2.13.2017

Folha diz ter sido censurada a mando do governo Temer


247 - O jornal Folha de S. Paulo denunciou nesta segunda-feira, 13, que o governo de Michel Temer pediu e a Justiça de Brasília determinou a censura de uma reportagem do jornal sobre a tentativa de extorsão sofrida pela primeira-dama Marcela Temer no ano passado.
"Uma liminar concedida pelo juiz Hilmar Castelo Branco Raposo Filho, da 21ª Vara Cível de Brasília, impede que a Folha publique informações sobre uma tentativa de um hacker de chantageá-la, no ano passado", diz o jornal. 
A petição foi assinada pelo advogado Gustavo do Vale Rocha, subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, em nome de Marcela (leia mais). Segundo o juiz, os fundamentos apresentados pela defesa da esposa de Temer são "relevantes e amparados em prova idônea". "A inviolabilidade da intimidade tem resguardo legal claro", diz o despacho.
O hacker Silvonei José de Jesus, que invadiu o celular e o computador de Marcela Temer, a chantageou ameaçando jogar o nome de Michel Temer na lama, com um áudio em que ela dizia que o marqueteiro Arlon Viana fazia "a parte baixo nível" do marido. Homem de estrita confiança de Temer, Viana já foi chefe do seu escritório em São Paulo e tesoureiro do PMDB paulista; hoje, é assessor especial da presidência da República. O caso foi investigado por Alexandre de Moraes e o áudio desapareceu do processo (leia mais sobre o assunto).
Em artigo nesse domingo, a colunista do 247 Tereza Cruvinel questiona o que ainda falta para a ditadura, depois da censura. 
A Folha informou que irá recorrer da decisão.
Abaixo, a íntegra da nota da Abraji contra a censura pedida por Marcela Temer:
O juiz Hilmar Castelo Branco Raposo Filho, da 21ª Vara Cível de Brasília, deferiu pedido feito pela primeira-dama Marcela Temer de aplicar censura prévia aos jornais "O Globo" e "Folha de S.Paulo". Segundo a decisão, os jornais devem se abster de publicar reportagem com dados e informações obtidas por um hacker no celular da primeira-dama, em abril do ano passado.
Conforme divulgaram os dois jornais em seus sites na tarde desta sexta-feira (10.fev.2017), aqui e aqui, o hacker tentou extorquir dinheiro da primeira-dama, ameaçando divulgar o conteúdo de uma gravação obtida por ele no celular da vítima. Segundo ele, a gravação comprometeria o presidente Michel Temer. As informações constam de relatório da Polícia Civil e do processo sobre o caso e tramitou no Tribunal de Justiça de São Paulo.
Em decisão interlocutória (provisória) do início da noite desta sexta-feira, o juiz da 21ª Vara Cível de Brasília fixou pena de R$ 50 mil de multa em caso de publicação das informações.
O advogado de Marcela, Gustavo do Vale Rocha -- que também é subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República -- argumentou que a divulgação seria conduta "criminosa e atentatória de direitos fundamentais" da primeira-dama, e que os veículos de imprensa teriam ignorado tal aspecto, "apenas para aumentar o número de acesso a seus sites e venda de suas edições impressas".
Rocha pediu que fosse concedida "tutela de urgência inibitória". Em caso de os dados já terem sido publicados, o advogado pediu que fossem "imediatamente retirados do site e recolhidas eventuais edições impressas, sob pena de multa de R$ 500 mil por acesso no site e edição vendida".
A Abraji é contra qualquer tipo de censura e reivindica a anulação da absurda decisão da 21ª Vara Cível de Brasília. Impedir repórteres de publicar reportagens é prejudicial não apenas ao direito à informação, como também ao papel do jornalista de fiscalizar o poder público.
Como resumiu a presidente do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia em junho de 2015, "cala a boca já morreu, quem disse foi a Constituição”. A censura foi banida pela Carta Magna de 1988 e pelo STF em sua decisão na ADPF 130, que derrubou a Lei de Imprensa. A liberdade de imprensa e a liberdade de expressão são fundamentais em qualquer democracia.
Diretoria da Abraji, 11 de fevereiro de 2017.

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