Mas por que este entendimento seria aplicado agora pelo STF, se a delação de Joesley Batista não foi mantida em sigilo e a primeira denúncia de Janot contra Temer, nela baseada, também foi logo divulgada e enviada à Câmara para apreciação? Esta resposta terá que ser dada. Mas no Judiciário atual, em tempos de exceção, é assim: para cada situação, uma solução. Esta é a saída mais confortável para Temer, neste momento em que sua base está desconjuntada, a economia no pior dos mundos e a rejeição ao governo nas alturas. Se a denúncia for posta no freezer com o selo do sigilo, Janot deixará o posto, algum tempo se passará, e quando o sigilo for levantado, a situação pode ter mudado. Quem sabe terá até concluído o mandato...
Como já foi divulgado, Funaro confessou em sua delação que recebeu dinheiro de Joesley para não revelar sua atuação como operador do PMDB de Temer, Padilha e companhia. Funaro confirmou Joesley, que naquela conversa gravada em março no Jaburu tranquilizou o anfitrião dizendo ter feito todo o possível para “zerar” todas as pendências com Eduardo Cunha, garantindo seu silêncio. “Estou de bem com o Eduardo, disse por fim. “Isso tem que ser mantido, viu?”, recomendou Temer. Para além daquela conversa, a nova delação de Janot teria encontrado, na delação de Funaro, mais detalhes sobre o esforço dos peemedebistas para evitar que a Lava Jato avançasse na direção deles. Deste esforço participou também Geddel Vieira Lima, que está em prisão domiciliar.
A consistência da denúncia, entretanto, parece não ter peso algum sobre a decisão da maioria governista na Câmara, que já desautorizou a investigação de Temer por corrupção passiva apesar da mala de dinheiro recebido por seu homem de confiança. Mais eloquente que a cena da mala, casada com a conversa no Jaburu, impossível, mas Temer ganhou aquela parada. Agora, sua situação já não é a mesma de 2 agosto. Sua base na Câmara vem se esfarelando pelas beiradas, o PDSB mergulhou numa crise interna, a economia vai de mal a pior e a rejeição ao governo, nas alturas. Retardando ao máximo o envio da denúncia à Câmara, o governo ganha tempo para recompor a base, negociar votos, pagar favores e acertar as “pendências” da primeira votação.
Por isso agora foi lançada à roda a ideia de que a delação de Funaro pode ser submetida ao sigilo, ficando a este sigilo amarrada a segunda denúncia de Janot, até melhor momento.
Mas alguns terão que mostrar a cara para conduzir esta saída. Num roteiro provável, o ministro-relator Luiz Fachin, depois de homologar a delação de Funaro, consultaria o plenário sobre a suspensão ou não do sigilo de seu conteúdo. Mas por que ele tomaria agora uma decisão que não tomou em relação à delação de Joesley Batista? Estaria mesmo disposto a tomar uma atitude que corresponderá à oferta de proteção temporária a Temer?
Supondo-se que ele faça isso, no plenário não será difícil. Gilmar Mendes e Dias Toffoli, por exemplo, já se manifestaram sobre a importância de manter as delações sob sigilo. Terão seguidores, sem dúvida. E aposto o selo de “sigiloso” sobre a delação de Funaro, a última flecha de Janot terá sido interceptada em pleno voo, não atingindo o alvo. Pelo menos, não agora.
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