11.12.2009

História, Ciências, Saúde – Manguinhos


História, Ciências, Saúde – Manguinhos

RESUMO

Este artigo analisa a trajetória de História, Ciências, Saúde – Manguinhos desde seu lançamento, em 1994. Multidisciplinar, o periódico veicula artigos inéditos, imagens, documentos, entrevistas e outros conteúdos, revisados pelos pares e relacionados a temas e personagens da história da medicina, saúde pública e ciências da vida. Foi analisado o contexto em que surgiu o periódico, sob o ponto de vista da saúde e da historiografia, bem como o dia-a-dia de uma editoria científica. Tabelas e gráficos mostram a variação dos assuntos; os índices de aceitação e rejeição de artigos; a origem geográfica dos autores, e as diferenças de perfis entre colaboradores e leitores das versões impressa e eletrônica, reveladas nas preferências temáticas de um e outro grupo. Revela ainda os fatores de impacto e imediatez da revista.

Palavras-chave: história da medicina; história das ciências; periódicos científicos; Brasil; História, Ciências, Saúde – Manguinhos; periódicos científicos eletrônicos.


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O objetivo deste artigo é analisar a trajetória de História, Ciências, Saúde – Manguinhos desde seu lançamento, em 1994.1 Foi uma iniciativa da Casa de Oswaldo Cruz, uma unidade da Fundação Oswaldo Cruz, instituição ligada ao Ministério da Saúde e dedicada à pesquisa, ao ensino, à produção de medicamentos e vacinas e a outras atividades pertinentes à saúde. História, Ciências, Saúde – Manguinhos começou a circular a cada quatro meses; quatro anos depois, inaugurou sua versão eletrônica e passou a veicular um suplemento temático anual. Em 2000 foi incluída na SciELO (Scientific Electronic Library Online), biblioteca virtual que hoje disponibiliza gratuitamente textos completos de 345 periódicos científicos, grande parte deles da área da saúde e biomedicina. Esses periódicos são publicados em vários países do Caribe e da América Latina, assim como na Espanha e Portugal (www.scielo.br/hcsm).2 O acesso ao texto integral, via Internet, contribuiu para ampliar o alcance e a visibilidade da revista, e o número crescente de artigos acabou por exigir a sua edição trimestral, a partir de 2006, quando também passou a ser indexada no subconjunto de História da Medicina da base PubMed/Medline, a maior e mais visitada base de dados bibliográficos de acesso gratuito da literatura médica.

História, Ciências, Saúde – Manguinhos foi lançado em 26 de julho de 1994, na chamada Casa de Chá, pavilhão art nouveau que acabara de ser restaurado e que voltara a ser o agradável ponto de encontro de funcionários à hora do almoço, em sua varanda coberta, delimitada por graciosa estrutura de madeira. O prédio fica ao lado do castelo mourisco, monumento maior do complexo arquitetônico edificado por Oswaldo Cruz, no início do século XX, para abrigar o instituto de pesquisa que emergia, vitorioso, do saneamento e da remodelação urbana da capital federal (Benchimol, Teixeira, 1993; Benchimol, 1990; Stepan, 1976).

Em 2007, celebramos 13 anos de publicação ininterrupta de História, Ciências, Saúde — Manguinhos.3 À época em que surgiu, a Fiocruz já editava dois periódicos prestigiados — Memórias do Instituto Oswaldo Cruz e Cadernos de Saúde Pública. Posteriormente seria lançado Trabalho, Saúde e Educação, da Escola Politécnica da Saúde Joaquim Venâncio, eleita em 2005 a melhor escola técnica da rede pública de ensino médio no Brasil.

A mais antiga entre as revistas especializadas nas áreas biológica e biomédica em circulação no país, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz foi concebida em 1909 pelo patrono da instituição, quando Manguinhos se resumia ao Instituto Oswaldo Cruz. Publica artigos originais nos campos da medicina tropical, parasitologia médica e veterinária, microbiologia, bioquímica, imunologia, biologia molecular e celular, fisiologia, farmacologia e genética. Por sua vez, os Cadernos de Saúde Pública, editados pela Escola Nacional de Saúde Pública, foram lançados em 1985, no âmbito já da Fundação Oswaldo Cruz, conglomerado instituído pelo regime militar em 1970. Os Cadernos começaram a circular quando estavam em curso no país a redemocratização, a anistia política e a campanha por eleições diretas. Ambas as revistas dispõem de versão impressa e eletrônica.

História, Ciências, Saúde – Manguinhos tem por escopo a história da medicina, da saúde pública e das ciências da vida. Por valorizar a transdisciplinaridade e a determinação social dos processos ocorridos nesses domínios, inclui em suas edições ilustradas trabalhos produzidos por historiadores, sociólogos, filósofos, antropólogos e profissionais de diversas áreas da saúde. Embora esteja aberto a saberes conexos, os temas predominantes têm sido o higienismo, o saneamento das cidades e das zonas rurais, a instituição e o desenvolvimento de disciplinas científicas e outros campos de saber, as interações de cientistas e instituições locais com a ciência européia e norte-americana e, ainda, as doenças que grassaram endêmica ou epidemicamente no Brasil e em outros países.

Além da seção Análise, constituída por artigos originais, História, Ciências, Saúde – Manguinhos abre espaço para notas de pesquisas, entrevistas e depoimentos; fontes documentais e iconográficas relevantes para a pesquisa histórica; resenhas de livros e resumos de dissertações e teses. Com freqüência, as edições da revista incluem dossiês temáticos e, uma vez ao ano, são lançados um ou mais suplementos dedicados também a temas específicos. Até agora, esses números versaram sobre Revolta de Canudos, naturalistas viajantes, saúde pública na América Latina, Amazônia, história da hanseníase, história das imunizações no Brasil, darwinismo, organismos geneticamente modificados ou transgênicos, pandemia de gripe de 1918, medicina internacional e, por último, ciências e artes.

O público leitor da revista é constituído, em sua maioria, por pesquisadores e alunos de graduação e pós-graduação nas áreas de ciências humanas, médicos, sanitaristas e outros profissionais da área de saúde e das ciências biológicas; em menor proporção, lêem a revista arquitetos, museólogos, físicos, jornalistas e outros interessados nos temas que ela aborda.

Os indexadores internacionais de periódicos científicos das áreas de medicina e humanidades, em cujas bases História, Ciências, Saúde – Manguinhos se inclui, constituem uma das vias pelas quais a revista exerce o papel de canal de comunicação entre as ciências sociais e as biológicas.4

Não obstante cerca de 35% da tiragem de mil exemplares sejam adquiridos por assinantes (pessoas físicas e instituições, em sua maioria centros de pesquisa e bibliotecas) e leitores de números avulsos, em encontros científicos ou em livrarias, a revista sobrevive, basicamente, à custa do orçamento da Fiocruz, complementado por subsídio anual do programa de apoio editorial do CNPq.5 A permuta com títulos do país e do exterior amplia continuamente o acervo da biblioteca da Casa de Oswaldo Cruz. A revista também é distribuída gratuitamente a bibliotecas e institutos de pesquisa do país e exterior.

História, Ciências, Saúde – Manguinhos é produto de movimentos de renovação ocorridos tanto no âmbito da saúde pública como na historiografia após a década de 1970, quando recrudesceram, no país, reações de vários campos à ditadura militar implantada na década anterior. Na área da saúde, profissionais que lutavam pela medicina preventiva, em escolas médicas de São Paulo e do Rio de Janeiro, deram corpo, nos anos 1980, ao chamado Movimento da Reforma Sanitária, que se apoiava no tripé universalidade, integralidade e gratuidade da saúde como direito dos cidadãos (Escorel, 1999; Gershman, 1995). Em entrevista a Radis, um dos líderes da reforma, o sanitarista Sérgio Arouca (out. 2002), destacou os pontos principais desse movimento: rediscutir os conceitos de saúde e doença e introduzir a noção de determinação social da doença, em contraposição a um sistema que privilegiava a relação (sobretudo privada) entre médico e paciente. O movimento resultou na única emenda popular à Constituição de 1988, aquela que estabelecia a universalização da saúde e o dever do Estado de provê-la, reservando à saúde privada função complementar.

Nesse mesmo contexto, ao assumir o comando da Fundação Oswaldo Cruz, em 1985, Arouca e um grupo de sanitaristas e pesquisadores criaram a Casa de Oswaldo Cruz. Dois anos depois, ela se transformou numa das unidades tecnocientíficas da Fiocruz, acrescentando às suas tradicionais atividades a pesquisa e disseminação da história da saúde e das ciências da vida, o que originou, anos depois, a revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos.


História da medicina e da saúde pública: tendências

No Brasil, como em outros países, até fins do século XIX a história da medicina esteve intrinsecamente ligada à formação dos médicos. Era uma das disciplinas do primeiro currículo da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, inaugurada em 1832, e persistiu até a reforma efetuada pelo positivista Benjamin Constant, no governo republicano provisório, em 1891. História e medicina estiveram unidas enquanto o corpus hipocrático e outros textos clássicos da Antiguidade foram repositórios de conhecimentos e experiências considerados úteis para a arte de curar. A história da medicina transformou-se em disciplina acadêmica na passagem do século XVIII para o XIX, quando o ensino médico foi reestruturado em diversas capitais européias, em plena voga do neo-hipocratismo, não obstante a percepção dos ares, águas e lugares como fatores determinantes da saúde estivesse sendo revolucionada pela química, as ciências da terra e a biologia, e a percepção de corpos e doenças, pela anatomia patológica e a fisiologia experimental. Na segunda metade do Oitocentos, com o domínio da medicina de laboratório, o advento da revolução pasteuriana e a expansão de uma ideologia cientificista, neste e em outros campos do conhecimento, a história tornou-se um luxo supérfluo nas escolas de medicina e objeto de erudição para médicos que, em final de carreira, cultivavam as belas-letras.

Diga-se de passagem, esse é um traço cultural bem vivo até hoje, no Brasil: o envolvimento de médicos com a história de sua própria profissão, especialmente a dos grandes 'vultos', cujos panegíricos servem ao enobrecimento de carreiras que não transcorrem apenas em consultórios, hospitais ou à cabeceira do leito dos doentes, mas também em academias, associações de classe e, com freqüência, em agremiações partidárias, no legislativo e em pastas ministeriais.

À medida que era rebaixada nas escolas médicas ou delas banida, a história da medicina passava à esfera de outros campos profissionais que almejavam conquistar para as ciências humanas o mesmo estatuto de rigor científico que tinham adquirido as da natureza. Filólogos, bibliógrafos, lexicógrafos e, principalmente, muitos médicos-historiadores, imbuídos do espírito profissional que se apoderara do estudo do passado e influenciados pelas correntes historicistas emergentes na passagem do século XIX para o XX, fizeram avançar consideravelmente os conhecimentos sobre a evolução da medicina ocidental na Antiguidade, na Idade Média e no Renascimento.

Floresceram, então, em diversos países, periódicos, associações e sociedades dedicados à história da medicina, inclusive uma associação internacional, organizada em 1921. No Brasil foi fundada, em 1945, a Federação Nacional de História da Medicina e Ciências Afins por iniciativa do Instituto Brasileiro da História da Medicina. Este chegou a organizar diversos congressos no país e, em 1949, passou a publicar a Revista Brasileira de História da Medicina.6 Suas narrativas, de cunho positivista ou nacionalista, eram escritas principalmente por médicos e ordenavam fatos à luz de esquemas evolutivos que combinavam marcos cronológicos da história política e administrativa brasileira com a marcha ascendente dos conhecimentos rumo a uma medicina científica, eficaz, por obra, quase sempre, de 'vultos' de importância nacional ou local – com freqüência, diga-se de passagem, situados na origem de verdadeiras dinastias familiares de médicos. Algumas obras de maior envergadura e sofisticação metodológica tornaram-se clássicos de nossa historiografia médica, como a História da medicina no Brasil, de Licurco de Castro Santos Filho, publicada em São Paulo, em 1947, pela Editora Brasiliense (2 vols.), e os Capítulos da história da medicina no Brasil, de Pedro Nava (Editora Universidade Estadual de Londrina/Ateliê Editorial), como separata da revista Brasil Médico-cirúrgico.

Sem deixar de beber nessas fontes, os atuais historiadores da medicina e saúde pública tiveram de recorrer a outros mediadores para estabelecer contato com uma geração de médicos historiadores extremamente talentosa que começou a produzir na Alemanha, entre a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. Contemporâneos da revista fundada por Lucien Febvre e Marc Bloch em 1929, – Annales: Economies, Societés, Civilisations –, Karl Sudhoff, Henry E. Sigerist, Erwin H. Ackerknecht e George Rosen, para citar apenas alguns nomes, partilharam muitos princípios metodológicos com a chamada Escola dos Annales e com outros movimentos colaterais de renovação da historiografia: a revolta contra a história factual ou événementielle, contra a suposta isenção do historiador e o reinado da história política e das narrativas centradas nos feitos dos grandes homens.

O engajamento no presente e a opção por uma história da medicina articulada à economia e sociedade refletiam não apenas tendências em curso na historiografia como movimentos no âmbito da saúde pública, protagonizados por médicos que faziam história com o intuito de reformar a medicina de sua época. Queriam torná-la mais social, mais preventiva, retomando ideais dos reformadores do século XIX, como Rudolph Virchow, o criador da patologia celular e combatente das barricadas erguidas na revolução de 1848, em Berlim (Fee, Morman, 1993).

Segundo Peter Burke (1992, p. 18), a Escola dos Annales firmou pé nos Estados Unidos tardiamente; em compensação, a imigração para aquele país dos médicos historiadores alemães perseguidos pelo nazismo deu logo grande ímpeto à história da medicina em instituições como a Universidade Johns Hopkins. E se não conseguiram reverter a tendência liberal e privatizante da medicina norte-americana, foram capazes de produzir estudos basilares como a História da saúde pública, de George Rosen, publicado originalmente em 1958 e ainda hoje um clássico na formação tanto dos sanitaristas como dos historiadores (a edição brasileira é de 1994). Cabe ressaltar uma das raras obras sucessoras desta, Health, Civilization and the State: a history of public health from ancient to modern times, de Dorothy Porter (Londres, Routledge, 1999), na contracorrente da tendência à fragmentação dos objetos de análise e da especialização dos historiadores.

A partir dos anos 1970, a tradição inaugurada pela Escola dos Annales sofreu intensa renovação. O movimento deu origem, na França e em suas províncias intelectuais, à chamada Nova História, que alargou ainda mais o repertório de objetos, abordagens, ferramentas conceituais e fontes de pesquisa, expandindo a uma "velocidade vertiginosa" a historiografia, como disse Burke (1992, p.8; ver a esse respeito também Le Goff, Nora, 1976a, 1976b e 1976c). Concomitantemente, o domínio demarcado por Rosen era inundado por uma torrente de monografias e artigos produzidos, em grande parte, por historiadores sem formação médica alinhados com as tendências em curso na historiografia e nas ciências sociais. Elizabeth Fee (1993; Fee, Morman, 1993) assinala as clivagens ideológicas existentes entre a geração de historiadores modelada pelos movimentos de contestação dos anos 1960 e a dos médicos historiadores contemporâneos a Rosen, iluministicamente otimistas em relação ao progresso das ciências e à capacidade de o stablishment médico resolver os problemas de saúde da humanidade, desde que utilizasse os conhecimentos acumulados em proveito de uma medicina preventiva e social. As novas gerações de historiadores estudaram criticamente os mecanismos de controle implícitos nos discursos e nas instituições médicas, interessaram-se por saberes e práticas alternativos à medicina acadêmica, ou originários dos territórios subjugados tanto pelos impérios coloniais como pelas capitais do Terceiro Mundo. A crítica ao eurocentrismo traduziu-se em renovado interesse pela história de sistemas médicos que não se originaram da matriz greco-romana ou que não seguiram o curso da medicina européia. Questões pertinentes a raça e gênero, uma visão mais refinada das classes e categoriais sociais, a atenção aos atores e particularismos locais passaram a informar os estudos sobre políticas, instituições e profissões de saúde. A história da medicina deixou de ser apenas a história dos médicos para se tornar também a dos doentes, e a história de doenças experimentou verdadeiro boom de estudos monográficos. O corpo, a infância, as sensibilidades, o meio ambiente e outros objetos atenuaram as fronteiras entre a ciência da história e outras ciências humanas e naturais.

No Brasil, história da medicina e da ciência imbricam-se talvez mais extensamente do que em outros países, devido à importância que os institutos biomédicos criados na virada do século XIX para o XX tiveram na institucionalização das ciências em geral. Os historiadores da medicina e de outras ciências têm envidado grandes esforços para mostrar a relatividade do conceito de atraso, para desfazer a noção anteriormente aceita de que a ciência e, em geral, a cultura brasileira foram pálidos simulacros ou passivos recipientes da ciência e cultura européia e, depois, norte-americana. Tal esforço visa demonstrar não apenas a criatividade implícita na adaptação aos contextos locais de saberes, instituições e discursos produzidos nas formações sociais hegemônicas, como também que os intelectuais imigrados ou nativos e as instituições por eles criadas foram componentes importantes de redes mais vastas e, como tal, co-participantes do desbravamento de vários campos do conhecimento.



História das ciências e da saúde

É por pertencermos a uma instituição biomédica que nos encontramos aqui a discorrer sobre problemas e perspectivas de História, Ciências, Saúde — Manguinhos.

Distintamente do que parece ocorrer em São Paulo e em outros estados brasileiros, onde a história das ciências e a história da saúde são desenvolvidas prioritariamente no interior de universidades, no Rio de Janeiro essas disciplinas vêm florescendo sobretudo em instituições científicas tradicionais, que tiveram sua época áurea nos tempos em que a cidade era a capital brasileira. Um número crescente de dissertações e teses relacionadas à história ou divulgação das ciências tem sido apresentado em programas de pós-graduação das universidades cariocas e fluminenses, as quais, entretanto, não se abriram ainda, na medida em que seria desejável, a linhas de pesquisa e ensino relacionadas a essas áreas de saber. Também em outros estados essas linhas vêm sendo praticadas marginalmente, por iniciativa de um punhado de docentes e alguns poucos núcleos de pesquisa radicados, também, em programas de pós-graduação.

Por várias vezes os editores de História, Ciências, Saúde — Manguinhos debatemos a conveniência de restringir seu escopo a temas concernentes à história da medicina e saúde pública, em consonância com as áreas de atuação da instituição que abriga a revista (Benchimol, Martins, 2004, p.53-59). Porém tal campo não nos parece ainda suficientemente maduro para atingirmos esse grau de especialização, característico dos periódicos europeus e norte-americanos, e optamos por manter aberta a grande angular, de maneira a captar o que se produz a respeito das ciências da vida, sem nos fecharmos às ciências em geral.

Sob essa orientação, a revista vem publicando estudos inovadores, relacionados, por exemplo, à história do ambiente ou à sociologia de riscos industriais. Sociólogos e economistas que lidam com propriedade industrial e patentes divulgaram suas reflexões nas páginas do periódico. E estudos de cunho histórico, feitos por nutricionistas, enfermeiros, assistentes sociais, odontólogos e outras profissões de saúde, inclusive tecnologistas envolvidos com a produção de fármacos e vacinas, têm sido veiculados com freqüência cada vez maior pela revista. Os desníveis que caracterizam esse universo de textos são característicos do campo da história das ciências no Brasil, ainda frágil institucional e cognitivamente, a despeito dos progressos observados nos últimos anos. Vale ressaltar, entretanto, que todos os números de História, Ciências, Saúde — Manguinhos são estruturados de maneira a que a história da medicina, da saúde pública e das ciências da vida permaneçam como centro de gravidade.

A declaração emitida pelos integrantes da rede Hispalc – Red de Historia de la Salud Pública en América Latina y el Caribe –, constituída no 21� Congreso Internacional de Historia de la Ciencia, realizado na cidade do México em julho de 2001, expressa adequadamente a agenda não apenas da revista como do programa de pós-graduação em História das Ciências da Saúde, inaugurado na Casa de Oswaldo Cruz naquele mesmo ano.7 E tal como George Rosen defendeu há meio século, acreditamos que a história é indispensável para a saúde pública, porque pode ajudar-lhe a compreender a origem e evolução dos problemas que enfrenta e a complexidade dos processos de negociação, ruptura e confronto que se produziram no passado na área da saúde. A seus profissionais, a história pode dar uma perspectiva social de larga duração, que transcenda tanto a formação biomédica tradicional como as interpretações apriorísticas, imediatistas ou economicistas da prática médica e dos desafios sanitários de nosso tempo.

Por outro lado, a história da saúde constitui uma vertente da historiografia dedicada ao entendimento de realidades ainda pouco estudadas, no Brasil e no continente, como por exemplo as interações entre as questões sanitárias e os processos sociais, culturais, econômicos e políticos; as relações de continuidade ou mudança nos padrões de comportamento, nas mentalidades e condições de vida das populações; o modo como diferentes grupos sociais e étnicos sofrem e/ou determinam políticas públicas e as ações de instituições médicas e sanitárias. A história social da saúde é uma via privilegiada para o estudo de novas áreas de interesse das ciências sociais, como as que se referem a gênero, percepções da ciência, representações culturais da doença e fenômenos característicos da pós-modernidade.

Alguns traços observáveis em boa parte da produção submetida a História, Ciências, Saúde — Manguinhos em seus primeiros anos de existência tendem, felizmente, a ser superados com o amadurecimento e a crescente profissionalização do campo da história das ciências. O primeiro deles é o paroquialismo, modo de proceder que confere exclusiva atenção ao que é próximo, local ou, muitas vezes, nacional em detrimento da universalidade e generalidade dos fenômenos e também dos conhecimentos que já se produziram sobre eles. Tal característica explica a impressão que ocasionalmente dão os trabalhos que somos chamados a examinar: seus autores parecem reinventar a roda, perdem a capacidade de aprofundar suas análises por ignorarem o estado da arte, por desconhecerem o que já se escreveu antes e o que vem sendo escrito, em outros lugares, sobre o mesmo objeto ou sobre objetos similares. Nessas circunstâncias, o local, que pode e deve ser o fulcro do universal, se empobrece e se torna provinciano.

O paroquialismo está relacionado a outra limitação: ainda investimos pouco nos estudos comparativos entre épocas, instituições e saberes, entre diferentes regiões e formações sociais. Análises dessa natureza permitem relativizar nossa compreensão dos objetos, fundamental para conferir universalidade ao estudo de processos e fenômenos locais. São, muitas vezes, uma imposição dos próprios objetos, que só cabem nos limites do episódico e do local por obra de um reducionismo arbitrário que os violenta.

Assinalamos ainda duas outras limitações de formação, que vêm sendo vencidas à medida que se consolida a história das ciências no Brasil. Vivemos numa época em que as rígidas fronteiras entre as disciplinas começam, de fato, a ruir, tornando cada vez mais difícil distinguir objetos e abordagens de historiadores, antropólogos, sociólogos, cientistas políticos e outros produtores de conhecimento. A transdisciplinariedade é uma das forças que arrastam cada vez mais cientistas sociais ao estudo de ciências que, anteriormente, pareciam estar localizadas no outro lado de um abismo epistemológico, o qual, por muitas gerações, separou os estudos do homem e da natureza, abismo esse que só os filósofos ousavam transpor.

Uma das condições necessárias ao historiador para que investigue a história de uma ciência diferente daquela em que foi adestrado é o domínio de outras 'linguagens', na maior medida possível. Nós, cientistas sociais, herdeiros de uma tradição retórica e humanística, fomos e somos ainda formados em escolas em geral precárias nas ciências físicas, matemáticas e biológicas, o que requer redobrado esforço de nossa parte ao nos debruçarmos sobre objetos que dizem respeito a essas ciências.

As faculdades de história encaram ainda com timidez a necessidade de modernizarem seus currículos. A formação de historiadores capacitados a lidar conseqüentemente com os desafios de seu tempo e criativamente com a exploração do passado requer, hoje, mais do que sensibilidade para as hierarquias e desigualdades sociais; requer o conhecimento das linguagens e problemáticas de outras ciências, que permite compreender e participar de controvérsias cruciais para o futuro da humanidade inteira.

No tocante à história da medicina e da saúde pública, outro passivo é a dificuldade de lidar com os seus aspectos quantitativos e estatísticos. A história quantitativa e serial foi uma fecunda vertente da Nova História e, nos anos 1970, Maria Yedda Linhares, Francisco Falcon e outros historiadores envidaram esforços para aplicar esse programa ao estudo da evolução da agricultura no Brasil. Se hoje temos importantes análises qualitativas sobre a história das representações, discursos e políticas suscitadas por doenças, assim como das políticas e instituições de saúde, são incipientes os nossos conhecimentos sobre a evolução da morbidade e letalidade das doenças, bem como sobre os resultados mensuráveis das políticas, teorias e práticas implementadas ao longo do tempo.8


Origem e temática dos materiais publicados

Como dissemos, a revista foi lançada em julho de 1994, mas desde 1993 eram submetidos textos à publicação: daquele ano até 2006, contabilizamos 567 artigos, 44 notas de pesquisa, 43 textos para a seção Fontes, 140 colaborações para a seção Livros e Redes, 132 resumos de teses, 43 ensaios iconográficos (seção Imagens), 40 depoimentos e 18 debates.

Ao nos debruçarmos sobre o que História, Ciências, Saúde — Manguinhos tem publicado ou rejeitado nos seus quase 13 anos de existência, um elenco de características chamou-nos a atenção. A primeira delas diz respeito à concentração dos objetos de pesquisa de um período que abarca, grosso modo, o século XIX e as primeiras décadas do século XX ;

Ainda são poucos os historiadores das ciências e da saúde que exploram o período colonial ou que ultrapassam o marco da revolução de 1930, limitação que, conforme evidenciou o nosso estudo, tende a ser superada nos próximos anos, com duplo benefício. Por um lado, o mergulho na história colonial resultará no estreitamento dos laços da história das ciências com correntes muito dinâmicas da historiografia preponderante nas universidades. Por outro, a investigação de problemas contemporâneos das ciências e da saúde ajudará a fortalecer a interação com cientistas de laboratório, sanitaristas e outros profissionais da saúde – interação vital tanto para a produção de conhecimentos como para a legitimação e financiamento de nossas atividades.

Dentre os trabalhos que chegam à redação, provém do continente europeu um pouco mais de um terço das colaborações, ao passo que a produção de autores das Américas do Norte e do Sul, aliás com índices idênticos, lhes garante o primeiro lugar.

Outra característica a assinalar é a acentuada concentração de artigos provenientes do Sudeste do Brasil (Gráfico 4), sugerindo uma hegemonia da região na produção intelectual relativa às áreas de conhecimento cobertas pela revista, o que reflete traços estruturais da formação social, política, econômica e cultural do país. Entretanto os artigos ultimamente apresentados para publicação, de autoria de investigadores vinculados a instituições e núcleos de pesquisa do Rio Grande do Sul, Bahia, Pará, Amazonas, Mato Grosso, entre outros estados, parecem indicar o início de uma reversão dessa tendência.


Alguns trabalhos de historiadores vinculados a universidades e instituições de pesquisa do Sudeste ainda consideram os processos transcorridos na região — especialmente em seus centros urbanos — como expressão do que acontece em todo o Brasil, traduzindo uma certa ignorância a respeito da grande diversidade do país.

Dos estados da região Sudeste, o Rio de Janeiro possui o maior índice de contribuições encaminhadas à revista (Gráfico 5).

É difícil relacionar cada artigo a um único tema. Tomando como base as palavras-chaves indicadas pelo(s) próprio(s) autor(es), quando o submeteram à publicação, e/ou os assuntos atribuídos por nós, retrospectivamente, associamos os originais encaminhados a História, Ciências, Saúde – Manguinhos, tanto os que foram publicados como os recusados9, a um assunto principal e contabilizamos as ocorrências, chegando ao Gráfico 6, relativo aos temas mais freqüentes nas diversas seções da revista.

Em História da Medicina incluímos artigos que tratam de questões clássicas dessa vertente da historiografia: teorias sobre circulação do sangue, miasmas e germes, assim como os cientistas a elas dedicados; evolução de disciplinas como bacteriologia, imunologia, antropometria, parasitologia, geografia médica, radiologia, obstetrícia, homeopatia e anatomia. Esse grande tema compreende vacinas e políticas de imunização; uso de plantas medicinais; práticas e categorias sociais relacionadas à cura de doenças; conflitos envolvendo medicina acadêmica e terapeutas populares; profissionalização dos médicos; institucionalização da medicina experimental; origens e trajetórias de associações e periódicos mantidos por profissionais da saúde, entre outros.

Nos artigos associados ao tema História das Doenças temos, por ordem decrescente de ocorrências, hanseníase, tuberculose, AIDS, gripe espanhola, febre amarela e cólera; depois, no mesmo patamar, malária e peste bubônica; em seguida sífilis e outras doenças venéreas, varíola, poliomielite, epilepsia, doença de Chagas, oxiuríase, leishmanioses, febre aftosa, tabagismo e lesão por esforços repetitivos (Ler). Incluímos nessa categoria trabalhos que tratam, em plano mais geral, de doença e poder público; concepções do processo saúde-doença, doenças e tráfico de africanos e, ainda, resultados de investigações vindas do campo da paleopatologia e paleoepidemiologia.

A classe História das Ciências da Vida reúne trabalhos de cunho mais teórico sobre a vertente plural dessas ciências, suas relações com o domínio das técnicas. Também fazem parte dessa classe a ilustração científica em perspectiva histórica, as trajetórias de instituições como a Academia Científica do Rio de Janeiro, o Instituto de Química Agrícola, o Instituto Oswaldo Cruz e de cientistas em contextos geográficos e históricos determinados. Aqui estão os estudos sobre biotecnologia, genética, tecnologias reprodutivas e algumas controvérsias no domínio das ciências da vida. Ainda que estejam em contradição com o qualificativo 'da vida', contabilizamos também os textos que dizem respeito à história de outras ciências: geopolítica das tecnologias espaciais, minicomputadores brasileiros nos anos 1970, relações Norte e Sul na física teórica, memória dos Institutos de Matemática e Física da Universidade da Bahia etc.

No item Sociologia das Ciências classificamos os textos que, em seus próprios títulos, anunciam-se como análises de sociologia da ciência ou da tecnologia, a expressiva produção concernente à análise de riscos e, ainda, os artigos que usam 'ciência pós-normal' como categoria central de análise.

História Natural abarca os artigos que tratam dos viajantes naturalistas nos séculos XVIII e XIX; dos 'viajantes involuntários' (degredados portugueses enviados para a Amazônia no período colonial); das redes de informação de que faziam parte os primeiros no âmbito dos impérios europeus, sua relação com a biogeografia, com a circulação de seres vivos e objetos (álcoois, remédios, plumas etc.) e, ainda, com a formação de coleções em museus e gabinetes particulares. Questões mais gerais concernentes à história natural (ciência e nação) foram incluídas nessa classe, da mesma forma que os trabalhos relativos às teorias sobre evolução, geração e herança (Darwin, Buffon, Bonnet, Dobzhansky).

História Social da Cultura reúne quase todos os trabalhos publicados no número especial intitulado "Brasil: sertão Canudos" (v.5, suplemento, julho 1998), que discorrem sobre o conflito e a obra mais famosa de Euclides da Cunha, Os sertões. A classe compreende ainda análises de outras criações artísticas e culturais: bordados de João Cândido, cultura country no Brasil, João Cabral de Melo Neto e condição 'severina' nos mangues pernambucanos, para citar apenas alguns exemplos. A fotografia como objeto de análise histórica convive, nessa categoria, com questões tão díspares quanto representações sobre alcoolismo e consumo de outras substâncias psicoativas, anti-semitismo, integralismo, maçonaria, prostituição, visualização médica e cultura popular no século XX, exposições universais e nacionais, cidades como espaços simbólicos.

História da Saúde Pública é uma classe menos controversa, ainda que tenha muitas interseções com as demais. Abrange trabalhos mais gerais sobre a história da saúde pública, principalmente no México e Brasil; determinados serviços (Serviço Especial de Saúde Pública, por exemplo); a gênese do conceito de medicina social; trabalhos sobre episódios singulares como a Revolta da Vacina; as epidemias e sua relação com a imigração; higiene e questão urbana, inclusive a água. Dois outros assuntos integram a categoria: eugenia e saúde dos trabalhadores. Assistência hospitalar, se tivesse maior densidade, teria constituído um tema autônomo, mas por ser ainda residual a produção a seu respeito incluímo-la aqui.

Em virtude da densidade da produção relativa ao papel desempenhado pela Fundação Rockefeller na saúde pública do Brasil e de outros países, ela mereceu uma classe independente.

Epidemiologia foi considerada à parte da classe História da Saúde Pública porque abrange produções de uma área de conhecimento com identidade institucional e ferramentas teórico-metodológicas distintas da historiografia. Figuram nela os estudos sobre teorias, práticas e institucionalização da epidemiologia, a relação desta com o tempo social e o conceito de causalidade e, ainda, o tema da violência e saúde.

Área Psi engloba os trabalhos de cientistas sociais e profissionais de saúde mental acerca de objetos tipicamente historiográficos: trajetórias de instituições, correntes de pensamento e personagens no âmbito da higiene mental e/ou psiquiatria; políticas e legislação concernentes à assistência aos alienados; práticas como lobotomia e leucotomia cerebral. Reflexões históricas sobre psicanálise, sexologia e corpo foram incluídas nesse rol, assim como um tema da maior atualidade, a reforma psiquiátrica.

História de Conceitos contém artigos de cunho filosófico ou sociológico sobre epistemologia, natureza da complexidade na ciência e tecnologia, teoria do caos, conceitos de saúde em Canguilhem e nos discursos científicos contemporâneos; metafísica do conhecimento científico, niilismo tecnocientífico, razão, plurarismo e argumentação.

Ética, especialmente a constelação de problemas atuais relacionados à bioética, não poderia deixar de constituir objeto relevante de análise entre os colaboradores de História, Ciências, Saúde – Manguinhos.

Raça, outro tema de grande atualidade na conjuntura política em que vivemos, também condiciona a produção histórica, antropológica ou sociológica sobre saúde: como os intelectuais brasileiros posicionaram-se frente a esta questão; que lugar ocupou nos debates travados no âmbito de organismos internacionais; em que medida é uma categoria relevante para compreender certas manifestações patológicas entre diferentes grupos humanos.

Outro tema de grande apelo para a historiografia pós-anos 1960 é Gênero, abordado nos artigos basicamente por três ângulos: representações do feminino e masculino no discurso médico e em relatos de viajantes naturalistas; gênero e ciência e gênero e saúde nas políticas de Estado.

História Social das Profissões é um tema clássico, com ocorrência ponderável entre os artigos publicados em História, Ciências, Saúde – Manguinhos, sobressaindo aqueles dedicados à formação e ao papel das enfermeiras; a seguir vêm os trabalhos sobre médicos, odontólogos, fisioterapeutas e farmacêuticos, nesta ordem.

Meio Ambiente congrega promissor veio historiográfico que, a partir dessa categoria de análise, propõe novos objetos ou reexamina e reestrutura interpretações anteriormente estabelecidas sobre o passado, presente e futuro do mundo globalizado em que habitamos.

Personalidades tornou-se uma classe à parte de modo a reunir os artigos dedicados a vida, obra ou pensamento de cientistas como Oswaldo Cruz, Louis Pasteur, Wladimir Lobato Paraense, Arthur Neiva, Adolpho Lutz e sua filha Bertha Lutz, além de sanitaristas como Samuel Pessoa, artistas (Aleijadinho) e naturalistas (Richard Spruce).

Como dissemos, História, Ciências, Saúde — Manguinhos é interdisciplinar, e entre os campos de conhecimento que interliga tem presença marcante a Nutrição, tema no qual reunimos diversos artigos de cunho histórico e sociológico.

Museus – especificamente os de ciência – constitui tema igualmente relevante, sobretudo por haver sido a revista, até agora, a veiculadora de trabalhos produzidos no âmbito ou decorrente de iniciativas do Museu da Vida, uma das unidades da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. Sua influência é menos notável mas, ainda assim, importante como indutora de reflexões sobre Divulgação Científica.

História, Ciências, Saúde — Manguinhos é também um desaguadouro da produção acadêmica sobre Educação, principalmente no que concerne à história do ensino médico e da educação em saúde.

Finalmente, Amazônia mereceu ser contabilizada à parte porque, além de ter sido objeto de um número especial de História, Ciências, Saúde – Manguinhos, tem sido tema freqüente de artigos submetidos à revista.

Questões polêmicas vivenciadas pelos editores

Ávidos leitores e produtores de livros, nós, cientistas sociais brasileiros, ainda temos resistência aos periódicos. Constrições institucionais nos obrigam atualmente a publicar mais nesses veículos, porém ainda é custoso fazê-lo e simplesmente não temos o hábito de atentarmos, de forma regular e sistemática, ao estado da arte refletido nas páginas das revistas acadêmicas nacionais — muitas das quais vivem à míngua de leitores — e nas páginas dos periódicos internacionais, que dão vazão ao enorme dinamismo da área em outros países. Na década de 1990, as agências de financiamento passaram a avaliar com mais rigor o desempenho de instituições científicas e universitárias brasileiras, e a publicação de artigos/ano em periódicos indexados passou a ser medida pela Capes (Davyt,Velho, mar.-jun. 2000, p.106; Castro et al., 20 ago. 2006).

História, Ciências, Saúde – Manguinhos vem sendo julgado pelo Qualis (Classificação de Periódicos, Anais, Jornais e Revistas), uma das engrenagens acionadas pela Capes na avaliação e no financiamento de pesquisas científicas e cursos de pós-graduação no país. O periódico é classificado em 11 das áreas de conhecimento definidas pelo programa, que leva em conta critérios de qualidade (a, b, c) e circulação (Local, nacional e internacional). Cada área conta com uma comissão de avaliadores e os critérios diferem entre as comissões, o que dificulta a compreensão global do processo de classificação. Em geral, periódicos incluídos na coleção SciELO são automaticamente classificados como 'A Nacional', e aqueles indexados no Medline são classificados como 'C Internacional'. Apenas são considerados A e B Internacional os periódicos incluídos nas bases da Thomson Scientific. Nossa revista, por exemplo, é considerada 'A Nacional' nas seguintes áreas: história, medicina I e II, psicologia, multidisciplinar, ensino de ciências, arquitetura e urbanismo. Em ciências biológicas III sua classificação é 'C Nacional' e em saúde coletiva, 'C internacional'.

Disseminada internacionalmente, a cultura do 'publish or perish', no Brasil, pode ser creditada, em parte, à lógica da distribuição de recursos escassos para a pesquisa e também à preocupação das agências de fomento de tornar mais visível a produção científica nacional. A questão é complexa, polêmica, mas aqui desejamos apenas ressaltar o fato de que redundou em crescimento notável da afluência de artigos aos periódicos, inclusive nas ciências humanas, onde é maior a legítima resistência a mecanismos que favorecem a quantidade em detrimento da qualidade.

É fato, também, que a necessidade de ler revistas especializadas e nelas publicar tornou mais visível uma falha do ensino de graduação e pós-graduação no Brasil: a falta de adestramento específico em escrita de artigos – falha que muito lentamente vem sendo corrigida. O problema tem outras faces: as bibliotecas das universidades ainda não dispõem de políticas e/ou recursos consistentes para assinatura e divulgação de periódicos; os professores não as pressionam e os alunos, além de não valorizarem os periódicos nacionais, têm deficiências na compreensão dos idiomas em que é veiculada grande parte da produção acadêmica internacional em história das ciências.

No exercício de suas funções, os editores de História, Ciências, Saúde — Manguinhos vêem-se na contingência de conciliar critérios que muitas vezes estão em contradição. De um lado, prezam as regras de isenção e rigor, em tese asseguradas pelo mecanismo de revisão pelos pares, o chamado peer review, segundo o qual todos os originais submetidos à publicação devem passar pelo julgamento de, pelo menos, dois especialistas antes de serem veiculados. De outro lado, consideram que a revista deve exercer o papel de catalisadora de transformações num campo emergente de conhecimento.

Um dos objetivos da avaliação pelos pares é evitar fraudes – reprodução de trechos de trabalhos sem crédito aos autores e outras condutas antiéticas, nada incomuns na comunicação científica, como mostra Lafollette em Stealing into print (1992). A questão é analisada também por Carlos Coimbra (out.-dez. 1996): em sua opinião, pouco se fala no Brasil sobre plágio em ciência, o que "decorre menos da ausência do problema do que da falta de iniciativas para aprofundar esta discussão" (p.440).

Autores de artigo que se tornou uma referência sobre o assunto, Zuckerman e Merton (jan. 1971) foram os primeiros a levantar críticas à avaliação pelos pares, considerando-a um sistema muito fechado. Na década de 1970, sobretudo nos Estados Unidos, ganharam vulto as críticas a um sistema que privilegia instituições e pesquisadores já prestigiados e que reforça a resistência a idéias inovadoras, submetendo-as a processos lentos e burocráticos. Questiona-se também o sigilo dos consultores, ao tornar duvidosa a isenção e objetividade do julgamento. Os críticos do sistema acusam-no ainda de incentivar a competição e não a colaboração e de favorecer a exclusão de minorias e a hegemonia dos países centrais em detrimento dos periféricos.

O advento da Internet possibilitou a existência de diretórios públicos de preprints, freqüentes em comunidades de físicos e matemáticos. Na área biomédica, porém, ainda é grande a resistência aos mecanismos alternativos ao peer review. Muitos periódicos não aceitam manuscritos previamente disponibilizados na rede eletrônica. O British Medical Journal (BMJ) adota essa política, mas tem encorajado o debate a esse respeito, mostrando-se receptivo a sugestões de mudança. O que se aventa como possibilidade é a veiculação de trabalhos antes da avaliação, mas com a ressalva de que não têm o aval dos revisores científicos, portanto não podem ser citados.

A verdade é que, até o momento, nada substitui o modo como a qualidade da produção científica é avaliada pelos periódicos acadêmicos desde o surgimento das associações científicas no século XVII.10

Os editores de História, Ciências, Saúde — Manguinhos usaram, com freqüência, de alguma subjetividade na escolha de avaliadores, jogando com a probabilidade de que viessem a analisar com maior condescendência trabalhos originários de áreas que começavam a despontar na historiografia das ciências da vida. Isso ocorreu sobretudo nos primeiros anos de existência da revista, quando ela cumpria, quase sozinha, o papel de indutora de uma área de conhecimentos ainda incipiente em muitas regiões do país. Por esse e outros meios – pesadas intervenções dos próprios editores nos textos, por exemplo, ou negociações com pareceristas e autores para transformar rejeições em sugestões de mudança –, procuramos incentivar a tendência à valorização da história observada em várias profissões ligadas à saúde, sem comprometer a ligação vital, preponderante com os núcleos mais profissionalizados de produção de conhecimentos em história das ciências e da saúde.

Outro problema que enfrentam os editores da revista, mais difícil de resolver, é a relação com a comunidade dos médicos historiadores, que conserva grande dinamismo, promovendo regularmente encontros nacionais dos quais participam, ainda que residualmente, os historiadores da saúde e das ciências da vida. Por um lado, desejamos ter os médicos historiadores como parte de nosso público leitor e encaramos como legítima e muitas vezes útil sua produção, mas ela é, em geral, abatida pelos revisores que usualmente convocamos para examinar os trabalhos submetidos à revista, revisores que, em sua maioria, pertencem a outra linhagem de produtores de conhecimentos, mais profissional e mais sofisticada teórica e metodologicamente.

Na montagem de cada número da revista influía uma contabilidade subjetiva que nos levava a combinar artigos mais consistentes com os de autores menos experientes, ou mesmo com textos problemáticos mas que apresentavam dados ou questões relevantes sobre temas ainda inexplorados em nossa historiografia. Usamos aqui o tempo pretérito porque o aumento da oferta de artigos, aliado ao amadurecimento de nosso campo de conhecimento têm levado, naturalmente, a um rigor cada vez maior nos critérios de avaliação e, conseqüentemente, à elevação nos índices de rejeição de trabalhos submetidos à publicação (Gráfico 7). No gráfico, as seções Depoimento, Imagens e Debate não apresentam índices de rejeição porque a grande maioria de seus conteúdos vem sendo produzida pelos próprios editores responsáveis ou por colaboradores convidados. Nos últimos anos, porém, inclusive os trabalhos remetidos para essas seções têm sido submetidos à avaliação por pares.

A seção Análise (artigos originais), que, como vimos, agrega o maior número de colaborações submetidas à revista (567 ou 55,2% do total destinado a todas as seções) apresenta índice de rejeição médio de 19% no período de 1993 a 2006. Considerando-se apenas o total de artigos submetidos à publicação em 2005, o índice sobe a 26,56% (17 em 64). Este número está aquém dos índices de rejeição dos periódicos prestigiados das áreas de medicina e saúde pública em nosso país – 41,8% em 1988 e 39,6% no ano seguinte, na Revista de Saúde Pública; 41,6% em 2001 nas Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, para citarmos apenas dois bons exemplos (Relatório..., 1989; Martins, 2003, p.102). A Dados: Revista de Ciências Sociais, único periódico brasileiro das ciências humanas indexado no Institute for Scientific Information (ISI), atual Thomson Scientific, apresenta taxa média de rejeição de 40%, segundo seu editor Charles Pessanha. Não se tem dados para o universo de periódicos nacionais, nas ciências humanas, que nos permitam fazer comparações compatíveis com o tempo de existência de História, Ciências, Saúde – Manguinhos e com a maturidade das áreas de conhecimentos às quais está ligado. Ainda assim, nosso índice crescente de rejeição está longe de configurar uma endogenia, distorção característica de periódicos com sistemas de avaliação fechados, em que os referees pertencem à mesma instituição que os edita.

Revista em papel e eletrônica: coexistência ou transição?

Além de decisões difíceis com relação ao que publicar ou rejeitar, vivemos nos últimos anos os desafios impostos pela versão eletrônica da revista. A facilidade do acesso ao novo suporte e a ampliação do alcance das informações nele veiculadas são ganhos indiscutíveis. Os gastos não mudaram muito. Se, por um lado, enxugamos despesas com a remessa de exemplares em papel pelo correio, por outro utilizamos os valores economizados na formação de pessoal para trabalhar com as novas linguagens e tecnologias, na aquisição de equipamentos, na compra de serviços de digitalização de arquivos, de criação de nossa web, no aprimoramento do banco de dados eletrônico que gerencia o cotidiano da redação.

Um dos aspectos problemáticos dessa transição, que requer acomodações entre o veículo impresso e sua versão digital, continua a ser a incerteza sobre a durabilidade dos arquivos eletrônicos, considerando-se a rápida obsolescência dos equipamentos e softwares.

A coexistência dos formatos impresso e eletrônico suscitou, a princípio, dúvidas quanto à linguagem mais adequada ao novo suporte e à apresentação gráfica da revista. Seria desejável manter, na versão digital, as mesmas características da edição impressa (como ainda fazemos), mesmo que isso resultasse em páginas virtuais mais pesadas, com acesso mais lento aos artigos, ou conviria partir para uma proposta diferente tanto do ponto de vista estético como no tocante aos conteúdos acessíveis online? A questão foi superada em parte com o acesso rápido à Internet via banda larga e com a possibilidade de se comprimir arquivos ou convertê-los para formatos mais leves, na versão eletrônica da revista. Permanece, no entanto, a questão sobre o que veicular 'a mais' nela, de modo a tirar mais proveito das ferramentas oferecidas pela Internet.

Uma das decisões tomadas em 2006 foi convocar os editores da revista para que escolhessem, entre os trabalhos publicados nos últimos três anos, aqueles que ganhariam versão em inglês na revista eletrônica (na edição impressa, os seis artigos escolhidos circulam apenas em português).

O convívio dessas duas personas coloca também em pauta questões como as possibilidades de enlaces (links) de artigos uns com outros ou mesmo com referências citadas; a utilização de recursos como hipertextos, animações em vídeos, sons etc.

Em julho de 1994, quando lançamos o primeiro número impresso de História, Ciências, Saúde — Manguinhos, despontavam os primeiros periódicos científicos eletrônicos. A novidade foi saudada pelas comunidades de pesquisa dos Estados Unidos, da Europa e de países emergentes. Esperavam que aquela inovação ampliasse a visibilidade da literatura científica, especialmente a dos países mais pobres, e reduzisse os custos de produção ao excluir etapas caras do processo editorial, como a impressão em papel e as remessas por correio.

As comunidades de cientistas foram as primeiras a usufruir das facilidades da Internet, o que indiscutivelmente contribuiu para mudanças significativas no cenário global da comunicação, como demonstrou Briquet de Lemos (nov. 2005). Chegou-se a pensar que o periódico eletrônico libertaria completamente os pesquisadores do antigo sistema de publicação inaugurado 300 anos antes, em 1664, quando surgiram os pioneiros Journal des Sçavans e Philosophical Transactions. No entanto, não aconteceram mudanças revolucionárias no formato nem no sistema de publicação no novo suporte eletrônico. Houve, inclusive, um aumento de até 58% nos preços de assinaturas de periódicos entre 1998 e 2003 (House of Commons, 2004). Dentre as razões estão os contratos entre as agências publicadoras ou empresas que vendem assinaturas e a clientela. Em geral, os pacotes contendo títulos de periódicos impressos e a possibilidade de acessá-los na Internet custam de 10% a 30% mais que a assinatura apenas da edição em papel. Aliás, um dos efeitos dessa elevação de preços foi a restrição das compras por parte de instituições de pesquisa e universidades.

Até 2005, algo em torno de 11 mil periódicos científicos eletrônicos eram editados no mundo. Mas os números demonstram que o mercado editorial dedicado à comunicação científica tornou-se mais lucrativo e monopolista: em 2005, por exemplo, o grupo Reed Elsevier, uma das oito empresas que publicavam 70% da literatura médico-científica mundial, editava sozinho 2.600 títulos nessa área (Briquet de Lemos, 2005).

Por outro lado, estudos recentes, como o de Carol Tenopir (2005), mostram que as comunidades científicas passaram a ler mais artigos com o advento da Internet. Segundo a professora da Escola de Ciência da Informação da Universidade do Tennessee, dois terços do que lêem os pesquisadores provêm de fontes eletrônicas (o índice chega a 80% entre astrônomos).

Em nosso país, o colapso no acesso à comunicação científica por falta de verbas para adquirir assinaturas foi evitado graças ao Portal de Periódicos da Capes, um dos programas subsidiados pelo governo federal ao custo de R$16.280.139,00, em 2005. Por meio desse serviço, alunos, pesquisadores e técnicos de 135 instituições públicas tiveram garantida a possibilidade de ler os artigos veiculados em 8.515 revistas nacionais e estrangeiras. O valor do projeto equivalia a quase 50% das bolsas de estudos no exterior, no mesmo período (Briquet de Lemos, 2005).

Quase toda a literatura científica produzida no Brasil é publicada por instituições governamentais de pesquisa ou editoras universitárias que não visam lucro. A maior parte dos periódicos científicos originários daí tem réplica digital na Internet, seguindo o padrão de arquivos de acesso aberto e gratuito (Open Access). Trata-se, na verdade, de um movimento global, destacando-se entre os projetos em curso o PubMed Central, da National Library of Medicine dos EUA; o HighWire Press e o OAIster, da University of Michigan Digital Library; o African Journals Online e a SciELO (Briquet de Lemos, 2005; Packer, Antonio, Beraquet, 1998; Packer, 1998; Castro et al., 20 ago. 2006).

Mesmo com enorme potencial por explorar, já são notáveis os ganhos da veiculação de História, Ciências, Saúde – Manguinhos na rede de computadores, especialmente após sua inclusão na SciELO. O acesso a novos públicos resultou no crescimento do número de colaborações e na diversificação da origem dos autores, que tendem, assim, a não mais se concentrar tão acentuadamente no eixo Rio de Janeiro–São Paulo–Minas Gerais. O periódico passou a ser mais conhecido nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sul do país, e tornaram-se mais freqüentes as colaborações vindas de países das Américas, da Europa e do Canadá.

Além de ser uma biblioteca online de periódicos científicos, a SciELO adota uma metodologia inspirada naquela do Thomson Scientific, antigo Institute for Scientific Information (ISI). Esse indexador permite produzir indicadores estatísticos de citação e impacto de revistas e artigos de suas bases. Da mesma forma, a SciELO fornece o número de visitas e citações aos artigos de todas as revistas de sua coleção.

Verifica-se o impressionante crescimento do número de visitas aos fascículos e artigos da coleção da revista digital, a partir do momento em que passou a integrar a SciELO, em junho de 2000. O aumento demonstra o interesse crescente por assuntos veiculados na revista e confirma a afirmação de Tenopir (2005), de que as comunidades científicas passaram a ler mais artigos com o advento da Internet. Entre 2000 e 2003, o número de acessos aos artigos cresceu cinqüenta vezes, e nos últimos quatro anos subiu 2.500%.

A comparação entre as estatísticas relativas aos trabalhos submetidos à publicação e aqueles mais acessados na versão digital da revista mostra discrepâncias entre os interesses de quem nela publica e de quem a procura através do computador (Gráfico 10). Nos originais submetidos à publicação, o ranking temático é História da Medicina, História de Doenças, História das Ciências da Vida, História Natural e História Social da Cultura, este última quase ao mesmo nível de História da Saúde Pública. Entre os temas de maior interesse para os usuários da revista eletrônica, o primeiro lugar continua a ser História da Medicina, mas em seguida vêm História Natural, Área Psi, História das Doenças e História Social da Cultura. Como no âmbito da SciELO preponderam periódicos da área médica, História, Ciências, Saúde – Manguinhos parece ter conquistado aí leitores e eventuais colaboradores 'estrangeiros' à história e às ciências humanas em geral.

Outra ferramenta bibliométrica para medir o desempenho de História, Ciências, Saúde – Manguinhos combina duas variáveis: o número de citações que concedem seus artigos e as citações que recebe de outros periódicos do Portal SciELO.

Ao longo desses quase 13 anos, recebemos 222 citações, sabendo-se que 50,8% desse total são autocitações; a proporção é superior àquelas relativas a Cadernos de Saúde Pública, Dados ou Revista Brasileira de História, periódicos bem conceituados de três áreas distintas: são de 44,03%, 37,65% e 29,76%, respectivamente, as suas proporções de auto citação. Uma hipótese para explicar esse alto índice em História, Ciências, Saúde – Manguinhos é sua existência quase solitária, no Brasil, na subárea história das ciências da vida. Os autores que publicam, por exemplo, na Revista Brasileira de História encontram repertório muito maior de periódicos 'concorrentes' para desaguar sua produção, o que certamente contribui para multiplicar as citações recíprocas, inclusive no âmbito da produção de cada autor, ou seja, com maior freqüência, ele cita a si mesmo em outros periódicos.

No Portal SciELO, História, Ciências, Saúde – Manguinhos é enquadrado em duas categorias: Ciências da Saúde e Ciências Humanas. Observando-se o ranking das 35 revistas que o citam (num total de 222 citações) verificamos que os periódicos do primeiro conjunto (12) são responsáveis por 25,22% das citações, cabendo à área de Saúde Pública 18,01% e, especificamente, às revistas Ciência e Saúde Coletiva e Cadernos de Saúde Publica, 10,81% e 5,85% respectivamente. Os periódicos da área de Ciências Humanas (19) são responsáveis por 21,62% das citações feitas à revista. Os restantes 2,36% provêm das Ciências Exatas da Terra e das Ciências Sociais Aplicadas.

Quanto às 4.276 citações concedidas pelos autores de História, Ciências, Saúde – Manguinhos, selecionando-se apenas os cem primeiros periódicos citados, verificamos que 50,77% das 1.810 citações destinam-se aos das Ciências da Saúde e 28,89%, aos periódicos das Ciências Humanas. Entre os 13,99% restantes, predominam jornais da grande imprensa (fontes primárias dos autores) e revistas de divulgação científica.

Uma das ferramentas mais importantes para se avaliar a eficácia das revistas e a relevância científica de seus autores é o chamado fator de impacto. Para cada periódico de sua coleção a SciELO calcula este índice: toma um ano como base e calcula a razão entre o total de citações recebidas no biênio ou triênio que o antecede e o total de artigos publicados no mesmo período. O Gráfico 12 e a tabela 2, que apresenta os valores utilizados para sua formulação, mostram como evoluiu o fator de impacto da revista desde 2000 – ano em que foi incluído na SciELO. Observa-se notável aumento para o triênio 2000 a 2002, o que talvez se possa atribuir, em parte, à qualidade dos dossiês e números temáticos veiculados no período: transgênicos, darwinismo, ciência e os naturalistas viajantes e, ainda, saúde pública e poder na América Latina. Números temáticos tendem a atrair contingentes mais elevados de leitores, que não apenas lêem o que se publica, mas publicam e citam eles próprios, em outros lugares, ao passo que os números correntes da revista, com repertórios diversificados de assuntos, em geral capturam menor proporção de leitores 'citantes'.

Calculando-se a razão entre o total de citações recebidas e o de artigos publicados num mesmo ano obtém-se um índice correlato, que mede a rapidez com que a revista exerce o seu impacto. Os dados mostram que 2003, ano base do triênio em que tivemos fator de impacto mais elevado, foi também o de maior índice de imediatez: as citações recebidas corresponderam a 7% dos artigos publicados então.

Não há como avaliar a magnitude dos fatores de impacto de História, Ciências, Saúde – Manguinhos sem compará-los com os de outros periódicos, diligência que esbarra em diversos problemas. O ideal seria comparar periódicos semelhantes quanto a temática, periodicidade, tempo de publicação, público-leitor potencial etc., mas as coleções disponíveis na SciELO não permitem que se obtenha este ideal. O Gráfico 13 retrata as diferenças entre os fatores de impacto para o ano base 2003 de alguns periódicos das duas áreas a que se filia à revista, usando-se como termo de comparação não o elevado índice obtido pela revista naquele ano, mas sim a média dos fatores de impacto dos triênios registrados no Gráfico 11. Verifica-se considerável discrepância em relação a dois periódicos que estão entre os de melhor desempenho nas estatísticas da SciELO.

O fator de impacto dos Cadernos de Saúde Pública, no triênio assinalado, é 5,07 vezes maior que o de História, Ciências, Saúde – Manguinhos, e o da revista Dados, 4,83. O número de acessos aos artigos de cada periódico ajudaria a explicar tamanha diferença? No caso de Cadernos de Saúde Pública, sim, já que é 9,25 vezes maior que as visitas aos artigos de História, Ciências, Saúde – Manguinhos. mas esta variável revela-se inútil para explicar a desvantagem em relação a Dados, uma vez que, no período considerado, tem apenas 1,27 acessos a mais que História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Este periódico está em situação comparável a de Estudos Avançados, e superior a da Revista Brasileira de História, cujo fator de impacto em 2003 é nulo, segundo as estatísticas de SciELO. Outra revista da área de ciências humanas – Mana – tem impacto 1,9 vezes maior que o de História, Ciências, Saúde – Manguinhos, não obstante os acessos aos artigos de nosso periódico sejam 1,62 maiores no mesmo período.

As diferenças no tocante ao impacto devem ser explicadas à luz de outras variáveis: número de fascículos de cada título disponíveis na coleção eletrônica, políticas editoriais, características das comunidades científicas a que cada periódico está atrelado, densidade de cada uma no que concerne ao número e à qualidade dos periódicos que dão vazão à sua produção científica.

Seja como for, os indicadores dos periódicos de maior prestígio acadêmico e a tendência observada nos indicadores de História, Ciências, Saúde – Manguinhos, são elementos que os editores devem levar em conta ao planejarem o futuro da revista no mundo cada vez mais competitivo da ciência 'em ação'.



Conclusões

Ao realizarmos esta investigação, nosso objetivo foi analisar a trajetória de História, Ciências, Saúde – Manguinhos em seus 12 anos de circulação, especialmente as mudanças observadas nos repertórios de textos e imagens, nos meios tecnológicos pelos quais é veiculado e na eficiência com que articula os universos de leitores e colaboradores e as comunidades científicas às quais está ligado. Como tem lugar proeminente entre os poucos, no Brasil, que se dedicam à história das ciências e da saúde, não nos parece arbitrário supor que constitui bom espelho das tendências em curso numa área do conhecimento em expansão entre nós. Aos pesquisadores dessa área, sobretudo aqueles que se formam nos cursos de pós-graduação, este artigo fornece boas indicações sobre períodos e temas que precisam ser mais explorados. Diríamos até que encontrarão aqui valiosos subsídios para aprofundar análises comparativas sobre o estado da arte nesse campo, no que tange a períodos e temas predominantes.

As considerações feitas no presente artigo trazem também subsídios para os profissionais que se dedicam à avaliação da literatura produzida em história das ciências e da saúde ou, mesmo, no terreno mais vasto das ciências humanas. Temos em mente, sobretudo, os comitês de avaliação das agências de fomento, da SciELO e de outros indexadores e bases de dados de periódicos científicos. Talvez sua principal contribuição seja mostrar que, ao examinarem periódicos e julgarem a conveniência de apoiá-los ou não, devem levar em consideração seu papel polinizador de áreas emergentes do conhecimento, ou ainda seu valor para a disseminação de trabalhos de qualidade, originários de regiões do país e do continente que ainda lutam para marcar presença em territórios já ocupados do conhecimento.

A reflexão feita aqui é importante para os editores de História, Ciências, Saúde – Manguinhos e até mesmo para os de outros periódicos: certamente vai ajudá-los a enxergar com mais clareza a política editorial a seguir, bem como problemas que clamam por soluções, especialmente no tocante à transição ou coexistência do papel com o digital. Acreditamos que a leitura do presente trabalho será proveitosa para nossos leitores e colaboradores, uma vez que encontrarão um retrato íntimo de uma revista que estão habituados a folhear como produto acabado e não-problemático.



NOTAS

1 Os gráficos apresentados neste artigo foram elaborados pelo estatístico Alcides José de Carvalho Carneiro, gerente de sociodemografia do Instituto Pereira Passos, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.

2 A versão eletrônica também pode ser acessada em http://www.coc.fiocruz.br/hscience.

3 Em novembro de 1989, o primeiro número dos Cadernos da Casa de Oswaldo Cruz foi publicado. Sem periodicidade definida, o precursor de História, Ciências, Saúde – Manguinhos circulou mais uma vez em 1992, em edição especial, com novo título: Cadernos de História e Saúde. Também circularam, no começo dos anos 1990, os Estudos de História e Saúde, apostilas contendo um artigo por edição.

4 O indexadores aos quais História, Ciências, Saúde — Manguinhos está associado são:

• Medline-Pubmed (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi), base de dados de acesso livre;
• Historical Abstracts e America: History and Life (http://www.abc-clio.com);
• Hispanic American Periodicals Index (HAPI) (http://www.hapi.gseis.ucla.edu);
• Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) (http://www.bireme.br);
• Citas Latinamericanas en Ciencias Sociales (Clase) (http://www.dgbiblio.unam.mx);
• Social Planning/Policy & Development Abstracts (CAB Abstracts) (http://www.cabi.org);
• Sociological Abstracts (http://www.csa.com);
• Current Work in the History of Medicine (The Wellcome Institutefo the History of Medicine) (http://library.wellcome.ac.uk);
• Base Bibliográfica em História da Saúde Pública na América latina e Caribe (Hisa) (http://www.coc.fiocruz.br/areas/dad/hisa/);
• Latintex – Sistema Regional de Información en Línea Para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal (http://www.latindex.unam.mx).

5 Em 2006, esse programa ganhou a parceria da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), e o investimento conjunto, da ordem de R$4,8 milhões, passou a ser distribuído entre pouco mais de uma centena de periódicos de todos os campos do conhecimento.

6 Uma análise do periódico que, de forma pioneira, tratou da história da medicina em nosso país, é feita por Mauro Amoroso em "Diálogos entre Clio e Asclépio: Ivolino de Vasconcellos e a Revista Brasileira de História da Medicina", também nesta edição.

7 A declaração está disponível em http://www.hispalc.fiocruz.br/espanol/declaracion/declaracion.htm.

8 Não se pode deixar de fazer menção à bela História das estatísticas brasileiras, cujo primeiro volume acaba de ser lançado (Rio de Janeiro, IBGE, 2006). Seu autor, Nelson de Castro Senra, vem, inclusive, desempenhando o papel de catalisador de saudáveis discussões a esse respeito entre os historiadores.

9 Artigos não são recusados necessariamente por falta de qualidade. Podem ser bons, trazer informações originais e consistentes, mas fugir ao escopo editorial da revista. Nesses casos, os editores muitas vezes sugerem aos autores que encaminhem o trabalho a outro periódico. Quando os pareceristas detectam problemas no texto, o autor pode reapresentá-lo, desde que acate as modificações sugeridas. Ao reapresentar a nova versão, o artigo passa por novo julgamento.

10 Outras análises sobre o tema que desperta polêmicas encontram-se em Harnad (25 apr. 2001, 2001); Davyt, Velho (mar.-jul. 2000); Bingham (1999); Smith (1999); Meadows (1999); Martins (2003) e Pessanha (1998).



BIBLIOGRAFIA

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