China contra Miopia
Experiência
na China tenta evitar que alunos se aproximem dos cadernos;
Evidentemente, o método não funciona, diz oftalmologista Rubens
Belfort Jr.
Há uma iminente epidemia de miopia no mundo, e a explicação para o fenômeno só agora começa a ficar nítida.
"Na década de 1950, um pesquisador da Escola Paulista de Medicina, meu pai, fez uma tese sobre miopia em índios. Descobriu que ela era extremamente rara entre eles", diz Rubens Belfort Jr., da Academia Nacional de Medicina.
O oftalmologista afirma que hoje as taxas do problema em índios se assemelha ao padrão brasileiro. A explicação? Eles agora vão para a escola.
Segundo médicos ouvidos pela Folha, a doença –dificuldade de enxergar de longe– deve ser epidêmica já na próxima geração.
Um recente relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que a
miopia, em 2010, afetava 27% da população mundial. A projeção para o ano
de 2050 é que a taxa chegue a 52%.
E há outros problemas. "Tem aumentado também a alta miopia. Ela traz problemas como descolamento e degeneração da retina, glaucoma, e hoje é uma das doenças prioritárias para prevenção da cegueira", afirma Milton Ruiz Alves, do Hospital das Clínicas da USP.
Em 2010, a população com alta miopia –igual ou maior a cinco graus (o valor pode variar dependendo do estudo)– era de 2,8%. Para 2050, espera-se que 10% tenham o problema, o equivalente a 925 milhões de pessoas. "Isso vai levar a grandes custos, e não apenas em óculos", diz Belfort.
De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil a prevalência de miopia varia de 11% a 36% da população. A pasta diz que mais de 35 milhões brasileiros apresentam alguma deficiência visual.
Se há certeza do crescimento, não há sobre suas causas. Há influência genética na miopia –etnias como a asiática, apresentam uma maior prevalência. Só isso, porém, não explica o aumento recente.
Fatores culturais, por sua vez, podem ser preponderantes. "A miopia está sendo induzida pelos hábitos de vida, que trazem transformações para o corpo todo", afirma Newton Kara, oftalmologista do Hospital Sírio-Libanês e professor da USP. "Como as pessoas estão estudando mais, lendo mais cedo, usando computador, tablet, vendo desenhos em celulares, o fato de elas ficarem mais tempo enxergando de perto, poderia levar a uma modificação na visão."
Segundo Paulo Schor, oftalmologista da Unifesp, existem evidências de que a leitura precoce por muito tempo em ambiente escuro, ao longo das décadas, possa agravar a miopia. É o que explicaria o prevalência da doença entre alguns povos asiáticos de 20% para 80% em algumas décadas.
Kara também diz que, com o processo de urbanização e acesso mais fácil a médicos, casos que antes não seriam descobertos, passam a sê-lo.
Outra possibilidade, segundo Wallace Chamon, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, seria a baixa permanência de crianças ao ar livre. "Se você sai de São Paulo e vai para São Bernardo, a miopia diminui a medida que você se afasta do centro", diz o médico.
Segundo a OMS, crianças que passam mais de duas horas por dia em locais abertos têm o risco de miopia reduzido, mesmo com dois pais míopes e exercendo tarefas que exigem visão próxima.
Outros cuidados, como impedir o acesso de crianças a aparelhos eletrônicos, são menos populares.
"É precipitado dizer que não é para usar tablet muito de perto. Eu aconselho é, de forma muito "light", afastar um pouquinho –sem ficar muito obcecado com isso, sem forçar, porque isso poderia criar outros traumas", diz Kara.
Não se deve coçar os olhos repetidamente. A prática prejudica o órgão e ajuda a desenvolver uma doença chamada ceratocone, que leva ao progressivo afinamento da córnea
Não se deve olhar o Sol diretamente por mais de dez seg., sob risco de causar dano à retina
Ler com pouca luz ou ler muitas horas num ambiente escuro causam desconforto, mas não prejudicam a visão
O mesmo vale para telas de celular, tablet ou computador
Recomenda-se, durante a infância, fazer exames oftalmológicos com um ano e meio, com quatro anos e com seis anos
Procurar um oftalmologista anualmente a partir dos 40, idade na qual aumenta a incidência de glaucoma
"Na década de 1950, um pesquisador da Escola Paulista de Medicina, meu pai, fez uma tese sobre miopia em índios. Descobriu que ela era extremamente rara entre eles", diz Rubens Belfort Jr., da Academia Nacional de Medicina.
O oftalmologista afirma que hoje as taxas do problema em índios se assemelha ao padrão brasileiro. A explicação? Eles agora vão para a escola.
Segundo médicos ouvidos pela Folha, a doença –dificuldade de enxergar de longe– deve ser epidêmica já na próxima geração.
E há outros problemas. "Tem aumentado também a alta miopia. Ela traz problemas como descolamento e degeneração da retina, glaucoma, e hoje é uma das doenças prioritárias para prevenção da cegueira", afirma Milton Ruiz Alves, do Hospital das Clínicas da USP.
Em 2010, a população com alta miopia –igual ou maior a cinco graus (o valor pode variar dependendo do estudo)– era de 2,8%. Para 2050, espera-se que 10% tenham o problema, o equivalente a 925 milhões de pessoas. "Isso vai levar a grandes custos, e não apenas em óculos", diz Belfort.
De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil a prevalência de miopia varia de 11% a 36% da população. A pasta diz que mais de 35 milhões brasileiros apresentam alguma deficiência visual.
Se há certeza do crescimento, não há sobre suas causas. Há influência genética na miopia –etnias como a asiática, apresentam uma maior prevalência. Só isso, porém, não explica o aumento recente.
Fatores culturais, por sua vez, podem ser preponderantes. "A miopia está sendo induzida pelos hábitos de vida, que trazem transformações para o corpo todo", afirma Newton Kara, oftalmologista do Hospital Sírio-Libanês e professor da USP. "Como as pessoas estão estudando mais, lendo mais cedo, usando computador, tablet, vendo desenhos em celulares, o fato de elas ficarem mais tempo enxergando de perto, poderia levar a uma modificação na visão."
Segundo Paulo Schor, oftalmologista da Unifesp, existem evidências de que a leitura precoce por muito tempo em ambiente escuro, ao longo das décadas, possa agravar a miopia. É o que explicaria o prevalência da doença entre alguns povos asiáticos de 20% para 80% em algumas décadas.
Kara também diz que, com o processo de urbanização e acesso mais fácil a médicos, casos que antes não seriam descobertos, passam a sê-lo.
Outra possibilidade, segundo Wallace Chamon, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, seria a baixa permanência de crianças ao ar livre. "Se você sai de São Paulo e vai para São Bernardo, a miopia diminui a medida que você se afasta do centro", diz o médico.
Segundo a OMS, crianças que passam mais de duas horas por dia em locais abertos têm o risco de miopia reduzido, mesmo com dois pais míopes e exercendo tarefas que exigem visão próxima.
Outros cuidados, como impedir o acesso de crianças a aparelhos eletrônicos, são menos populares.
"É precipitado dizer que não é para usar tablet muito de perto. Eu aconselho é, de forma muito "light", afastar um pouquinho –sem ficar muito obcecado com isso, sem forçar, porque isso poderia criar outros traumas", diz Kara.
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Saúde Ocular
O que fazer para manter uma boa visãoNão se deve coçar os olhos repetidamente. A prática prejudica o órgão e ajuda a desenvolver uma doença chamada ceratocone, que leva ao progressivo afinamento da córnea
Não se deve olhar o Sol diretamente por mais de dez seg., sob risco de causar dano à retina
Ler com pouca luz ou ler muitas horas num ambiente escuro causam desconforto, mas não prejudicam a visão
O mesmo vale para telas de celular, tablet ou computador
Recomenda-se, durante a infância, fazer exames oftalmológicos com um ano e meio, com quatro anos e com seis anos
Procurar um oftalmologista anualmente a partir dos 40, idade na qual aumenta a incidência de glaucoma
Colaborou FERNANDO TADEU MORAES
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