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3.18.2009
Retrato do resultado da droga no Rio de Janeiro
Complexo do Alemão: onde a lei que impera é o código do crime
O batidão em altíssimo volume, com letras obscenas e de glamourização do crime, serve de trilha sonora para a realidade de um mundo paralelo dentro do Rio de Janeiro. Longe dos cartões postais, dos turistas e à sombra de qualquer ação do poder público, 200 mil cidadãos cariocas vivem em um território onde os códigos do tráfico ignoram as leis e a Justiça. As 12 favelas do Complexo do Alemão traduzem com perfeição o que se convencionou chamar de “poder paralelo”.
Trata-se da filmagem feita durante festa de aniversário de dois irmãos traficantes – o DVD foi apreendido em ação de setembro de 2008 – e vêm à tona agora, para revelar os meandros do QG do Comando Vermelho.
A profusão de armas de guerra nas mãos de jovens, na maioria dos casos entregue às drogas — seja vendendo, seja consumindo — representa um desafio cuja complexidade é reconhecida pelo próprio secretário de Segurança, José Mariano Beltrame:
“Posso preparar a polícia, mas há que se preparar o Estado. Comecei um estudo sobre o Alemão e apenas em uma área faltavam 1.200 pontos de luz. Vou deixar o policial no escuro? Nós precisamos que haja um ‘tsunami’ de ações para que nossas ações sejam de qualidade e definitivas. O custo da ocupação do Alemão ainda está no início, mas temos uma base pelo Dona Marta”, afirmou ontem, na Comissão de Direitos Humanos da Alerj.
O vídeo da festa mostra jovens sem qualquer perspectiva de futuro. Trata-se de uma realidade cruel, com velhos e crianças, meninos e meninas (alguns recém-nascidos), e centenas de pessoas de bem lado a lado com marginais empunhando as mesmas armas de guerra usadas por americanos e terroristas no Oriente Médio.
Os donos da festa, Bruninho e Pimpim, são homenageados em um telão, com armas em punho. Os convidados estão à vontade, felizes com o baile improvisado, com churrasco e bebida à vontade — servida e consumida por crianças. Tudo acontece na Rua 2, na Favela da Grota, a poucos metros do Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) da PM, onde os cinco policiais que se dividem em turnos de 24 horas pouco podem fazer.
O tratamento de quase devoção dispensado aos bandidos é a prova de que não ser criminoso nem sempre significa ser inocente. “Muita gente aqui nesse vídeo é simpática (ao crime). Na carteira, é trabalhador. Mas gosta de fazer favor para ficar bem com os bandidos”, diz um morador da comunidade.
Apesar de a agenda lotada ter impossibilitado o secretário de Segurança de ver a filmagem, Beltrame admitiu a dificuldade de controlar aquele pedaço sem lei da cidade. “Imagens de traficantes circulando livremente sempre vão chocar, ninguém de bom senso pode achar normal. Mas é um passo de cada vez na recuperação desses territórios, não existe mágica”, disse em nota oficial.
Fonte O Dia
LESLIE LEITÃO, RIO DE JANEIRO
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