Automedicação: o barato que sai caro e pode ser perigoso
Apesar de saber que é perigoso ingerir remédios com base na indicação do balconista da farmácia, de amigos, ou achando que os sintomas são de uma doença que conhece ou já teve, muitas pessoas ainda recorrem a automedicação, para economizar a consulta médica e o exame diagnóstico. Porém, em geral, essa conduta sai mais cara. Os remédios podem agravar doenças, mascarar sintomas, ter efeitos colaterais danosos, ou no mínimo, servir para nada.
Existem pessoas que fazem uso de medicamentos que sobraram, sem ter certeza de que se trata da mesma doença. Outras não sabem que a indicação do balconista, ou de amigos, pode induzir à compra de medicamentos sem garantia de qualidade. Outras ainda com uma única receita médica, no mesmo dia, compram várias vezes o mesmo remédio e o consome indiscriminadamente. Veja os exemplos de medicamentos freqüentemente consumidos sem indicação médica e os perigos.
Laxante - Quando consumido indiscriminadamente pode levar a alterações intestinais. Se a pessoa estiver constipada (intestino preso), complica o quadro e pode levar à perfuração do intestino. Nos idosos, pode provocar desidratação e alterações metabólicas, colocando a vida em risco. Pessoas com tumor intestinal, em geral não diagnosticado, podem agravar a doença.
Xarope - A tosse pode ter várias causas, como infecção viral ou bacteriana, alergia, refluxo da hérnia de hiato e câncer das vias respiratórias. O xarope pode mascarar o sintoma, permitindo que a doença evolua sem controle, pode piorar o problema ou não ter efeito algum.
Antibiótico – Droga usada para tratar várias infecções, como as respiratórias, gripes e abscessos. Mesmo que a pessoa acerte na escolha, ao comprar sem indicação médica, pode errar no tipo e na dosagem, levando ao tratamento errado. Além disso, o indivíduo pode desenvolver resistência à droga e quando for realmente necessária, não terá efeito.
Antiácido - Muito usado para combater dor de estômago, que pode ser sintoma de úlcera, tumor, pancreatite e até de infarto do miocárdio. O uso inadequado pode retardar o diagnóstico, comprometer o tratamento e expor ao risco de morte.
Aspirina - Reconhecida como droga que previne o infarto, só pode ser consumida com indicação médica, mesmo no controle de outras doenças, porque tem efeitos colaterais importantes, podendo provocar problemas de estômago e hemorragias. Pode ser fatal se usada para combater a dengue.
Colírio - Sem indicação médica, a única coisa que se pode passar nos olhos é água limpa. Os colírios têm princípios ativos variados, como corticóides e antibióticos, podem mascarar ou exacerbar doenças e se a pessoa tiver problemas prévios, como glaucoma, pode agravá-los.
Cremes e pomadas - Muitas pessoas cometem o erro de achar que existem cremes e pomadas que tratam tudo, o que está errado porque cada um tem uma indicação adequada. O uso indiscriminado pode mascarar doenças, como câncer de pele, pode provocar dermatite de contato, ou pode não ter efeito.
Remédios naturais - Todos os medicamentos, sem exceção, têm efeitos colaterais e pode provocar riscos à saúde.
Vitaminas - Só devem ser tomadas quando há uma real necessidade até porque algumas, dependendo da dose, podem provocar doenças. A vitamina C, por exemplo, provoca distúrbios gastrointestinais e cálculo renal. A vitamina A, quando consumida por crianças, pode provocar hipertensão craniana.
Suplementos alimentares - Podem ter efeitos tóxicos, ou não fazer nada. Estudos relacionam os suplementos com o desenvolvimento de arritmias cardíacas e com morte súbita.
Casamento de remédios - Algumas pessoas, ao acharem que estão com gripe, por exemplo, ingerem xarope para a tosse, que piora a secreção pulmonar, descongestionante nasal que, nos casos de sinusite e pneumonia, piora o quadro, e injeções à base de eucalipto, absolutamente inúteis. Além disso, tudo junto pode provocar reações alérgicas e até choque anafilático.
É importante que as pessoas saibam cuidar melhor da saúde, conheçam o risco da automedicação, valorizem mais o conhecimento médico e o ideal é que todos os medicamentos sejam vendidos apenas com retenção de receita.
Por: Dr. Abrão José Cury Jr., diretor da Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, médico assistente da Universidade Federal de São Paulo e cardiologista do Hospital do Coração.
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