Foto de modelo americana com barriguinha saliente abre o debate sobre a ditadura da magreza e da perfeição estética. Mulheres ‘normais’ também vibraram ao ver imagem da diva Juliana Paes exibindo suas imperfeições
Lizzy Miller, e não Amélia, é que é mulher de verdade. Este mês, a americana de 20 anos, com barriga protuberante estampada na publicação americana ‘Glamour’, tirou o foco dos corpos perfeitos, modelados em mesas de cirurgia ou programas de computador. Com Lizzi e outras mulheres de carne e osso — mais carne do que osso —, cresce o movimento pela beleza real.
Juliana Paes, sem querer, também levantou o debate nacional sobre beleza natural. Foto da atriz na praia exibindo atributos físicos que a levaram, esta semana, ao posto de mais sexy do País circulou na Internet, fazendo suspirar legião de... mulheres, aliviadas por ver o símbolo maior da beleza nacional crivado de celulite e flacidez nas pernas.
Ícone do combate à tirania da magreza, a cantora Preta Gil admitiu no Twitter, quarta-feira, que é mais feliz hoje, com 80 quilos, do que quando pesava 56. “Só Deus sabe o quanto sofri pra ficar magra daquele jeito. Não era de verdade. Tomei remédio”, contou, admitindo ter feito lipo. “A ditadura da beleza física é cruel e não é a realidade. Hoje busco ter saúde e paz”. Ponto para as mulheres de verdade!
À revista americana, milhares de leitoras escreveram elogiando a foto. “Amo a mulher na página 194!”, festejou uma. Pesquisa feita pela Dove com 3.200 mulheres de 10 países concluiu que 75% das mulheres querem ver imagens com mais diversidade de beleza.
O tema, no entanto, ainda divide opiniões, admite a psicanalista Joana de Vilhena Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC-Rio. Das mensagens recebidas pela ‘Glamour’, 30% são de mulheres satisfeitas e 70% reclamam da decisão. “Para o grande público, sair numa revista deve ser um prêmio, para poucas que têm determinação e merecem estar ali”, explica ela.
O discurso em defesa da beleza natural, lançado em 2004 pela Dove em campanha internacional, porém, é desafio ao qual a indústria ainda não aderiu por completo. “Ninguém vende realidade, vende-se um ideal. Ainda é mais lucrativo que as pessoas adoeçam. Cremes, ginástica, produtos dietéticos: a insatisfação tem mercado imenso”, argumenta Joana Novaes, lembrando que o ‘conto de fadas’ vendido na a mídia é causa de distúrbios alimentares que crescem entre jovens.
AUTOESTIMA DA BRASILEIRA É A MAIS ALTA
Modelo diz que não gostou de ver a própria ‘gordurinha’
A baixa autoestima é alimentada pela ditadura da balança: só 2% das mulheres do planeta se dizem bonitas, segundo a pesquisa feita pela empresa Dove. No Brasil, o número sobe para 6%. Mas é aqui também que elas mais recorrem ao bisturi para ter satisfação com a aparência: 54% já pensaram em se submeter a plástica e 7% já puseram a ideia em prática.
Editora da ‘Glamour’, Cindi Leive ficou empolgada com as reações positivas à ‘mulher da página 194’ da edição de setembro. “É uma barriga que você vê a toda hora no espelho, mas não vê representada com frequência”, afirma Cindi, em entrevista.
A revista promete para o mês que vem ensaio com a ‘celebridade’ do momento. A própria modelo, em entrevista a canal de TV americano, admitiu que, ao ver a foto pela primeira vez, não ficou feliz, mas logo aceitou: “É uma foto verdadeira. Eu só estava sendo natural, estava confortável”.
A atriz Christiane Torloni, que admite já ter feito cirurgias plásticas, mas não quer ‘esticar’ o rosto, acredita que a baixa autoestima tiraniza a mulher. “Vamos envelhecer, é a lei natural da vida. O problema é que a mulher é muito cruel com ela e com as outras. Mas nós sobreviveremos a nós mesmas”.
O DIA
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