LAVA JATO VAI INVESTIGAR IGREJAS EVANGÉLICAS POR LAVAGEM DE DINHEIRO
Brasília
- A Assembleia de Deus Ministério Madureira e seu presidente Samuel
Cássio Ferreira entraram na mira da Lava Jato. O plenário do Supremo
Tribunal Federal decidiu nesta quinta-feira manter a decisão do ministro
Teori Zavascki de março que determinou a remessa para o juiz Sérgio
Moro de investigação envolvendo a suspeita de lavagem de dinheiro para o
ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) por meio da Igreja e do
pastor.
No julgamento, os ministros da Corte rejeitaram
o argumento da defesa da igreja, que alegou que o caso deveria ser
analisado pela Justiça Federal em São Paulo, onde fica a sede da
Assembleia de Deus presidida por Samuel Ferreira.
O deputado afastado Eduardo Cunha é acusado de usar igreja Assembleia de Deus para lavar dinheiro
Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil
Essa investigação é um desdobramento da denúncia
criminal contra Eduardo Cunha por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro que o Supremo já aceitou no ano passado.
Na denúncia, a
Procuradoria-Geral da República aponta que o peemedebista teria usado a
igreja para operacionalizar o repasse de parte da propina de US$ 5
milhões recebida por ele referente à contratação de dois navios-sonda da
Petrobras. Na ação contra o peemedebista, Janot detalha as
negociações de Cunha e Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano,
apontado como operador do PMDB no esquema de corrupção instalado na
Petrobras, para receber o pagamento. O procurador afirma que o lobista
Julio Camargo foi orientado por Cunha a fazer “doações” para a igreja. A
Polícia Federal e a Procuradoria identificaram duas transferências em
agosto de 2012 para a Assembleia de Deus via empresas de Júlio Camargo, a
Piemonte e a Treviso, no valor de R$ 125 mil cada. O dinheiro teve como
destino uma filial da igreja em Campinas, no interior de São Paulo. Os
repasses tiveram como “falsa justificativa pagamento a fornecedores”. Na
acusação, o procurador afirma que “não há dúvidas de que referidas
transferências foram feitas por indicação de Cunha para pagar parte do
valor da propina referente às sondas”. O criminalista Antônio
Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende o pastor evangélico
Samuel Cássio Ferreira, considera desnecessário a abertura de inquérito
para investigar supostas relações da igreja evangélica com o deputado
Eduardo Cunha (PMDB/RJ). “Bastaria ter mandado um ofício para que o
pastor Samuel justificasse a doação. Evidentemente, ele não sabia a
origem desse dinheiro. São feitas doações pelo Brasil todo”, declarou
Kakay. A assessoria do deputado afastado Eduardo Cunha disse
desconhecer o caso e afirma, em nota, que o deputado não recebeu
“qualquer vantagem indevida de quem quer que seja”. Regalias de Cunha estão mantidas A
Mesa Diretora da Câmara decidiu que o deputado Eduardo Cunha, afastado
da presidência da Casa por suspeita de corrupção, terá direito a salário
integral de R$ 33.763,00, uso da residência oficial em Brasília,
segurança pessoal, assistência médica, carro oficial reserva e
transporte aéreo da Força Aérea Brasileira. O peemedebista também
terá R$ 92.053,20 para gastar com os funcionários. Só foi cortado de
Cunha a verba adicional de R$ 35.759,20 para atividade parlamentar
destinada ao pagamento, por exemplo, de aluguel de carros e passagens
aéreas — e o auxílio-moradia de R$ 4.253,00 (recurso que ele já não
utilizava por dispor da residência oficial). Num primeiro momento,
técnicos da Câmara do Deputados recomendaram que todos os benefícios
oferecidos a quem está fora do exercício do mandato parlamentar fossem
retirados. No entanto, aliados de Cunha pressionaram para que as
regalias fossem mantidas. Como o afastamento do peemedebista foi algo
inédito e não havia regras preestabelecidas, foi negociado um critério
de concessões que se assemelhasse ao oferecido à presidente Dilma,
afastada não por acusação de corrupção, mas por pedaladas fiscais.
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