1.10.2010

Envelhecer e Ser feliz dá trabalho


O envelhecimento é o acúmulo aleatório de dano aos alicerces da vida ― especialmente o DNA, certas proteínas, carboidratos e lipídios (gordura) ― que eventualmente excede a capacidade de regeneração do organismo. Esse dano continuado provoca sintomas como a perda da elasticidade da pele, decréscimo de massa muscular e óssea, declínio do tempo de reação, comprometimento da audição e visão e aumento da vulnerabilidade à doença.


Não existe gene projetado para tornar a vida finita. O envelhecimento é, simplesmente, um descaso da natureza. Os genes se perpetuam transformando um óvulo fertilizado em um adulto sexualmente maduro que produz uma cria. Qualquer variante genética que comprometa esse processo é eliminada pela seleção natural. Mas a evolução é totalmente cega às consequências da ação do gene (seja boa, ruim ou neutra) depois que a reprodução é alcançada. Os genes são selecionados por sua função no ciclo reprodutor, o que vem depois é apenas efeito colateral. Por exemplo, genes essenciais ao crescimento infantil contribuem para o surgimento do câncer na velhice.


Os esforços para encontrar elixires da longa vida vêm, no mínimo, de 3.500 A.C. A última moda são os antioxidantes que eliminam radicais livres. Embora o consumo de alimentos ricos em vitaminas E e C reduzam o risco de doenças degenerativas, ainda não há evidência cientifica do benefício dos suplementos antioxidantes. Ademais, por participarem de nossas reações bioquímicas, os radicais livres são essenciais à vida, se nos faltarem, morreremos.


Os cientistas são categóricos ao afirmar que nenhum tratamento atualmente comercializado ― nenhum ― provou retardar, parar ou reverter o envelhecimento humano. Alguns são até prejudiciais à saúde.


Certamente, as pessoas vivem mais hoje que outrora. Mas não é que a ciência tenha obtido qualquer vitória contra o envelhecimento e sim porque sistemas sanitários, vacinas, antibióticos, etc evitam a mortalidade prematura. Antigamente morria-se antes de envelhecer.


Rio - O poeta dizia: “Tristeza não tem fim, felicidade sim!” Tinha ele razão? Não sei. O que sei é que neste imenso mercado em que se tornou a vida, encontramos ilusões temporárias sendo vendidas como se fossem felicidades duradouras.

O empenho...
Ser feliz dá trabalho. Há quem diga que não. Acredita nas fórmulas mágicas que esta literatura contemporânea nos oferece, prometendo-nos uma série de felicidades, que segundo aqueles que a produzem, podem ser conquistadas com a aplicação das receitas por eles oferecidas.

Há quem preveja o futuro. Garante ler nas mãos as rotas do amanhã, os amores que virão, os sofrimentos que chegarão e os fatos que mudarão a história. Há quem creia nos búzios, nos tarôs, nas simpatias que atraem sorte e até mesmo nas promessas que insistem em mercantilizar o que por natureza é gratuito em Deus.

Eu continuo sem crer em tudo isso. Ainda prefiro ver a vida, o novo ano, as novas possibilidades como um novelo misterioso que trago preso a mim, pela ponta. Viver consiste em deixar o novelo se desprender das mãos. No gesto de deixá-lo cair, permanecem duas perspectivas: o cuidado de segurar a ponta para que não se perca de nossas mãos e a liberdade para que se desenrole de acordo com o movimento. Nisto está a beleza: a previsão responsável e o espaço para a surpresa.

Felicidade também é uma forma de planejamento. Arquitetamos os sonhos, somamos os recursos, projetamos as iniciativas, marcamos datas, sacrificamos alguns exageros, reduzimos os supérfluos, construímos esperanças. Mas é também surpresa. Um bilhete na geladeira, um encontro inesperado, uma declaração de amor, um telefonema de quem andava sumido, uma graça do menino malabarista no semáforo da esquina, um bolo de fubá escondido no forno e um recadinho da mãe colado na porta: “Fiz pra você!”

Tudo vai nos despertando sorrisos, vontade de viver, de cantar aquela música brega, de dar vexame em público, de dizer que ama, que ama, que ama.

ILUSÕES TEMPORÁRIAS...
Inicio de ano é assim. Quando nos damos por nós, tudo já está programado. O calendário já está riscado até dezembro, a agenda já está programada e não há espaço nem para a possibilidade de uma gripe inesperada. Tudo deverá ser cumprido com rigor espartano! Planejar é bom. Ruim é não deixar espaço para a criatividade da hora.

Há quem faça o planejamento em cima de previsões mágicas. Os bruxos de plantão insistem em dizer que tudo isso dá certo. Eu acredito só na metade da previsão. É previsível só o que o bom senso já nos anuncia como verdade. O resto é conversa de quem não tem o que fazer, de gente desempregada que insiste em cuidar da vida alheia ao invés de cuidar da própria vida. Gente que vende felicidades prontas para o consumo, que dispensa o esforço e que garanta um resultado maravilhoso.

Felicidades encaixotadas, prontas para serem vendidas, comercializadas, trocadas, excluídas. Comércio que insiste em nos convencer de que tem a solução para os nossos problemas. Felicidade fácil. Aparelhos que prometem nos emagrecer, enquanto comemos pipoca amontoados no sofá da sala. Cápsulas milagrosas que vão comendo a gordura da nossa preguiça enquanto continuamos preguiçosos, comendo as coisas que nos fazem mal, insistindo em expor o nosso corpo a todos os malefícios das gorduras saturadas, hidrogenadas e outros adas...

Aparelhos que modelam a nossa barriga enquanto dormimos, cremes que fazem desaparecer do rosto aquilo que a vida levou anos para criar. Tudo rápido, fácil, sem esforço. Felicidades provisórias. Coisa de gente que não quer o esforço de um exercício que faz bem pro coração. Ampolas que dão ao corpo a massa muscular que o organismo levaria dois anos para alcançar. Felicidades sem volta. Morte silenciosa que vai comprometendo o interior da carne para que a exterioridade pareça forte.

Felicidades futuras. Coisa de gente que projeta o início da dieta para segunda feira, que diz que pára de fumar quando quer, que só bebe socialmente, que não é escravo de nada, que sabe muito bem o que está fazendo. Felicidades mentirosas. Falas decoradas de quem não tem coragem de dizer que falhou, que não deu certo, que escolheu o caminho errado e que não soube voltar atrás. Coisa de gente que insiste em viver os dias só para vê-los passar. Felicidades que enganam. Gente que jura amor eterno já sabendo que não poderá ficar.

FELICIDADES DURADOURAS...
Por outro lado, há um jeito interessante de ser feliz. Felicidades responsáveis. Gestos que nos ajudam a reconstruir a vida, encurtar as distâncias, promover as dietas, diminuir as gorduras. Vida que tem horário marcado para o cuidado do corpo, sem desculpas, sem embromos e sem enrolação. Felicidades partilhadas. Descobrir que repartir o instante feliz é uma forma de multiplicá-lo, fazê-lo eterno. Perceber que belezas superiores insistem em se esconder em belezas menores, pouco atraentes.

Felicidades sem aviso. Reencontros inesperados, presente que se recebe sem razão, comemorações sem datas especiais. Pequenos gestos que fazem a diferença na soma de tudo. Vida que se comemora só por comemorar, só por reconhecer o que nela é único, irrepetível, singular. Eu espero que este novo ano seja um tempo propício para felicidades verdadeiras.

Eu não tenho nenhuma previsão para sua vida. Para mim, não importa se Saturno está na linha de Júpiter ou se as cartas revelaram verdades ocultas a respeito de quem quer que seja. O que sei é que a vida continua amanhecendo, com ou sem a minha previsão. O inesperado ainda é a metade mais viva da vida. Programe-se bem para este novo ano. Só quem se programa e cumpre bem o que se propôs saberá lidar com as surpresas.

Padre Fábio de Melo
O Dia

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