7.28.2009

BIOTECNOLOGIA MOVIMENTA MILHÕES

19/07/2009
Quando uma gigante do petróleo, como a Exxon, se dispõe a investir US$ 600 milhões para pesquisar a produção de combustíveis a partir de algas, ou o grupo Votorantin constitui um fundo de venture capital, com R$ 300 milhões, para apoiar projetos de inovação tecnológica, é bom começar a prestar atenção neste vasto capítulo da ciência chamado biotecnologia. O ramo engloba desde a produção de vacinas a partir de organismos geneticamente modificados, os chamados transgênicos, até o trabalho com células-tronco para reconstituição de tecidos humanos e animais.
Além disso, hoje a maior parte dos aditivos e componentes da indústria de alimentos é produzida com transgênicos, presentes nos macarrões instantâneos, massas de bolo, sopas industrializadas e algumas marcas de salsichas.
Há risco em tudo isso? Marcelo Gravina, professor da Faculdade de Agronomia da UFRGS, doutor em fitopatologia e biologia molecular diz que não, e explica porquê: - Todos estes casos de transgênicos usados no Brasil já têm 12, 13 anos de uso na Argentina, no Canadá, nos EUA, e isto é tecnologia de 20 anos atrás. Por sermos tardios, estamos usando aquilo que outros, há 10 anos, já viram que era seguro. Já existe tanto a parte de experimentação em laboratórios, com animais para avaliação das partes nutricional e ambiental.
Com o histórico de uso, a possibilidade de danos ao meio ambiente e à saúde está afastada. Gravina, entretanto, faz uma ressalva importante: esta situação não significa dizer que o transgênico é igual a seguro, assim como também não se pode dizer que todo o transgênico é inseguro: - Hoje se pode fazer uma variedade de soja por mutação, com radiação, e não há lei no Brasil que impeça isso, apesar de este processo poder criar uma planta cheia de problemas.
Não há dúvida de que há necessidade de se ter precaução diante de produtos desconhecidos. Mas temos de confiar que o Brasil tem aparelhamento rigoroso de pesquisa para esse tipo de verificação. As queixas são sobre a parte comercial, que não tem fiscalização eficiente para garantir a compra de alguém que não queira consumir transgênicos, que estão em tudo, farinha, milho, soja. Em lugar nenhum do mundo, há um rastreamento desses, o que alimenta o debate sobre rotulagem.

DEPENDÊNCIA
- A questão da biotecnologia, entretanto, não se restringe aos aspectos sanitários, mas também econômicos e até geopolíticos, como destaca Vasco Azevedo, Phd em Genética Molecular de Microorganismos, professor da Universidade Federal de Minas Gerais.
O Brasil, explica o professor, dono do maior rebanho bovino do mundo, é dependente do exterior para obter vacinas veterinárias, e tem de importar a quase totalidade dos reagentes usados para um exame simples de dosagem de colesterol humano.
A manutenção desse status envolve confronto de interesses econômicos na disputa de mercado, para bloqueio do desenvolvimento nacional, até um patrulhamento ideológico. Azevedo foi vítima até de perseguições judiciais e policiais, ao quebrar lanças para garantir ao Instituto Butantan a possibilidade de fabricar vacinas contra a gripe aviária, porque isto exigiria o cumprimento de exigências burocráticas descabidas diante da ameaça de uma pandemia.
Quase teve sua casa invadida por estudantes e teve sua foto distribuída com a tarja "procura-se". - Fui defender interesse nacional e isso infernizou minha vida - diz. Paradoxalmente, há coisas que causam danos à saúde, como pesticidas, agrotóxicos, microtoxinas, que se originam de fungos e que estão presentes nos produtos mais "naturais", como hortaliças, frutas ou grãos, e que não geram debate, observa o professor Marcelo Gravina. - Ubirajara Loureiro -
Fonte: Jornal do Brasil - Portal Médico

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