Rio -  Hoje é o Dia Nacional de Combate ao Câncer de Mama e O DIA abraça a causa, se colore de rosa até seu logotipo e encerra série especial, que trouxe aos leitores esclarecimentos sobre a doença. O diagnóstico de câncer muda a vida de qualquer pessoa e na reportagem de hoje contamos a história de Adriana Zurita. Ela ainda não venceu a doença, mas hoje se diz mais feliz e ainda consegue ajudar outras pessoas.
Adriana e a filha, Georgia, que a ajudou a descobrir tempero para aliviar a dor | Foto: Márcio Mercante / Agência O Dia
Adriana e a filha, Georgia, que a ajudou a descobrir tempero para aliviar a dor | Foto: Márcio Mercante / Agência O Dia
Em 2009, aos 50 anos, a transformação foi radical na vida da advogada. Ela, que já cuidou de mais de 40 escritórios no País, morava em apartamento grande e tinha carro de luxo, hoje vive de maneira simples, dá apoio jurídico a pacientes com a mesma doença de maneira voluntária, mas diz ser muito mais feliz do que antes. “Nunca tive tempo para nada. Eu só trabalhava. Não via minha filha e minha família. Me descuidei. Deus estava dando um sinal de que eu precisava descobrir um novo estilo de vida”, acredita ela.
. Mas a minha situação é muito complicada, tenho um carcinoma muito sério, a doença se espalhou para a bexiga, ureter, intestino, rins. Sempre contei com médicos maravilhosos, que sabem muito, mas eles não sabem tudo. Parece frase de efeito mas não é: ‘Nós temos o o conhecimento. Quem tem o poder é Deus’. Cada um chame isso de força ou o que quiser, mas tem algo acima, que ninguém consegue explicar”, diz. “Num dia de muito sofrimento, em que só sentia dor, descobri a cúrcuma, condimento muito usado na Índia e que protege o fígado. Minha filha me ajudou a fazer uma lavagem. Depois de pouco mais de duas horas, a sensação de alívio foi uma coisa maravilhosa, me senti limpa. Cheguei a ligar para o meu médico e ele simplesmente disse: ‘Tudo no seu caso e na sua vida acontece de maneira diferente. Se a cúrcuma funcionou, vamos lá’. E é claro que depois fui pesquisar obre o assunto. Descobri que a Universidade Federal de Santa Catarina tem vários estudos sobre o tema”, conta.
A rotina de Adriana está longe de ser fácil. “Já fiz 19 cirurgias e houve até períodos em que eu não podia fazer exames de sangue porque minhas veias sumiram. Mas a doença veio como uma missão na minha vida. Quando você chega nas clínicas ou hospitais, as pessoas não se olham, não se falam. Eu sempre chego rindo. Um dia, quando entrei na sala, disse: ‘Bom dia’. Um senhor retrucou: ‘Você pode me dizer o que esse dia tem de bom?’. Eu simplesmente disse: ‘Estamos vivos’. Na semana seguinte, ele apareceu todo arrumadinho para fazer o tratamento e passou a me cumprimentar e conversar. Também conheci uma executiva linda, 30 e poucos anos, casada e preocupada em perder o marido porque estava doente. Aconselhei que ela tirasse aquelas roupas formais, vestisse uma sandália linda, uma peruca e sorrisse”, lembra. “Tenho uma filha linda de 17 anos e uma mãe de 80. Se tudo o que estou vivendo servir para melhorar ou salvar uma única pessoa, meu sofrimento já valeu. O câncer tem cura”, afirma Adriana.
‘Voltei a usar biquíni e o primeiro mergulho no mar foi uma alegria só’
Em nossa série especial sobre câncer de mama, contamos a história de algumas mulheres que enfrentaram ou que ainda enfrentam a doença com garra e vontade de viver. A leitora Zoraide da Silva Santos, 44 anos, entrou em contato com o jornal e demonstrou seu desejo em dividir com outras pacientes sua própria história. Veja seu depoimento emocionado a seguir.
Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal
“Descobri que tinha câncer de mama aos 33 anos. Minha mãe teve o mesmo problema antes dos 40 e, por isso, eu já me prevenia fazendo exames de mamografia desde os 28. Receber a notícia é o pior momento, pois você acha que só vai viver até o dia seguinte.
Tudo acontece muito rápido. Em menos de um mês eu já tinha retirado o seio direito e feito a reconstrução. Olhar-se no espelho pela primeira vez, com a mama toda modificada, também é um outro choque. Eu pensava que nunca mais ia poder ir à praia, coisa que eu tanto gostava de fazer. Mas se há esse estranhamento, há também a incrível sensação de estar viva. Minha filha tinha apenas um ano e pouco nessa época, eu podia cuidar dela, ter um peito diferente do outro era algo secundário.
Em meio a coisas rotineiras como ter que comprar sutiãs diferentes, roupas diferentes, eu sempre me lembrava de que estava viva e bem. O período pós-cirúrgico me obrigou a ficar 15 dias sem tomar banho. Não consigo nem descrever o que foi a sensação maravilhosa de entrar debaixo do chuveiro depois disso, poder lavar a cabeça.
Quando você enfrenta uma situação como essa, passa a dar valor a coisas simples, saber o que é um problema real. Percebi que as pessoas iam reparar menos em mim do que eu imaginava. Voltei a usar biquíni e o primeiro mergulho no mar também foi uma alegria só.
Com 30 e poucos anos, separada, eu também pensava que não queria ficar sozinha e me perguntava se isso ia atrapalhar minha vida pessoal. Quando conhecia alguém, ia logo avisando da minha situação. A primeira vez que tirei o sutiã na frente de um homem depois de tudo isso foi bem mais fácil do que eu poderia imaginar. O fato de ter tirado uma mama, feito uma cirurgia reparadora e ter cicatriz nunca atrapalhou em nada minha vida sexual.
Em maio deste ano, depois de novos exames, fiz uma cirurgia preventiva e retirei a mama esquerda. Foi detectada uma lesão e me perguntei: ‘Vai começar tudo de novo?’. Durante cinco anos, vou ter que tomar um medicamento que inibe o estrogênio. Ele provoca uma série de reações. Enquanto várias mulheres reclamam por menstruar, eu sinto falta de menstruar. Se tenho um pólipo no útero, por exemplo, como muitas mulheres têm, já fico em estado de alerta. Estou sempre com a anteninha ligada.
Mas estou viva. Com um companheiro que me ajuda em tudo há três anos, com minha filha, Isabela, que já tem 12, e com amigos maravilhosos no trabalho. Às vezes, vou fazer alguma coisa e um colega até alerta: ‘Cuidado com seu peito’. Encaro tudo com normalidade e até me esqueço de que tenho que tomar alguns cuidados.
Sempre fui kardecista e depois de enfrentar essa doença me tornei uma pessoa muito melhor. Coisas pequenas me fazem feliz. Ouço música todo dia, faço caminhadas, adorei a criação do Parque de Madureira porque moro no bairro e antes ia caminhar na Lagoa Rodrigo de Freitas.
No momento em que você recebe o diagnóstico, a primeira pergunta que faz ao médico é: ‘Quanto tempo tenho de vida?’. Nunca me esqueço de sua resposta: ‘Se você não se cuidar, vou ao seu enterro. Mas se você se cuidar, você vai ao meu’. Era só um seio. E a vida é muito maior do que isso. Estou muito bem e sigo em frente, com o desejo de ajudar outras pessoas que enfrentam esse problema”.