3 de Março de 2018 às 17:29 h
Em tese, porque estamos diante de uma situação que absolutamente não permite chamar de paranoico aquele que achar que elas correm risco.
Reproduzo seu texto ao final, mas fixo antes algumas observações.
O que está sendo criado é um descompasso entre o sentimento do eleitor e os candidatos que lhes serão apresentados.
Os sentimentos estão polarizados, as candidaturas, não, a prevalecer o projeto de retirar Lula da disputa e se Bolsonaro não conseguir viabilizar uma presença na disputa pela falta de meios de comunicação.
O governismo, como assinala Singer, está dividido entre o próprio Temer, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia e Geraldo Alckmin, pois o golpismo do PSDB tornou-o parte inseparável do regime que do golpe resultou.
Marina Silva ocupa um nicho ecológico que não tem como se expandir à luz do sol. É o "picolé de chuchu" de 2018, mas do chuchu mal deito, do qual não se tirou o amargo.
A oposição segue sem candidato diante da possibilidade de Lula ser impedido de disputar. Ciro, mais preocupado em marcar distância de Lula e Boulos querendo sê-lo, sem ser.
Quanto mais o tempo até a eleição se encurta, mais assombra a sensação de que elas se preparam num vácuo político.
E em política, ensina a mais antiga das lições, não há vácuo.
Eleição de 2018 será confusa e emocionante
André Singer, na Folha
A crise que se abriu em 2015, somando a recessão à Lava Jato, desembocou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Mas o desenlace de 2016 não resolveu o problema de como reorganizar a política. Agora, estilhaçados sob o impacto das rupturas ocorridas, nenhum dos dois blocos —pró-impedimento e anti-impedimento— consegue se unificar para 2018.
A arca que patrocinou o golpe parlamentar se encontra, até aqui, dividida. Desde as acusações de Joesley, Michel Temer, Geraldo Alckmin, Rodrigo Maia, Marina Silva e Jair Bolsonaro não tocam pela mesma partitura. Embora, no fundo, o projeto seja idêntico —alinhar, via liberalismo, o Brasil à nova onda de expansão capitalista— os propósitos individuais começaram a falar mais alto.
A malinha de Rocha Loures tornou Temer tóxico para os antigos companheiros, só lhe restando lutar sozinho em defesa própria, para não ir preso em 2019. Além disso, aconselhado pelo veterano José Sarney, percebeu que terá um papel importante na eleição, pois o governo é sempre o tema principal da campanha. Resta decidir se o melhor candidato para o papel é ele próprio ou Henrique Meirelles, que não tem dúvida em defender as políticas executadas.
Nesse caso, Rodrigo Maia e Geraldo Alckmin terão dificuldade para explicar por que e a que são oposição. Marina Silva vai testar pela terceira vez a sua plataforma pós-materialista. Do ponto substantivo, porém, terá pouco de diferente a oferecer. À direita deles, Jair Bolsonaro ocupou o nicho das propostas de segurança ultraconservadoras.
Do lado derrotado em 2016, a tentativa de unidade para resistir às consequências do golpe gorou. A entrevista de Lula à Folha (1°/3), anunciando que está obrigado a ir até o fim com a sua candidatura, enterra as chances de construir uma frente ampla, como a do Uruguai, em que vários partidos decidissem em conjunto, por meio de prévias, quem será o candidato. Ciro Gomes, Guilherme Boulos e o ex-presidente (ou quem o represente na última hora) vão disputar os votos na urna.
Lula e Ciro, no fundamental, pensam parecido: querem convencer a burguesia (ou parte dela) de que o capitalismo brasileiro poderia se desenvolver de um modo a favorecer mais os setores populares. Boulos pretende recolocar em cena propostas nitidamente de esquerda, como fez o PT na origem.
Com oito candidatos relativamente emparelhados, na hipótese de Lula não poder efetivamente concorrer, a luta será para chegar ao segundo turno. Em 1989, o ex-presidente deu o passo decisivo para entrar na divisão especial da política brasileira (participar da reta final) com apenas 14% dos eleitores sufragando seu nome no primeiro turno. Será um pleito confuso e emocionante
Nenhum comentário:
Postar um comentário