3.10.2015

Homem da mala de dinheiro conta como pagava propinas a políticos importantes

Segundo ex-diretor da Camargo Corrêa, Maluf gostava de receber dinheiro em mãos. Foram mais de US$ 300 milhões

O DIA
Rio - O homem da mala de dinheiro que abasteceu velhos conhecidos políticos, como Paulo Maluf, contou como ganhou confiança e privilégios na empreiteira Camargo Corrêa. Em entrevista à revista IstoÉ da última sexta-feira, o ex-diretor João Paulo dos Santos, de 82 anos, contou como ganhou de Sebastião Camargo a senha do cofre da empresa e passou para uma importante função: o Caixa 2. Santos declarou que chegou a entrar com "maletas 007" por três vezes, no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo.
De acordo com o responsável pelo "delivery" de dinheiro, Maluf gostava de receber a propina em mãos, já Orestes Quércia e Luiz Antonio Fleury Filho, ambos do PMDB, usavam intermediários. Segundo Santos, foram mais de US$ 300 milhões em propinas. Ele contou que Maluf escondia o dinheiro recebido em uma poltrona de fundo falso, em sua casa.
Segundo o ex-diretor, que trabalhou de 1951 a 1993 na Camargo Corrêa, a empresa superfaturou planilhas para pagar propinas na construção da ponte Rio-Niterói, na hidrelétrica Itaipu, na barragem do Lago Paranoá, em Brasília, e em incontáveis rodovias federais e estaduais, assim como pontes, viadutos e túneis. Durante a gestão de Maluf, a construção do túnel do Jóquei Clube foi reajustada de US$ 40 milhões para US$ 90. O próprio Santos efetuou o primeiro pagamento.
Delação
Santos procurou o Ministério Público de São Paulo após dirigentes da empreiteira serem presos em novembro do ano passado. Um inquérito sobre o caso deve ser aberto nos próximos dias pelo promotor Augusto Rossini, que ouviu o relato do ex-diretor. Sob a ótica penal, os crimes já prescreveram, mas o promotor afirma que ainda é possível reaver o dinheiro desviado.
João Paulo dos Santos afirma que a delação não tem a ver com arrependimento e sim com o fato de se sentir traído pelos exexutivos da Camargo Corrêa. Segundo ele, Sebastião Camargo lhe prometeu um empréstimo para ajudá-lo na construção de um hotel e após a morte do fundador do grupo, ele pegou US$ 160 mil, no Banco Geral do Comércio. Quando o banco foi vendido para o grupo Santander, a dívida foi executada judicialmente, apesar de Santos ter pedido ajuda aos herdeiros de Sebastião para que cumprissem com o acordo feito anteriormente. O ex-diretor acabou perdendo a casa e o hotel e decidiu então contar à Justiça o que sabia.
Segundo a Camargo Corrêa, Santos inventou denúncias para extorquir a empresa e agora tenta pressionar a cúpula da empreiteira. De acordo com o advogado do grupo, Celso Villardi, o ex-diretor não tem provas de suas denúncias. Já o ex-governador Fleury, se defendeu à reportagem da revista dizendo que não conhece João Paulo dos Santos e que irá processá-lo.

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