Lola Benvenutti mantém blog em que
relata experiências com seus clientes.

Gabriela
Natália da Silva, ou Lola Benvenutti,
se formou no curso
de letras na
UFSCar,em São Carlos,
SP, mas optou por fazer carreira como garota de
programa (Foto: Felipe Turioni/G1)Ela tem 21 anos,
é recém-formada em l
etras pela Universidade Federal de
São Carlos(UFSCar),
exibe em tatuagens pelo
corpo frases de Gui marães Rosa e Manuel
Bandeira,
adotou como pseudônimo um nome que faz referência
a um
personagem do escritor russo
Vladimir Nabokov e assume, sem problemas,
ser garota de programa. Gabriela Natália da Silva,
ou Lola Benvenutti,
mantém um blog em
que escreve contos baseados
nas experiências com seus clientes e chamaa atenção
ao tentar quebrar o tabu do sexo. "Sempre gostei
de sexo, então
tinha um desejo secretode
trabalhar com isso e não há nada mais justo,
faço porque gosto", afirmou em entrevista ao G1.
Lola Benvenutti mantém
blog com histórias dos
clientes em São Carlos (Foto: Felipe Turioni/G1)
A
realidade de Gabriela sempre foi diferente da vida de uma parcela
das
garotas de programa que são universitárias e optam por se
prostituir
para manter as despesas com os estudos. "Tem uma
categoria nos sites de
acompanhantes que são de universitárias
e fazem isso porque fazem
faculdade particular e precisam pagar,
mas eu nunca precisei disso, sou
inteligente, fiz faculdade, optei
por isso, qual o problema?",
questionou.
Natural
de Pirassununga (SP), se mudou para São Carlos para
fazer faculdade,
mas por temer algum tipo de retaliação resolveu
manter sua identidade
como prostituta com discrição até concluir
o curso. "Fiquei com um pouco
de medo de isso reverberar de
alguma forma na faculdade, então achei
melhor terminar a
graduação para colocar o blog no ar", disse.
O
site recebe cerca de duas mil visitas por dia e é nele que Lola
posta
sua rotina como prostituta. Entretanto, vê diferença entre
sua história e
o fenômeno Bruna Surfistinha, pseudônimo de
Raquel Pacheco,
ex-prostituta que fez fama na internet
e teve sua história publicada em
livro e roteirizada em um filme.
"Ela teve uma vida diferente da minha,
com outras oportunidades",
Além
de manter seus contos e servir como contato entre seus
clientes, que
chegam a cinco por dia, o blog serve também para
levantar discussão
sobre o prazer no
sexo. "As pessoas são hipócritas, vivem de sexo, veem
vídeo
pornográfico, mas não falam porque têm vergonha. Um monte
de
mulher entra no blog e fala que adoraria fazer o que eu faço,
mas não
tem coragem; e dos homens escuto as confissões mais
loucas e cada vez
mais esse tabu do sexo é uma coisa besta".
Barreiras
Apesar
da escolha em ser uma profissional do sexo, Gabriela não
desistiu de
seguir carreira acadêmica ou dar aulas após a conclusão
do curso de
letras. "Também quero dar aula, mas por hobby, e
além disso também tem a
questão financeira, porque dando aula
hoje você quase não se sustenta",
analisou. "Acho que as duas
coisas são difíceis de casar, é muito
difícil que uma escola que
sabe o que eu faço me permita trabalhar com
eles, vou ter
que derrubar barreiras".
Ainda
este ano, ela pretende se mudar para São Paulo, onde
vai continuar
trabalhando como garota de programa e acumulando
um mestrado na
Universidade de São Paulo (USP). "Cansei um pouco
de São Carlos e agora
quero outras coisas, tanto que o mestrado
para o qual estou estudando é
na USP, converso com alguns
professores e quero pesquisar na área de
prostituição ou fetiche",
Esse
tipo de assunto, segundo ela, já é seu objeto de estudo
desde a
adolescência. "Desde os 14 anos estudo o sadomasoquismo,
que hoje está
ficando mais popularizado com ajuda do livro
'Cinquenta Tons de Cinza',
que é marginalizado para quem
curte, mas abriu um leque para as pessoas
que não
conheciam", explicou.
Lola Benvenutti considerava sua virgidade um fardo
(Foto: Reprodução/Lola Benvenutti
Interesse pelo sexo
O interesse precoce por sexo começou com uma vontade
íntima de deixar de ser virgem, o que considerava ser um 'fardo'.
"Desde os 11 anos queria me livrar desse fardo ,
mas perdi
a virgindade com 13 anos e a primeira vez foi péssima, com um
homem de 30 anos que conheci pela internet", relembrou.
No
início, Gabriela ficou em dúvida sobre o prazer causado pelo
sexo."Não
fiquei confortável, fiquei um tempo sem fazer pensando
em como era
possível as pessoas falarem tanto disso, mas aí
depois de um tempo eu
fui gostando e a percepção mudou",
Segundo
Gabriela, nunca houve um episódio em sua vida que
despertasse um
interesse incomum para sexo. "Todo mundo fica
me perguntando qual foi o
fato que desencadeou isso, eu
respondo que nada, meus pais foram ótimos, tive uma
ótima educação, entrei na faculdade direto, fiz uma boa
universidade e só", garantiu.
Relação com a família
Como
a personagem Tieta, da obra de Jorge Amado, Lola causa
alvoroço quando
retorna para sua cidade natal, mas a relação
com a a família atualmente é
estável. "Eu não vou muito pra lá,
sinto que toda vez que vou, levanto
uma poeira de discórdia
e os vizinhos ficam comentando.
Minha mãe já
desconfiava porque nunca pedia dinheiro para ela e a
relação foi muito
mais difícil porque ela se importa muito com o que os
outros dizem, mas a
gente se fala", disse.
Com
o pai, militar da reserva, há uma relação de respeito e
separação entre
Gabriela e Lola. "Meu pai ficou seis meses sem
falar comigo, eu achei
que fosse pra vida toda, mas aí teve a minha
formatura e ele veio. Na
ocasião, disse que a filha dele era a
Gabriela, não a outra, deixando
bem claro que não compactua
com isso. Mas ele ficou do meu lado e acho
ele um herói porque
não me abandonou", confessou.
Gabriela Natália da Silva, ou Lola Benvenutti, se formou
no curso de letras na UFScar (Foto: Felipe Turioni/G
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