Costa diz que propina na Petrobras é prática antiga
Paulo Roberto revelou para o juiz da delação premiada que as empresas construtoras é que determinam os preços das obras e as propinas distribuídas
No depoimento, o juiz Sérgio Moro perguntou se o esquema de propina e sobrepreço havia começado durante sua gestão. Costa responde: “Já acontecia antes de eu ir para lá, pois estas empresas trabalham para a Petrobras há muito tempo.” Segundo ele, foram os diretores das empresas que o informaram do esquema.
“Quando começou a ter projeto de maior porte na minha área, me foi colocado pelas empresas e pelo partido (PP, que o indicou) que desta média de 3%, 1% seria repassado ao PP e os 2% restantes iria para o PT. Isto foi me dito com toda a clareza”, narrou, acrescentando: “Eu só tinha contato com presidentes e diretores das empresas’’.
Segundo ele, as indicações políticas
estão relacionadas ao esquema de corrupção e repasse de dinheiro para as
legendas. “E as indicações para as diretorias, desde que me conheço
como Petrobras, foram sempre por indicações”, afirmou ele, que entrou
para a companhia em 1977, por concurso.
“Ninguém chega a general se não for
indicado, dentro das Forças Armadas. Então, as diretorias da Petrobras
(também é assim), quer seja nos governos de Sarney, Itamar Franco,
Fernando Henrique e Lula, foram sempre por indicação política”, afirmou o
delator.
Por força do compromisso de delação, Costa
revelou as empresas que participam do esquema: Camargo Correa, OAS,
Odebrecht, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Mendes Júnior. Ele ainda
afirmou que as construtoras “cartelizam todas as grandes obras”, desde
Belo Monte, Santo Antônio a Angra 3. “Ferrovias, hidrelétricas, portos,
aeroportos. Tudo”, completou. Ele explicou no depoimento que, entre os
custos indiretos e o lucro, as empresas acrescentavam entre 10% e 20% do
valor, adicionando ainda outros 3% de propina para os partidos
políticos e diretores. Na diretoria de Abastecimento, dos 3% de sobrepreço, 1% era para o PP, partido pelo qual foi indicado e 2%, para o PT. Ainda conforme o relato, do 1%, 60% ficavam com o partido; 20%, eram para as despesas burocrática; e 20%, divididos entre ele (70%) e o ex-deputado José Janene (30%). Após a morte de Janene, o dinheiro passou a ficar com doleiro Alberto Youssef.
No depoimento, Paulo Roberto disse que outras diretorias participavam do esquema de propina. Duas ligadas ao PT e uma, ao PMDB.
Delator citou ex-presidente do PSDB
Num dos seus depoimentos à Justiça Federal do Paraná, o delator Paulo Roberto Costa envolveu o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra no suposto esquema de corrupção. Segundo ele, Guerra recebeu dinheiro para que ajudasse a esvaziar uma CPI criada para investigar a Petrobras em 2009.
Na época, Guerra era senador por Pernambuco e integrava a comissão. Ele morreu em março deste ano, aos 66 anos, vítima de um câncer no pulmão e foi substituído pelo presidenciável tucano Aécio Neves no comando do partido.
De acordo com o jornal ‘Folha de S.Paulo’, Costa contou ter tomado providências para que o dinheiro chegasse ao senador do PSDB, que fazia oposição ao governo petista, mas disse não saber se ele recebeu os recursos.
No depoimento, o ex-diretor afirmou que empresas que prestam serviços à Petrobras tinham como objetivo à época encerrar as investigações da CPI, porque, disse ele, ameaçavam prejudicar os negócios com a estatal.
Em nota, o PSDB disse ao jornal que defende que todas as acusações feitas por Paulo Roberto Costa sejam investigadas. Já o filho do ex-senador, Francisco Guerra, afirmou que não tinha nada a dizer sobre a acusação, mas disse preservar o legado do seu pai “com muita honra”.
Escândalo vai influenciar o voto de 49%
Quase metade do eleitorado admitiu ser influenciado, neste segundo turno, pelo escândalo da Petrobras.Dos entrevistados pelo Datafolha, 49% disseram que a denúncia irá influenciar a escolha,sendo que para 30% a influência será grande e para 20%, haverá alguma influência. As denúncias não irão orientar a decisão de 43%. 7% não opinaram.
O Datafolha também perguntou aos entrevistados sobre o que sabem do escândalo. Do total, 80% tomaram conhecimento das denúncias e 66% acreditam nelas. Uma parcela de 26% não soube responder e 8% acredita que não houve repasse de recursos.
Para 64%, a presidenta Dilma Rousseff tem responsabilidade sobre os eventos. Destes, 38% acham que ela tem muita responsabilidade e 26% acham que tem pouca. Outros 18% eximem a presidenta de culpa no caso. 17% preferiram não opinar a respeito.
Outro lado: Empresas defendem investigação e criticam vazamentos seletivos
Todas as empresas citadas por Paulo Roberto Costa foram procuradas pela reportagem. A OAS informou “que exerce suas atividades com integridade” e é “pautada pela conduta ética e pelo respeito à legislação em vigor e que aguardará o fim das investigações”.
Já a Camargo Corrêa afirmou que “repudia as acusações sem prova” e garantiu que seus executivos não praticaram “nenhuma irregularidade.” A Andrade Gutierrez informou que as citações feitas à empresa “deixam claro que não há qualquer envolvimento da companhia com os assuntos relacionados às investigações”. De acordo com a empresa, Paulo Roberto Costa cita o nome de um ex-funcionário, que, “por atuar no setor de óleo e gás, era natural que mantivesse contatos de trabalho com funcionários da Petrobras”.
A Odebrecht nega “veementemente as alegações caluniosas feitas pelo ex-diretor, réu confesso em investigação em curso na Justiça Federal”, informa a nota. “A Odebrecht nega em especial ter feito qualquer pagamento ou depósito em suposta conta de qualquer executivo ou ex-executivo da estatal. A Odebrecht mantém, há décadas, contratos de prestação de serviços com a Petrobras, todos conquistados de acordo com a lei de licitações públicas.”
A empresa critica ainda os vazamentos à imprensa “de informações protegidas por sigilo judicial, as quais não se pode ter acesso integral”, e informa reiterar que “tem todo o interesse em que a verdade seja apurada com rigor — e está, como sempre esteve, à disposição das autoridades.”
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