Crianças que apanham ficam menos inteligentes
Palmadas não deixam apenas marcas no corpo e na alma dos pequenos.
Pesquisa comprova que também diminuem o Q.I.
Bater em criança está longe de ser uma forma de educar. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de New Hampshire e do Centro de Pesquisa e Prevenção em Berkeley, nos Estados Unidos, mostrou que as surras têm efeito contrário. O Q.I. (quociente de inteligência) de crianças entre 2 e 4 anos que apanhavam regularmente caiu 5,5 pontos ao longo de quatro anos, comparado com o daquelas que não foram vítimas de castigo físico. Entre aqueles com idades entre 5 e 9 anos, o Q.I. dos que não apanharam ficou, em média, 2 pontos maior, diz o estudo.
“Esse trabalho deve fazer as pessoas repensarem e se convencerem de que a violência não educa, não melhora comportamento. Bater não dá qualquer benefício. Muito pelo contrário. A criança que apanha tem prejuízos cognitivos, na atenção e na memória, porque fica mais inibida, acuada, fechada e tem maior dificuldade de se desenvolver plenamente”, explica Fabio Barbirato, chefe do serviço de psiquiatria infanto-juvenil da Santa Casa. “A criança teme até fazer perguntas na escola.”
Presidente do Comitê de Segurança da Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro (Soperj), a médica Anna Tereza Soares de Moura afirma que errar faz parte do desenvolvimento infantil e que o papel dos pais deve ser o de incentivador. “Faz parte do aprendizado errar, cair, não ir bem na escola. Se uma criança que está aprendendo a andar cai, e apanha por isso, ela vai ter medo. Já se ela recebe o apoio dos pais, vê o sorriso da mãe, ela se sente mais confiante, mais segura para tentar”, explica, acrescentando que o exemplo pode ser usado em outras situações, como na escola. “Cada vez mais estudos evidenciam que violência diminui o desenvolvimento emocional, motor e cognitivo.”
ORIENTAÇÃO SEM PALMADA
O importante é orientar. “Muitas vezes, a criança apanha sem saber a razão. Se os pais não explicarem que ela agiu errado, ela não vai saber, não vai aprender. Ela não consegue relacionar que apanhou porque fez uma coisa errada”, diz Barbirato, autor do livro ‘A mente do seu filho’, que será lançado dia 21 na Livraria da Travessa, em Ipanema. Anna lembra que além de não entender a razão pela qual está apanhando, os meninos perdem a segurança na família a cada vez que levam uma surra. “Isso é muito negativo porque se a criança não confia nos pais que deveriam cuidar dela, como confiar no mundo?”
Outra possibilidade é que as crianças agredidas em casa tornem-se agressivas. “Se ela apanha quando faz algo errado, ela pode reproduzir esse comportamento na escola e bater num colega que faz algo que ela não gosta”, diz Barbirato.
Limite, tempo e paciência: receita certa
“Limite” é a palavra de ordem entre pais e filhos. Segundo Barbirato, os pais devem investir muito tempo e paciência na educação dos filhos. As crianças devem ter metas e entender que os prêmios são conquistados, diz o psiquiatra.
“Elas devem perceber desde cedo que precisam seguir regras e cumprir metas. Elas têm que guardar os brinquedos e fazer o dever de casa para ver televisão”, diz. “Quando um pai chega a bater no filho é porque perdeu completamente o limite”.
Barbirato diz que os pais devem acompanhar de perto o desenvolvimento dos filhos. “Isso requer tempo, investimento pessoal e nem sempre os pais querem abdicar de várias coisas”.
Fonte: O Dia
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