'Wikipedistas' guerreiam na internet pela produção de conteúdo
Visando compartilhar o saber, mesmo sem ganhar nada, eles brigam por espaço na construção da versão portuguesa do site
Wilson Aquino
Rio
- Por trás de muitos dos cerca de 30 milhões de artigos (ou verbetes)
encontrados na Wikipédia, existe um histórico de brigas, discussões e
divergências que não resultam em agressão física, porque o campo da
batalha é virtual.
Os editores da maior enciclopédia on line da história da internet,
conhecidos como wikipedistas, travam uma verdadeira guerra para que seus
pontos de vista prevaleçam sobre o dos demais, antes de publicarem
informações sobre determinados assuntos e pessoas. “Descobri uma
série de conflitos entre os que escrevem a Wikipédia. A briga de egos é
muito grande lá dentro. São visões editoriais e ideológicas divergentes e
isso molda a definição dos verbetes”, afirma a pesquisadora Camila
Machuy, 28 anos, cuja tese de mestrado na Universidade Federal
Fluminense (UFF) foi sobre o site. E as discussões são tão ásperas, que
muitos intelectuais perdem a linha. “No nível de um chamar o outro de
idiota e de analfabeto!”, relata Camila, lembrando de uma discussão que
durou mais de três meses sobre a formatação do texto. “O estopim era uma
questão de definição de parágrafo.” Nos bastidores da Wikipédia, o couro come e ninguém vê. A não ser que o usuário
acesse a aba “discussão”, onde os embates ficam registrados, para quem
quiser saber como a página chegou ao texto final, que nunca é final, já
que uma das vantagens da Wikipédia é a possibilidade de atualização, que
pode ser feita por quase todo usuário.
Equipe conquistou espaço como referência do saber
na internet no mundo, apesar de o público poder fazer alterações em
alguns conteúdos
Foto: Márcio Mercante / Agência O Dia
Limite
É claro que, apesar de se autoproclamar como enciclopédia livre,
determinados tópicos não podem ser alterados por qualquer um. “Há um
mecanismo de bloqueio de edição para que usuários anônimos não tenham
como editar e vandalizar artigos”, explica o coordenador do grupo
Wikimedia brasileiro, Rodrigo Padula, 32. Segundo ele, temas que
estão em evidência, como o impeachment da presidente afastada Dilma
Rousseff, e a Operação Lava Jato são mais monitorados e controlados. Em
15 anos, a Wikipédia venceu a desconfiança e se tornou referência do
saber. O site tem o maior acervo de conhecimento do planeta. Contribuição é avaliada como prova Pesquisador
do ambiente de construção de verbetes na Wikipédia, o professor de
Jornalismo e Publicidade Márcio Gonçalves, 40 anos, incentiva seus
alunos a se tornarem wikipedistas. E o conteúdo inserido vale nota.
“Meus alunos não entregam mais trabalho impresso, eles escrevem na
Wikipédia e eu corrijo lá. Não só eu, mas também outras pessoas que editam”, explicou Gonçalves. Para
o professor de Marketing do Ibmec/RJ, Bruno Garcia, o site se
consolidou como referência de pesquisa. “Como todo site colaborativo é
sujeito a erros e até má-fé. Mas o índice de problemas é muito próximo
das enciclopédias tradicionais, como a Britânica”, afirma Garcia. Com
quase mil artigos criados no site, o bacharel em Química e enxadrista
Otávio Saraiva, 34, afirma que escrever para a Wikipédia é um passatempo
maravilhoso. “É uma atividade que sempre procuro fazer no meu tempo
livre, seja na rua, pelo celular, ou em casa”, diz. Saraiva destaca que
além de contribuir com seu conhecimento, também aprende muito. “Uma das
vantagens da Wikipédia, além da acessibilidade, é a forma como o
conteúdo é apresentado, que cativa e atrai várias faixas etárias”,
elogia. Em outubro, acontece, no Rio, o primeiro congresso científico
brasileiro da Wikipédia. Seja o que Deus quiser.
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