texto: Andréia C. Nunes

Um comentário:

Antonio Celso da Costa Brandão disse...

O transtorno do pânico é uma síndrome caracterizada pela presença de ataques de pânico: crises espontâneas, súbitas, de mal estar e sensação de perigo iminente, com múltiplos sintomas e sinais de alerta e hiperatividade autonômica, atingindo seu máximo, por definição, em cerca de dez minutos. Biologicamente, os ataques de pânico parecem estar relacionados às alterações nos neurotransmissores e parece ocorrer na ausência relativa da transmissão serotoninérgica; a serotonina é um neurotransmissor obtido a partir da descarboxilação do aminoácido essencial triptofano. Existem, tanto em humanos como em animais, evidências de que a produção de serotonina cerebral possa ser modulada dieteticamente através da oferta de macronutrientes, principalmente a ingestão de carboidratos, proteínas e aminoácidos isolados (triptofano), mas vale ressaltar que o intestino é o principal responsável pela síntese deste neurotransmissor. Diversos fatores nutricionais podem aumentar a síntese de serotonina no organismo, tanto através da dieta, fornecendo macro e micronutrientes necessários para essa síntese, como através do tratamento intestinal, demonstrando ter uma importância que vai muito além das funções básicas de absorção e excreção.
A atual classificação do Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação de Psiquiatria Americana (DSM IV), de 1994, aponta os critérios para caracterização e diagnóstico do ataque de pânico: um período distinto e intenso de tremor ou desconforto, no qual quatro (ou mais) dos seguintes sintomas desenvolveram-se abruptamente e alcançaram um pico em dez minutos: palpitação ou ritmo cardíaco acelerado; sudorese; tremores ou abalos; sensação de falta de ar ou sufocamento; sensação de asfixia; dor ou desconforto torácico; náusea ou desconforto abdominal; sensação de tontura, irritabilidade, vertigem ou desmaio; desrealização (sensação de irrealidade) ou despersonalização (estar distanciado de si mesmo); medo de perder o controle ou enloquecer; medo de morrer; parestesias (anestesia ou sensação de formigamento); calafrios ou ondas de calor.
Quanto à epidemiologia, tem-se que os fatores genéticos certamente contribuem para sua etiopatogenia, visto que 35% dos parentes de primeiro grau dos pacientes com transtorno do pânico sofrem do mesmo problema. Este transtorno também pode ser desencadeado ou agravado por causas emocionais.
Esta patologia atinge cerca de 1 a 2% da população em geral, sendo duas vezes mais freqüentes nas mulheres do que nos homens e ocorrendo em todas as etnias e classes sociais; pode ocorrer em qualquer idade, mas sua incidência é maior entre a puberdade e 35 anos de idade; nos indivíduos que apresentam esta patologia, também é comum encontrar portadores de Prolapso da Válvula Mitral e doenças psicossomáticas (colite, gastrite, rinite alérgica e úlcera péptica), apresentando uma freqüência destas doenças duas vezes maior do que em indivíduos ansiosos sem ataques de pânico.
O tratamento do transtorno do pânico apresenta duas etapas básicas: a supressão das crises de pânico, geralmente realizada através de intervenções farmacológicas, e a correção dos comportamentos fóbicos associados (medo de sair sozinho, de dirigir automóveis, de estar em multidões, etc), habitualmente através da terapia cognitivo-comportamental. Neste artigo, será abordada uma terceira etapa, a intervenção dietética.
Além dos medicamentos, é possível acrescentar auxílios nutricionais no tratamento do transtorno do pânico e com o mesmo objetivo, o aumento da serotonina; afinal, existem tanto em humanos como em animais, evidências de que a produção de serotonina cerebral possa ser modulada dieteticamente através da oferta de macronutrientes, principalmente a ingestão de carboidratos, proteínas e aminoácidos isolados, de micronutrientes que auxiliam a transformação de triptoafano em serotonina, como vitamina B6, ácido fólico e magnésio, além de cuidados com o instestino, principal formador de serotonina.
O triptofano destinado ao SNC terá como obstáculo atravessar a barreira hematoencefálica, importante para a síntese de serotonina. Isto ocorre devido à competição com outros aminoácidos (leucina, isoleucina, valina, tirosina e fenilalanina) pelo mesmo transportador, e como o triptofano não é encontrado em abundância na dieta, a alta concentração dos demais aminoácidos diminui ainda mais a possibilidade de seu transporte pela saturação, por isso é necessário termos uma razão triptofano e aminoácidos neutros favorável, para que a modulação dietética na síntese de serotonina seja positiva, aumentando a parcela de triptofano livre e favorecendo seu transporte frente aos aminoácidos neutros competidores. Para um melhor aproveitamento do triptofano é importante não fornecer ao paciente uma dieta hiperprotéica, isso porque em uma dieta normal, a ingestão de triptofano representa cerca de 1g/dia, assim uma dieta rica em proteínas favoreceria o aumento dos aminoácidos competidores. Pela menor concentração dietética do triptofano haveria menor captação do mesmo na barreira aminoacídica cerebral e provável redução da função da serotonina, e isso poderia prejudicar ainda mais o quadro do paciente com transtorno do pânico.
Quando se fala no triptofano desta maneira, logo se pensa que a solução de todos os problemas seria a suplementação do aminoácido, mas em experimentos animais, o uso de triptofano em grandes doses (1,6/Kg em ratos) ocasionou sintomas de toxicidade, inclusive levando à morte, provavelmente pelo acúmulo de produtos de seu metabolismo. Outro efeito relatado é o aumento do nível de ácido xanturênico, que possui ação diabetogênica nos animais. Em ruminantes, a utilização de triptofano por via oral foi associada com edema pulmonar e enfisema, sendo a provável causa a conversão do triptofano à escalote por ação bacteriana. Com isso, surgiu certa preocupação quanto ao uso de triptofano em pacientes com conteúdo bacteriano gastrointestinal elevado. Há ainda estudos que demonstram que produtos do metabolismo do triptofano podem promover a ação de certos carcinógenos, sendo encontrada uma relação positiva entre os níveis de metabólitos do triptofano na urina e o câncer de bexiga. Apenas a ingestão de triptofano não garante que o mesmo desempenhe a função de precursor de serotonina, afinal, o triptofano possui várias outras funções e alguns autores sugerem que apenas 1% da serotonina proveniente da dieta será destinada a esta síntese. Por isso, em primeiro lugar, deve haver uma boa proporção entre proteínas e carboidratos da dieta e um fornecimento adequado de micronutrientes importantes para essa síntese.
Os alimentos fontes de triptofano são: leite, queijo, ovos, carnes, peixes, aves, arroz, macarrão, pães, batata, soja, nozes, feijão, lentilha, ervilha, castanhas, abacate, banana, morango, cereja, laranja e tâmara.
A vitamina B6 é parte de uma enzima chave para a síntese dos neurotransmissores como a serotonina. Esta vitamina se faz necessária no metabolismo do triptofano em duas vias: tanto para a formação de serotonina, como para formação de niacina; portanto sua carência pode prejudicar bastante a ação sobre este aminoácido. Altos níveis desta vitamina são mantidos no cérebro, até mesmo em baixas concentrações plasmáticas. As melhores fontes de vitamina B6 são levedo, germe de trigo, carne de porco, cereais integrais, leguminosas, batata, banana e aveia.
O ácido fólico age como coenzima no transporte de fragmentos de carbono simples no metabolismo dos aminoácidos e na síntese dos ácidos nucléicos, e embora seja amplamente distribuído nos alimentos, sua deficiência é comum, pois encontra-se nos alimentos em formas reduzidas e lábeis, sendo que grande parte desta vitamina é perdida durante o preparo doméstico e processamento de alimentos, acrescentando-se ainda o fato de que muitos medicamentos de uso comum podem causar depleção dessa vitamina. São consideradas boas fontes de ácido fólico: brócolis, espinafre, ervilha, grãos, feijão, lentilha, laranja, fígado bovino e gema de ovo.
Com relação à importância do intestino neste processo, tem-se que durante o desenvolvimento fetal, o trato gastrointestinal (TGI) e o cérebro iniciaram seu desenvolvimento a partir do mesmo tecido embrionáro. A partir do momento em que este se dividiu, parte cresceu no SNC e a outra se diferenciou em sistema nervoso entérico (SNE). Durante os estágios finais de desenvolvimento fetal formou-se, no entanto, uma conexão direta entre estes “dois cérebros”, representada, sobretudo, pelo nervo vago, um trono nervoso que se estende da base do cérebro até o abdome. Devido a essa conexão tão íntima, ainda que apresentem funções diferentes, nossos “cérebros” se influenciam mutuamente e, assim como o primeiro, nosso “segundo cérebro” (o intestino) é capaz de aprender, memorizar e produzir sensações baseadas em emoções. O intestino possui as células enterocromafins, que possuem aproximadamente 95% da serotonina encontrada no organismo, tornando o intestino, e não o cérebro, o principal sítio deste neurotransmissor.
Os probióticos são suplementos alimentares microbianos vivos, que quando ingeridos, apresentam efeitos benéficos para o hospedeiro, promovendo o equilíbrio microbiano intestinal. Devido a esta função da microbiota intestinal e sua difícil manutenção, sugere-se que o uso freqüente de probióticos em humanos promova alguns benefícios, como: balanceamento da microbiota, aumento da tolerância e da digestão da lactose, a atividade anticarcinogênica e modulação do sistema imunológico. Além disso, a fermentação realizada pelos probióticos promove incremento de 50% nos teores de vitaminas B6, B12 e um aumento de vitamina C, ácido fólico e colina em até 100%; vale ressaltar a importância citada anteriormente da vitamina B6 e ácido fólico na transformação de triptofano em serotonina, de grande interesse no transtorno do pânico.
O uso de probióticos pode melhorar a composição da microbiota intestinal e assim, aumentar e manter a barreira imunológica local, amenizando as respostas inflamatórias. Existem várias espécies de probióticos utilizados, dentre as quais merecem destaque os lactobacillus e bifidobactérias, que produzem ácidos graxos de cadeia curta como metabólitos finais a partir da fermentação de carboidratos. Os ácidos graxos de cadeia curta se ligam à albumina, e por terem uma maior atração à proteína plasmática do que o triptofano, pode-se desta forma aumentar a concentração de triptofano livre, o que resulta em maior passagem pela barreira hematoencefálica e conseqüente produção de serotonina, além de que também fornecem energia para as células intestinais.
O probiótico é um ingrediente dietético não digerível cujos efeitos beneficiam o hospedeiro por estimular seletivamente o crescimento e/ou ativar o metabolismo das bactérias promotoras da saúde no trato intestinal, o que promove o equilíbrio intestinal do hospedeiro.
Fonte: uol