Desta avaliação comungam tanto os governistas que consideram insustentável e danosa a permanência de Temer no cargo como oposicionistas que não se iludem com o significado de sua substituição por Maia. A agenda do “novo” governo continuaria sendo a mesma que inspirou o golpe contra Dilma Rousseff, apoiada pela banca financeira e pelo capital produtivo mas, mesmo assim, remover Temer tornou-se um imperativo ético e político. É o que pensam todos os partidos de oposição, do PSOL ao PT, passando por PDT e PC do B.
Mas para se viabilizar como sucessor, Maia precisa atrair uma boa parte da base governista para chegar aos 342 votos favoráveis à concessão da licença para que Temer seja processado pelo STF por corrupção passiva, com o imediato afastamento do cargo. Os governistas, essencialmente fisiológicos e dependentes das tetas governamentais, não votarão contra Temer se não tiverem certeza de que ele cairá. Se votam contra Temer e ele ganha, perderão tudo e ficarão à míngua nesta véspera de ano eleitoral. No levantamento da Folha de S. Paulo, por exemplo, 175 são a favor da licença, 71 contra e 267 não responderam ou se declararam indecisos.
Maia, entretanto, pisou no freio das conversas sobre o pós-Temer que andou tendo na semana passada, inclusive com setores do empresariado. Travou sobretudo após o encontro que teve no domingo com Temer. A conversa parece ter sido particularmente azeda com membros de seu entorno, como o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. Na segunda-feira ele teve outro encontro com Temer, no qual teria prometido votar o pedido de licença logo que a CCJ apreciasse o parecer do relator Sergio Zveiter. E com isso, a tropa de choque de Temer avançou ontem, conseguindo inclusive o fechamento de questão no PMDB.
A maioria contra Temer só se formará se Maia dispor-se a quebrar alguns ovos para fazer sua omelete. Ou se ousar pisar no estribo para montar o cavalo que está passando à sua frente. Para isso, teria que ousar mais nas conversas com deputados da base, assegurando que todos continuarão tendo o que já têm, e talvez até mais, num governo que poderá propiciar ao país alguma estabilidade e até mesmo alguma distensão no ambiente político, embora não deva contar com indulgência alguma do PT e da oposição. Teria que se entender diretamente com o PSDB para a formação de uma coalizão de governo. Aos demais partidos governistas, diz um deputado de seu entorno, defensor de postura mais ofensiva, deveria assegurar a preservação dos ministérios e postos que já ocupam no governo. Aos deputados, individualmente, deveria garantir a manutenção dos indicados e a liberação de suas emendas orçamentárias. Maia sabe que é assim que as coisas funcionam. Foi assim, com promessas de vida melhor no governo Temer, que o comando do golpe conseguiu descolar de Dilma parte de sua base, garantindo os votos para o impeachment.
Maia sabe como as coisas funcionam e tem o controle do tempo na votação do pedido de licença do STF. Ele tem dito que se a CCJ votar na quinta-feira o parecer do relator Sergio Zveiter, na própria sexta poderá abrir a votação em plenário. Se fizer isso, estará atendendo ao comando de Temer, que pretende liquidar a fatura antes do recesso, que começa na terça-feira, dia 18. Se os deputados ficarem por algum tempo em suas bases, sujeitos às pressões e cobranças do eleitorado, voltarão mais propensos a aprovar a licença. Rodrigo, entretanto, tem a prerrogativa de marcar a data de votação. Poderia, se quisesse, jogá-la para agosto, que é tudo que Temer não quer.
Diz-se no jargão político que o cavalo do poder não costuma passar selado duas vezes diante de um político. Assumindo a presidência interinamente, Maia teria chance de ser eleito indiretamente depois de seis meses, em caso de condenação de Temer. E se fizer um governo minimamente estabilizador, pode até mesmo tornar-se um candidato competitivo em 2018. Mas com seu retraimento das últimas horas, ele está contribuindo para que Temer consiga sepultar a primeira denúncia de Rodrigo Janot. O problema é que depois virá outra, por obstrução da Justiça. A instabilidade persistirá e o país continuará pagando um custo altíssimo pela permanência de Temer no Planalto.
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