7.28.2009

REMÉDIO NÃO É PROBLEMA, É SOLUÇÃO

15/07/2009
As oito medalhas conquistadas por Michael Phelps nas últimas olimpíadas ainda são assunto nas publicações médicas. Deborah Phelps, mãe do atleta e diretora de uma escola, levantou uma questão interessante na imprensa: afinal, Phelps é essa máquina de ganhar medalhas apesar de sofrer do transtorno do déficit de atenção (TDAH) ou é justamente por causa disso? Deborah foi ainda mais longe na polêmica ao afirmar que seu filho só é um vitorioso porque fez uso de medicamentos. E é esse ponto da discussão que pode ser bastante útil para nós, brasileiros.
O uso de medicamentos é fonte de constante debate. Aos poucos, no entanto, torna-se consenso que evitá-los é ir contra o que há de mais moderno no combate a transtornos. O poeta Ferreira Gullar, pai de dois portadores de transtornos mentais, foi categórico ao se manifestar publicamente sobre o assunto: "Os remédios não apresentam qualquer inconveniente e, aplicados na dosagem certa, possibilitam ao doente manter-se em estado normal".
Dois casos recentes na medicina ilustram a confusão que o alarmismo desenfreado contra os medicamentos pode causar. Em 2007, dados preliminares indicaram que a substância rosiglitazona, encontrada no medicamento Avandia e indicada para a diabetes tipo 2, aumentaria o risco de ataques cardíacos. Nessa época, cerca de seis milhões de pacientes faziam uso deste princípio ativo.
Agora, dois anos depois, um estudo conclusivo apresentado mês passado na reunião anual da Associação Americana de Diabetes afirma que a rosiglitazona não oferece nenhum risco maior que as demais medicações do gênero. O que dizer aos pacientes que reduziram ou até mesmo suspenderam seu uso?
Outro exemplo é o que aconteceu com a substância metilfenidato - mais conhecida como Ritalina ou Concerta - que há três anos foi acusada de causar a morte de crianças por doenças cardíacas. A histeria entre os pais foi estrondosa, naturalmente.
A American Heart Association, uma das instituições de saúde mais respeitadas, teve que esclarecer que a substância não oferece nenhum risco a quem não tenha predisposição a problemas cardíacos. No recém-lançado livro "Pílulas de neurociência" (Editora Sextante), a neurocientista Suzana Herculano-Houzel afirma sabiamente que "algumas condições não têm cura, apenas tratamento para o resto da vida. E isso não é ruim. Claro que não é desejável depender de algo externo ao corpo para ter bem-estar. Mas isso não é novidade, nem se aplica somente a remédios. Quem prova dos benefícios de sabão, escova e pasta de dente não quer mais viver sem eles".
Ao descer do pódio em Pequim, após receber sua oitava medalha de ouro, Michael Phelps afirmou que "na escola, sempre me diziam que eu nunca seria bem sucedido em nada".
Já é tempo de os remédios pararem de ser vistos como vilões quando atuam, muito comumente, como heróis na vida de quem precisa deles, desde que sejam prescritos por especialistas. Fabio Barbirato é psiquiatra e professor na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. - Fabio Barbirato -
Fonte: O Globo - Colaboração de Antonio Costa

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