Logradouros pelo país mantêm nomes de acusados de crimes do regime de 64
Rio - No país onde, segundo sua própria
Comissão Nacional da Verdade (CNV), 224 pessoas foram mortas por agentes
do Estado e, por ação direta deles, outras 210 ainda permanecem
desaparecidas, centenas de vias públicas servem de homenagem aos
apontados como responsáveis por crimes da ditadura civil-militar.
Em todo o Brasil, mostra levantamento do DIA no Diretório Nacional de Endereços dos Correios, há pelo menos 205 logradouros públicos — ruas, avenidas e praças — cujos nomes fazem referência, e deferência, a ditadores e colaboradores, militares ou civis, do período de exceção brasileiro.
Dos 27 estados brasileiros, São Paulo é o que mais concentra referências a militares e civis colaboradores dos governos autoritários. Dos 205 endereços encontrados, 28% (58) estão em cidades paulistas. O Estado do Rio vem logo atrás, com 26 referências — a maioria na capital, com sete.
O marechal Arthur da Costa e Silva, que comandou o país de 15 de março de 1967 a 31 de agosto de 1969, é terceiro mais popular — e chega a dar nome a um bairro em Cachoeiro de Itapemirim (ES).
Embora o terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos, que concebeu a CNV, apresentando pelo governo Lula em 2009, tenha sugerido o mapeamento de vias públicas, monumentos, escolas e prédios públicos cujos nomes fossem deferências a colaboradores da ditadura, o trabalho nunca foi feito. Nem agora, pela comissão.
Em todo o Brasil, mostra levantamento do DIA no Diretório Nacional de Endereços dos Correios, há pelo menos 205 logradouros públicos — ruas, avenidas e praças — cujos nomes fazem referência, e deferência, a ditadores e colaboradores, militares ou civis, do período de exceção brasileiro.
A reportagem fez a busca a partir da
lista com os 377 nomes apontados no relatório final da CNV, divulgado no
dia 10 de dezembro, que incluiu os cinco ditadores e os membros das
juntas militares que comandaram o país de 1964 a 1989.
Até então, a cúpula das Forças
Armadas negava as torturas ou dizia não saber de sua prática no período,
o que foi desmentido por reportagem do DIA
publicada no início de dezembro, que apontou que o general Emílio
Garrastazu Médici (1969 -1974) tinha sob seus cuidados prontuários de
pelo menos três presas políticas, atendidas no Hospital Central do
Exército (HCE) após sessões de tortura. Médici é o quarto ditador mais
homenageado, com nove logradouros com seu nome pelo Brasil.
Embora seja alto, o número de vias públicas
encontrado pela reportagem está subnotificado, pois não entram na conta
dos 205 logradouros pontes, viadutos e rodovias — o sistema de buscas
dos Correios não os localiza. Também foram excluídos homônimos ou cuja
identificação não foi possível. Escolas e prédios públicos também não
aparecem na lista.Dos 27 estados brasileiros, São Paulo é o que mais concentra referências a militares e civis colaboradores dos governos autoritários. Dos 205 endereços encontrados, 28% (58) estão em cidades paulistas. O Estado do Rio vem logo atrás, com 26 referências — a maioria na capital, com sete.
O marechal Arthur da Costa e Silva, que comandou o país de 15 de março de 1967 a 31 de agosto de 1969, é terceiro mais popular — e chega a dar nome a um bairro em Cachoeiro de Itapemirim (ES).
Embora o terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos, que concebeu a CNV, apresentando pelo governo Lula em 2009, tenha sugerido o mapeamento de vias públicas, monumentos, escolas e prédios públicos cujos nomes fossem deferências a colaboradores da ditadura, o trabalho nunca foi feito. Nem agora, pela comissão.
Campanha vai pedir mudança
Presa e torturada no DOI-Codi do Rio,
Cecília Coimbra, uma das fundadoras do Grupo Tortura Nunca Mais,
lamentou ao DIA
que o mapeamento completo não tenha sido feito. Para ela, levantar as
informações servirá para uma campanha nacional de conscientização.
“É uma luta antiga do Tortura Nunca
Mais. Pensar a rua é pensar nossa história. O país não pode exaltar quem
usou o Estado para torturar, matar e desaparecer com seus cidadãos”,
disse.
O presidente da Comissão da Verdade
do Rio, cujos trabalhos se encerrarão no fim de 2015, Wadih Damous,
afirma que o relatório final no estado contará com o levantamento e o
pedido de alteração dos nomes de logradouros e prédios públicos. “É um
resquício que a gente tem que eliminar. Não pode haver”, explica.
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