Toque retal para prevenção de câncer de próstata não deve ser rotina
Em uma reviravolta surpreendente em relação a todas as campanhas anteriores de esclarecimento e prevenção do câncer de próstata, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) anunciou que o toque retal e o exame de dosagem de PSA não deve ser uma rotina para os homens que não possuam sintomas da doença.
"Não existem evidências científicas de que o rastreamento para o câncer de próstata reduza a mortalidade causada pela doença", afirma Ana Ramalho, gerente da Divisão de Gestão da Rede Oncológica do Instituto Nacional de Câncer.
Prevenção do câncer de próstata
Rastreamentos são as práticas de exames preventivos associados a campanhas para diminuição das doenças. A implantação das políticas de rastreamento, contudo, segundo os especialistas, exige que as práticas preventivas mostram-se eficazes na redução das taxas de mortalidade de uma determinada doença. E, segundo o INCA, isso não acontece com o câncer de próstata.
Dessa forma, não é indicado que homens sem sintomas (sangue na urina; necessidade freqüente de urinar, jato urinário fraco; dor ou queimação ao urinar) se submetam rotineiramente ao toque retal e ao exame de dosagem do antígeno prostático específico (PSA, na sigla em inglês). A Organização Mundial de Saúde não recomenda a estruturação de programas de rastreamento para o câncer de próstata.
Riscos e benefícios do toque retal
O INCA recomenda que homens que demandem espontaneamente a realização do exame de rastreamento sejam informados por seus médicos sobre os riscos e benefícios associados a esta prática. No entanto, o homem sempre deve procurar o urologista na presença de algum sinal de alerta.
"Estudos demonstram que o câncer de próstata é evidenciado histologicamente em 30% dos exames pós-morte em homens com mais de 50 anos. Isso significa que, num grande número de homens, a doença está presente, mas nunca evoluirá", pontua Ana Ramalho.
Tratamentos desnecessários
Estão em curso atualmente dois grandes estudos (um que reúne dados de oito países da Europa e o outro, nos Estados Unidos) que investigam o impacto do rastreamento da doença na mortalidade masculina.
Até agora, as pesquisas constataram excesso de diagnóstico de câncer de próstata nos grupos analisados e maior probabilidade de encontrar tumores de lenta progressão (a maioria) que, muitas vezes, nem chegariam a afetar a saúde do paciente, mas, quando detectados, exigem que o homem se submeta a tratamentos.
Esses resultados reiteram a necessidade de maior tempo de seguimento para demonstrar se haverá ou não redução da mortalidade com o rastreamento.
Não existem tratamentos sem riscos
E nenhum tratamento é isento de riscos. A radioterapia, indicada tanto para tumores pouco agressivos quanto para o agressivo localizado, ataca não só as células tumorais, mas também células saudáveis da bexiga e do reto, o que pode deixar seqüelas. Outro risco sério é a possibilidade de o paciente ter disfunção erétil (estimada em até 70%) e incontinência urinária (até 25%), após a retirada da próstata, segundo o National Health Service, do Reino Unido.
"O conhecimento atual sobre rastreamento de doenças é de que, como em qualquer outra tecnologia em saúde, seu uso pode trazer benefícios e riscos, que devem ser cuidadosamente analisados e comparados antes de sua incorporação na prática médica e de saúde pública", complementa a médica.
Acompanhamento das pesquisas científicas
Com exceção dos Estados Unidos, onde o teste do PSA é muito popular, nenhum outro país adota o rastreamento do câncer da próstata como uma política de saúde pública.
"O INCA continuará acompanhando o debate científico sobre o tema, podendo rever esta posição quando estiverem disponíveis os resultados dos estudos multicêntricos em curso", concluiu Ana Ramalho.
Segunda causa de morte por câncer entre homens
O câncer de próstata é a segunda causa mais comum de morte por câncer entre os homens no Brasil. Esse câncer é raro antes dos 50 anos e o risco é maior em homens com história familiar.
Ele não é uma doença única, mas engloba desde tumores muito agressivos até aqueles de crescimento lento. Muitos homens com a doença menos agressiva tendem a morrer com o câncer, em vez de morrer do câncer, mas nem sempre é possível dizer, no momento do diagnóstico, quais tumores são agressivos e quais os de crescimento lento.
Formas específicas de prevenção do câncer da próstata
Não são conhecidas formas específicas de prevenção do câncer da próstata. No entanto, adotar hábitos saudáveis, como fazer exercícios físicos, não fumar e ter uma alimentação rica em vegetais, é capaz de reduzir o risco de desenvolvimento de certas doenças, entre elas o câncer.
De acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Câncer, são esperados ao longo de 2008 49.530 novos casos de câncer de próstata. Os estados com as maiores taxas brutas de incidência (número de casos a cada 100 mil habitantes) são Rio Grande do Sul (80,63), Rio de Janeiro (77,93), Paraná (65,16) e São Paulo (64,3).
Exame para diagnóstico do câncer de próstata pode ser desnecessário
Homens com idades entre 75 e 80 anos podem não se beneficiar com a realização do exame de rotina PSA (Prostate Specific Antigen) para detecção do câncer de próstata, de acordo com um estudo feito na Universidade Johns Hopkins (Estados Unidos), que será publicado no exemplar de Abril do The Journal of Urology.
Os pesquisadores descobriram que homens nesta faixa etária com níveis de PSA menores do que 3 nanogramas por mililitro têm poucas chances de ser acometidos de câncer agressivo da próstata e de morrer em decorrência dessa doença durante todo o restante de sua vida, sugerindo que o uso do exame PSA em muitos homens idosos pode não mais ser necessário.
O estudo revisou dados de 849 homens (122 com e 727 sem o câncer de próstata) que se submeteram a exames rotineiros de PSA no Instituto Nacional de Envelhecimento, em Baltimore.
Os resultados mostraram que, entre os homens acima de 75 anos com níveis menores do que 3 nanogramas por mililitro, nenhum morreu de câncer de próstata e somente um desenvolveu o câncer de próstata de alto risco.
Em contraste, homens de todas as idades com níveis de 3 nanogramas por mililitro ou maiores têm uma probabilidade crescente de morrer de câncer de próstata.
Sabendo a hora de parar
Se confirmado por estudos futuros, esses resultados poderão ajudar a determinar regras mais específicas para a supressão dos exames de PSA, segundo o Dr. Edward Schaeffer, coordenador do estudo.
"Nós precisamos identificar onde nós podemos focar melhor os recursos da saúde concentrando-nos em pacientes que realmente se beneficiam dos exames de PSA," diz Schaeffer. "Estas descobertas dão uma sugestão muito forte de quando nós podemos começar a aconselhar os pacientes a pararem de fazer os exames."
Exame de toque retal
Recentemente, o Instituto Nacional do Câncer emitiu alerta sobre a falta de evidências científicas que dêem suporte ao uso extensivo dos exames de toque retal e de PSA - veja Toque retal para prevenção de câncer de próstata não deve ser rotina e INCA mantém restrições ao exame de toque retal.
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