Ovários Policísticos - uma limitação real à perda de peso
17-Fev-2009
Para muitas pacientes, não é nada esclarecedor quando elas são informadas que tem a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP). A começar pelo nome, pois a Síndrome dos Ovários Policísticos pode ocorrer sem que o exame de ultra-sonografia revele cistos nos ovários e, muitas vezes, temos que excluir várias outras doenças que tem em comum a produção excessiva de hormônios masculinos pela mulher. Além disso, 20% das mulheres normais podem apresentar ovários policísticos, sem nenhuma manifestação clínica ou alteração hormonal, não sendo caracterizadas como portadoras da Síndrome dos Ovários Policísticos.
O início dos sintomas
Geralmente, tudo começa por volta dos 10 ou 12 anos, quando os ovários da menina, até então inativos, passam a produzir hormônios em grande quantidade, desencadeando a puberdade e com ela a menarca, nome dado a primeira menstruação. “Nessa época, já se nota uma maior tendência ao ganho de peso. No rosto, os efeitos dos hormônios sob a forma de acne e seborréia, características que dão à pele da adolescente aquela aparência oleosa. Tudo isso pode ser normal e desaparecer lentamente, assim que a turbulência hormonal dá lugar às secreções hormonais cíclicas e regulares da mulher adulta”, explica a endocrinologista Ellen Simone Paiva, diretora do Citen, Centro Integrado de Terapia Nutricional.
De repente, essa regularidade não ocorre e o que é pior, a irregularidade se agrava com o passar do tempo. As menstruações passam a ocorrer de maneira mais espaçada e irregular, a acne se agrava e aparecem pêlos mais escuros, principalmente em área ditas androgênicas - rosto, raiz das coxas, linha média do abdome, em volta da aréola mamária - e as proporções corporais não param de aumentar. Tudo parece comprometer ainda mais a grande instabilidade da adolescente: sua insegurança, sua baixa auto-estima, sua rebeldia e sua tão distante imagem corporal ideal.
Critérios diagnósticos e incidência
Fazemos o diagnóstico da SOP quando pelo menos 2 dos 3 critérios abaixo forem positivos em uma adolescente ou mulher adulta:
(1) infertilidade devido a falta de ovulação;
(2) evidências clínicas (acne, excesso de pelos corporais, seborréia, queda de cabelos) e/ou laboratoriais de excesso de hormônios masculinos;
(3) múltiplos pequenos cistos ovarianos vistos através da ultra-sonografia pélvica.
“Logo, a SOP é uma patologia complexa, pois pode estar presente em pacientes com menstruações regulares, sem obesidade; em pacientes sem alterações nos exames hormonais, e, ainda, em mulheres sem as manifestações clínicas de excesso de hormônios masculinos”, diz Ellen Paiva.
A incidência da SOP é alta e alcança estatísticas de 5 a 10% das mulheres em idade reprodutiva. “Muitas não são diagnosticadas pelo fato de terem ciclos menstruais regulares e nenhuma manifestação clínica de excesso hormonal. Menstruam normal e regularmente, mas não têm ovulação. Têm hormônios alterados no sangue e nenhuma manifestação clínica do fato. Nesses casos, exames de sangue e uma ultra-sonografia dos ovários fecham o diagnóstico”, explica a endocrinologista.
Nos consultórios dos endocrinologistas, dermatologistas e ginecologistas, elas se queixam de grande dificuldade de perder peso e das alterações clínicas secundárias ao excesso de hormônios masculinos que seus ovários fabricam: acne, queda de cabelos, seborréia e excesso de pêlos corporais, o chamado hirsutismo.
As estatísticas revelam que 80% dos casos de hirsutismo se devem à SOP. Entretanto, uma condição benigna de excesso de pêlos, chamada hirsutismo idiopático deve ser lembrada e investigada, pois nesses casos, os ciclos regulares são acompanhados de ovulação normal, os hormônios masculinos são normais nos exames de sangue e a ultra-sonografia dos ovários é normal.
As complicações ginecológicas da SOP
As mais importantes dificuldades ginecológicas das mulheres com SOP são a dificuldade ovulatória e a infertilidade. “Além disso, várias complicações podem ocorrer com essas mulheres quando elas conseguem engravidar, dentre estas, o maior índice de abortamentos, o diabetes gestacional, a hipertensão arterial da gestação e a pré-eclâmpsia. Para todas elas, o tratamento adequado reduz a incidência dessas complicações e quase as igualam às mulheres normais”, afirma a diretora do Citen.
As complicações sistêmicas da SOP
As mulheres com SOP apresentam vários fatores de risco cardiovascular, incluindo maior prevalência de obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão arterial, alterações das gorduras do sangue como elevação dos triglicérides e queda do colesterol bom, o HDL colesterol.
“Além disso, recentemente, podemos constatar uma maior incidência de doenças do fígado nas mulheres com SOP, principalmente relacionadas ao acúmulo de gordura no órgão: a esteatose hepática e a hepatite gordurosa. Todas essas alterações estão relacionadas a um tipo especial de obesidade, a chamada obesidade visceral ou central, onde temos a impressão de que o tronco engorda mais do que os membros e a gordura se acumula mais no interior do abdome do que no subcutâneo”, explica a endocrinologista.
A difícil tarefa de tratar a SOP
O tratamento da SOP depende das alterações apresentadas pelas pacientes, do grau de intensidade de suas alterações e dos objetivos a que elas se propõem. No caso das adolescentes recém-diagnosticadas, é muito importante a correção das alterações menstruais e a normalização dos hormônios masculinos, com a conseqüente melhora estética que ela causa. Nesses casos, muitas vezes, a utilização de pílulas anticoncepcionais já resolve a maioria dos problemas.
Para as pacientes com anovulação crônica e que desejam engravidar, a melhor forma de tratamento é a indução das ovulações. “Para todas estas mulheres, a perda de peso é fundamental para a volta à normalidade ginecológica, endocrinológica e estética”, observa a médica.
Uma obesidade de difícil tratamento
Apesar da obesidade não entrar nos critérios diagnósticos da SOP, ela geralmente é a regra. A grande maioria das pacientes tem sobrepeso, obesidade ou uma grande dificuldade de manter o peso ideal. “Além disso, a SOP se associa a um tipo especial de obesidade, aquela que se acumula no tronco, principalmente no abdome, mudando radicalmente as proporções corporais ideais da menina-moça, que, perdendo a cintura e ganhando menos peso em membros, muitas vezes, têm pernas desproporcionalmente magras para o tronco gordinho. É a obesidade visceral, que traduz o excesso de insulina que acompanha essas pacientes e, muitas vezes, dificulta sobremaneira a perda de peso”, destaca a médica.
O excesso de insulina no sangue é a marca de uma obesidade resistente à perda de peso, pois a insulina é um hormônio anabólico, que favorece sempre o estoque de calorias, em detrimento da queima. “Logo, todas as formas de se reduzir a produção de insulina são válidas, mas a mais importante é a melhora da sensibilidade à ação do hormônio”, diz a endocrinologista Ellen Paiva.
Sempre que temos dificuldade em responder ao efeito de um hormônio ou que somos resistentes a ele, a glândula tende a produzir quantidades hormonais cada vez maiores e isso ocorre também com a insulina, nos casos de SOP. “Por outro lado, assim que possibilitamos uma maior eficácia do hormônio, ele passa a ser produzido em menor quantidade e seus níveis sangüíneos caem. Isso pode ser conseguido com atividade física, dieta adequada, perda de peso e alguns medicamentos”, defende a médica.
“Além do benefício estético, a perda de peso pode influenciar no ciclo menstrual, na ovulação e na queda dos hormônios masculinos, com a conseqüente melhora das alterações estéticas tão desagradáveis para essas pacientes”, destaca a médica. Isso também pode ser observado em mulheres obesas normais, ou seja, que não têm SOP. Muitas delas têm irregularidades menstruais, excesso de pêlos e acne, muitas não têm ovulação, unicamente por causa da obesidade. “Nesses casos, a perda de peso consegue reverter todo o quadro, revelando assim, mais uma conseqüência da obesidade”, conclui a endocrinologista Ellen Simone Paiva.
SERVIÇO:
www.citen.com.br
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