6.17.2016

Em decisão histórica, federação deixa atletismo da Rússia fora dos Jogos do Rio


Rússia - Escândalo de doping no atletismo

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Yelena Isinbaieva, bicampeã olímpica de salto com vara, disse que todas suas vitórias foram "honestas, limpas e merecidas"; atleta fez apelo à Federação Internacional de Atletismo para não punir todos os atletas da modalidadePor: Misha Japaridze - 13.ago.13 13/11/2015
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Na mais rigorosa punição da história do atletismo, o conselho da Iaaf (entidade máxima da modalidade) decidiu, nesta sexta-feira (17), deixar a Rússia fora dos Jogos Olímpicos do Rio, de 5 a 21 de agosto.
O anúncio oficial será feito em Viena, capital da Áustria, após reunião da cúpula da associação, da qual faz parte o brasileiro Roberto Gesta de Melo, ex-presidente da Confederação Brasileira de Atletismo.
A decisão foi tomada de forma unânime, depois de analisar recomendações feitas por um grupo de trabalho. "Estamos mandando um sinal bem claro aos atletas e para o público sobre nossa intenção reformar nosso esporte", afirmou Sebastian Coe, presidente da Iaaf, em entrevista coletiva após o anúncio. "Embora tenha havido progresso, o conselho foi unânime que de não poderia voltar sem suscitar a desconfiança do público."
Segundo Coe, o objetivo é mostrar aos atletas que o envolvimento com doping é "inegociável". "Não houve questão política na definição. Foi claro e sem ambiguidade."
Trata-se da maior restrição de uma nação em um só esporte em razão de casos sistemáticos de dopagem. A Iaaf passou a definir e reconhecer doping em 1928, à ocasião da Olimpíada de Amsterdã. Em Jogos Olímpicos, a primeira edição a ter testes foi em Grenoble-1968, de Inverno, na França.
A Rússia é uma potência olímpica do atletismo. São 77 medalhas conquistadas. Se somadas às da antiga União Soviética, o montante total é superado apenas pelo dos Estados Unidos.
Além de referendar a manutenção da suspensão, a Iaaf também criou uma brecha para permitir que atletas russos compitam em eventos internacionais desde que "mostrem clara e convincentemente que não estão corrompidos pelo sistema do país" ou tenham feito extraordinária contribuição à luta contra o doping.
Isso diz respeito a competidores que vivam fora da Rússia ou estejam sujeitos a outros programas antidoping. Para requerer a permissão, eles têm de apelar à Iaaf, que pode concedê-la ou não.
Os atletas aprovados nesta brecha, porém, competiriam não sob bandeira russa, mas de maneira neutra. Delatora que impulsionou a investigação, a atleta Iuliia Stepanova foi citada como adequada ao caso. Rune Andersen, líder do grupo de trabalho que acompanhou o esforço russo para tentar derrubar a suspensão, disse ter feito uma recomendação favorável ao indulto a ela.
Outra atleta que poderia ser beneficiada é a bicampeã olímpica (2004 e 2008) Ielena Isinbaieva, do saltadora com vara. Ela jamais foi flagrada em exame antidoping e manifestou o desejo de competir nos Jogos do Rio.
Em novembro passado, uma comissão independente instituída pela Wada (Agência Mundial Antidoping, na sigla em inglês) revelou um amplo esquema estatal de dopagem, centrado principalmente no atletismo.
O sistema, em vigor por anos, envolvia atletas, técnicos, dirigentes médicos, o laboratório certificado pela Wada e até mesmo o serviço secreto do país. O relatório indicou, também, anuência do governo russo, que negou enfaticamente as acusações.
A base da investigação foi um documentário levado ao ar pelo canal alemão ARD, com delação de uma atleta e um ex-funcionário da agência antidoping nacional.
A comissão, que foi chefiada pelo canadense Dick Pound, presidente da própria Wada entre 1999 e 2007, recomendou o banimento preventivo do atletismo russo de todas as competições internacionais até segunda ordem –em reportagem publicada nesta semana, o jornal norte-americano "The New York Times" afirmou que a agência ignorou denúncia de uma competidora do país em 2012.
Por 22 votos a favor e apenas um contra, o conselho da Iaaf acatou a recomendação no mesmo mês e, desde então, atletas da Rússia não pôde disputar qualquer evento fora de seu território. Por sua vez, a Wada descredenciou a Rusada (agência nacional antidoping local), por não se mostrar em conformidade com o Código Mundial Antidoping.
"É decepcionante ter um caso como esse em um país da elite esportiva, como a Rússia. Mas é preciso entender a natureza humana. No caso da Rússia, houve uma continuidade da atitude que eles adotaram durante a Guerra Fria, quando existia a União Soviética", afirmou Pound em entrevista à Folha, em novembro.
A reação foi imediata. Isinbaieva criticou duramente a suspensão provisória. "Por que esportistas como eu, esportistas limpos, deveriam pagar por aqueles que tiveram práticas desonestas?", indagou em entrevista coletiva à época. Outros atletas de relevo, como o campeão mundial dos 110 m com barreiras, Sergei Chubenkov, aderiram ao coro.
Curiosamente, a saltadora em altura Anna Chicherova, que também se queixou em novembro, caiu no antidoping depois que uma amostra dela, fornecida nos Jogos Olímpicos de Pequim, acabou sendo testada novamente pelo COI (Comitê Olímpico Internacional).
Depois de determinada a suspensão, a Iaaf definiu uma série de medidas a serem tomadas pelo governo e pela federação russa de atletismo para que seus atletas pudessem voltar a participar de competições internacionais, incluindo os Jogos do Rio. A equipe já perdeu, entre outros campeonatos, o Mundial indoor de Portland, realizado em março.
A entidade também compôs uma equipe de trabalho para acompanhar a evolução dos trabalhos. Para haver readmissão, a federação russa teria de demonstrar que segue regras internacionais de doping, ser capaz de conduzir seu programa antidoping sem interferências externas e assegurar que a participação de seus atletas não irá afetar a integridade das competições.
No mês de março, esta força-tarefa divulgou um primeiro balanço sobre as iniciativas russas. Apesar de dizer que houve "significativo progresso" para que se cumprissem as demandas, o conselho da Iaaf ressalvou que ainda havia muito trabalho por fazer. No fim, decidiu manter a punição
Nesta quinta-feira (16), o ministro do Esporte da Rússia, Vitaly Mutko, disse que o país cumpriu todas as recomendações feitas.
A afirmação, entretanto, contrasta com um novo relatório divulgado pela Wada, baseado em quase 3 mil testes feitos no país entre 18 de novembro passado e 29 de maio deste ano, sob coordenação da Iaaf e da UKAD (agência antidoping britânica).
No documento, a Wada relatou que 736 controles tiveram problemas, como inépcia ou intimidação dos oficiais de controle, evasão do local de competição e erros no preenchimento dos formulários de paradeiro. Há relato de que um atleta tentou se infiltrar em sala de controle com uma bolsa contendo urina "limpa". Ainda assim, houve 52 casos positivos.
Andersen, líder da força-tarefa, endossou o relatório. "Apesar do progresso, muitos critérios não foram totalmente satisfeitos, como tolerância sistêmica ao doping, principalmente. Isso parece não ter mudado substancialmente. Além disso, vimos que o técnico principal da seleção e muitos atletas parecem não reconhecer a extensão ou ignorar as regras antidoping. E os testes [antidoping têm encontrado obstáculos [para serem realizados]", comentou.
Representantes da comissão de atletas do Comitê Olímpico da Rússia enviou, recentemente, uma carta ao COI em que pede apoio e clemência aos atletas sem infrações por doping. Eles querem ter chance de disputar os Jogos do Rio.
O COI fará uma reunião na próxima terça-feira (21) para definir critérios de elegibilidade e analisar a situação da Rússia.
É o segundo grande revés para o esporte do país por causa do doping em apenas nove dias. No último dia 8, a tenista Maria Sharapova, 29, foi suspensa por dois anos pela Federação Internacional de Tênis devido ao uso da substância meldonium, proibida desde o início do ano.
Ex-número 1 do mundo, vencedora de cinco títulos de Grand Slam, Sharapova afirmou que vai recorrer da decisão na Corte Arbitral do Esporte.

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