3.02.2009

Saiba usar os antibióticos


Usá-los a torto e a direito é agir como um livre-atirador sem pontaria. Em vez de matar a bactéria, você só faz fortalecê-la. Surge, então, um monstro difícil de vencer

Uma notícia recém-chegada da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, retrata bem o tamanho da ameaça representada pelo consumo indiscriminado de antibióticos: em uma pesquisa de campo com amostras de solo, os cientistas encontraram superbactérias. E elas são súper por dois motivos: toleram altas doses desses remédios e, ousadas, chegam até mesmo a devorar suas moléculas, como se as drogas fossem um banquete. Esnobam anos e anos de avanços da indústria farmacêutica.

Não sabemos se elas, em si, causam doenças em seres humanos, mas podem, sim, transferir seu mecanismo de resistência para outros microorganismos, via DNA, explica a SAÚDE! George Church, autor do estudo. Nessa espécie de transferência de tecnologia de um micróbio para outro, surgem germes causadores de infecções bem adaptados às substâncias que deveriam combatê-los.

O assunto é tão grave que, aqui, a Sociedade Brasileira de Infectologia lançou a campanha Antibiótico necessita de prescrição médica. Como o próprio mote sugere, o objetivo é alertar sobre os perigos de engolir o medicamento sem necessidade. A orientação, aliás, merece atenção redobrada nesta época do ano. Nos dias frios, as pessoas tendem a permanecer mais tempo em ambientes fechados, o que favorece as infecções, justifica o imunologista Fabio Castro, da Universidade de São Paulo.

Os desavisados cometem toda sorte de erro: recorrem ao antibiótico que foi tiro e queda em outra ocasião; passam por uma consulta relâmpago no pronto- socorro e saem de lá com uma receita, digamos, pouco personalizada; tentam curar a doença com antiinflamatório, que não é páreo para infecções bacterianas. Os microorganismos que sobrevivem ao tratamento incorreto se fortalecem, resume a infectologista Thaís Guimarães, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Aí, o paciente passa a ter infecções mais agressivas, que podem até se espalhar pelo corpo. Veja, nos quadros à direita, como você pode, sem querer, entregar superpoderes de bandeja a uma bactéria.

Nunca é demais lembrar que antibióticos não matam vírus. É o caso dos causadores da gripe e de algumas sinusites, cujos sintomas são aliviados com analgésicos e antitérmicos, exemplifica Thaís Guimarães. E as amigdalites, campeãs no uso abusivo de antibióticos, nem sempre são provocadas por bactérias. Em 70% dos episódios, os vírus são os vilões da garganta inflamada avisa o infectologista Eduardo Medeiros, da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp. Só o especialista sabe diferenciar se o pivô da encrenca é um vírus ou uma bactéria, observando sintomas como aparência, febre e dor. Mais uma razão para evitar antiinflamatórios sem prescrição: Eles aliviam a sensação dolorosa, o que dá uma falsa sensação de melhora nas infecções bacterianas. Daí a pessoa pode demorar mais para buscar orientação e receber o tratamento correto, explica Eduardo Medeiros. E o quadro se agrava.

Uma vez medicado com antibiótico, continue monitorando a febre. Se ela persiste por mais de 72 horas após a introdução da droga, isso pode sinalizar que ela não está surtindo efeito. Não perca tempo: procure seu médico. Ou você não está tomando o antibiótico certo ou a dose é insuficiente. É bem verdade que um profissional experiente é capaz de receitar a droga correta com base no olhar clínico, no relato dos sintomas, no histórico do paciente e no estado de saúde geral. Mas, por segurança, muitos tiram a prova dos nove recorrendo a exames como sorologia do sangue, teste de urina, análise do catarro e cultura. Todos eles detectam a bactéria por trás de uma infecção. Uma vez flagrada, é possível fazer ainda o antibiograma, que revela todos os antibióticos aos quais o micróbio em questão sucumbe. Por fim, faça a sua parte. Verifique se você entendeu a receita e pergunte ao profissional sobre cuidados especiais durante a utilização da droga, aconselha Esper Kallas. Medidas simples assim evitam que seu corpo se transforme em um criadouro de monstrinhos resistentes, como os encontrados na pesquisa de Harvard.

Você sabe o que é um antibiograma?
Esse teste de laboratório identifica com precisão o tipo de bactéria a ser eliminada e norteia a prescrição do médico. Mas vale ressaltar que ele não é indispensável. Muitas vezes o médico é capaz de definir o tratamento somente com base na análise clínica e no histórico do paciente. Porém, quando a infecção dá margem a duvidas ou quando é um caso difícil de tratar, o antibigrama é um recurso auxiliar no diagnóstico.

“Para realizá-lo, o profissional orienta a coleta de material biológico representativo da lesão, que pode ser uma amostra de escarro, saliva, secreção, urina, fezes etc”, explica o médico Augusto Cezar Montelli, autor do livro Antibioticoterapia para o Clínico. É importante que esse material seja coletado antes do início da administração do antibiótico. Porém, o médico não precisa esperar o resultado para estipular o remédio. Se necessário, ele fará alterações no tratamento posteriormente.
O material colhido é cultivado em um meio propício para o crescimento e a multiplicação do microorganismo. Então, os germes-alvos, determinados de acordo com as suspeitas do especialista, são isolados e submetidos, em laboratório, à ação de diversos antibióticos. O resultado indicará quais as drogas mais eficazes para combater a bactéria em questão.

QUAL O ANTIBIÓTICO IDEAL?
Só quem sabe responder a essa pergunta é o médico, com base na análise dos seus sintomas ou em resultados de testes complementares.
A dose do remédio é definida de acordo com a gravidade da infecção, o órgão acometido, as condições de saúde do paciente e o tipo de micróbio. “Existem bactérias gram-positivas e gram-negativas. As que se enquadram no segundo grupo possuem uma membrana a mais e, portanto, são mais resistentes”, explica a infectologista Thais Guimarães, do Hospital do Servidor Público

Fonte: Saúde é Vital

Infecções cada vez mais graves, freqüentes e resistentes aos tratamentos indicados estão se tornando comuns devido ao uso abusivo e indiscriminado de antibióticos. Muitas bactérias tornaram-se resistentes aos medicamentos e são até capazes de produzir enzimas que anulam os efeitos desse tipo de remédio, por isso o emprego de antibióticos deve ser realizado sempre sob orientação médica.

"A flora bacteriana que normalmente protege o corpo humano contra infecções fica enfraquecida com o uso abusivo de antibióticos, o que pode tornar o organismo mais vulnerável a doenças", alerta o Dr. Artur Timerman, médico responsável pela equipe de Infectologia do Hospital Prof. Edmundo Vasconcelos. Os efeitos nocivos do uso contínuo de antibióticos têm sido observados, por exemplo, em tratamentos de processos infecciosos no ouvido, nariz e garganta. São comuns casos de pacientes que necessitam de doses bastante altas de medicação para se obter um retrocesso das infecções.

“A terapia com antibióticos deve sempre ser prescrita por um médico”. “Mais de 50% dos pacientes que utilizam este tipo de medicamento o fazem de forma errada e até sem necessidade”. A educação da população para o uso correto de medicamentos nas doses indicadas pelo médico ou odontólogo, ao lado de ações que orientem a prescrição apropriada e o treinamento dos profissionais de farmácia para que não vendam remédios sem receita médica são medidas que podem evitar que a questão se transforme em calamidade pública.

Cuidados com o uso de medicamentos
Quando você sentir que tem algum problema de saúde, procure um médico;
Evite recomendações de vizinhos, amigos, parentes ou mesmo de balconistas de farmácias ou drogarias;
Na consulta médica, informe se você já utiliza algum medicamento;
Ao comprar medicamentos de venda livre (aqueles considerados de baixo risco para tratar males menores e recorrentes, como dor de cabeça), procure orientações do farmacêutico.


Ps. Não se automedique boaspraticasfarmaceuticas

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